O mundo está de ponta cabeça. A pandemia do Covid-19 arrasta toda a humanidade para um exame profundo dos sistemas econômicos e sociais e, principalmente politico, que norteiam nossa passagem no planeta Terra. As fronteiras estão fechadas para as pessoas, mas os mercados continuam interligados a explorar a catástrofe e comandando as ações dos líderes mundiais numa verdadeira orgia especulativa, onde a vida humana é apenas um número nos gráficos que apontam a derrocada do sistema vigente. Não tem capitalismo, nem comunismo e, muito menos socialismo – temos sim, a especulação e a hipocrisia, mesmo na pandemia, ditando as regras.

O cenário é caótico e as mortes vão se avolumando mundo a fora.

No Brasil não é diferente, mas é pior. O país se encontra de pernas para o ar e, diferentemente do resto do mundo, além de enfrentar a pandemia, temos que lidar também com o pandemônio que virou nossa república.

Num mundo de tantas palavras e conteúdos, de tantas ideias fantasiosas e de poucas verdades, de tanta inteligência artificial e nenhuma sabedoria fica cada vez mais difícil escrever algo que toque a alma do leitor brasileiro. Se escrevemos sobre política, acabamos de um jeito ou de outro, ferindo suscetibilidades. Se falamos sobre o Brasil nos dias de hoje, somos classificados e mesmo defendendo a Constituição Federal, nos chamam de esquerdopatas, vermelhos, comunistas, principalmente, se copiarmos ipsis litteris, o texto promulgado em 1988. Ou seja, num país de 210 milhões de jornalistas e especialistas em política, o destino de quem ousa pensar fora do contexto, pode ser a morte por inanição ou a mais completa incompreensão.

Nesse contexto, sempre gosto de revisitar minhas memorias e me transportar para o tempo da faculdade de jornalismo. O pequeno pátio com centenas de encontros, ideias fervilhantes, receitas para mudar o mundo e sonhos, muitos sonhos. No afã de encontrar respostas ou um tema que pudesse me inspirar um belo texto ou, pelo menos, algo mediano, que chegasse a criar um vínculo com o leitor, algo me chamou a atenção nas poucas frases que me saíam dos dedos – o termo, esquerdopata. Quando o usei, o Word não o reconheceu e o grifou de vermelho. Inseguro, corri ao google para me certificar – sou desses –, e encontrei a seguinte definição: “Esquerdopata é o esquerdista doentio, ou seja, com alguma paranoia ou outro tipo de deformidade mental. Infelizmente o ponto exato em que o esquerdista ultrapassa os limites e se torna um esquerdopata é difícil de se verificar”.

Agora, bem informado pelo senhor google – o pai dos burros modernos –, senti o desejo, quase jornalístico, de buscar um contraponto, uma oposição ao termo ou à psicopatia diagnosticada. Então, munido de coragem, voltei ao google e busquei o significado de direitopata, termo que, até então, nunca ouvi falar. Nem mesmo, nas ondas de comentários das redes sociais, onde a falta de elegância é quem dita as normas do mundo virtual.

Eis que, na minha busca, me deparei com o texto do professor Gílber Martins Duarte – Doutor em Análise do Discurso/UFU e Professor da Rede Estadual de Minas Gerais. Em sua definição, Gilber é bem sucinto: direitopata- a doença do atraso. De pronto, me identifiquei. Pois vejo, um mundo reacionário classificando quem pensa pela ciência, história, filosofia, arte e, até mesmo pela própria cultura, de esquerdopata. Mas afinal o que são os direitopatas? Pela definição Gilber Martins, direitopatas são aqueles que negam o novo e sonham com a volta às carroças.

Ouso, usar esse espaço para transcrever um trecho do artigo publicado pelo doutor Gilber: “… Em outras palavras, toda época teve e tem seus atrasos, toda época teve e tem seus conservadores, toda época teve e tem seus direitopatas, mas os que lutam, os que desafiam as trevas da consciência, os que desafiam os atrasos da vida econômico-sócio-política, os que ousam lutar pela transformação das relações de produção, mesmo que demore 100, 200, 300, 400, 1000 anos, sempre superaram épocas atrasadas em função de sistemas mais avançados. Os direitopatas, portanto, são apenas a doença do atraso que teimam em resistir ao científico, teimam em resistir ao superior, teimam em resistir ao racional, teimam em resistir ao lógico, teimam em resistir ao justo. Fazendo uma comparação, os lutadores socialistas livres querem viajar de supersônico, enquanto os direitopatas querem regressar às carroças…”

Em breve análise, esquerdopatas e direitopatas, são frutos do mesmo solo, porém, em árvores distintas. Mas, os dois oferecem os mesmos riscos à humanidade. São frutos tóxicos, que provocam reações extremas e impedem o diálogo. Algo, que se não se fizer presente, ninguém vai se ouvir.

O ideal é que tratemos nossas paranoias e atrasos com um pouco mais de leitura, de conhecimento e de respeito, antes que seja dado o primeiro tiro, pois depois disso, só sangue, dor e trevas.

Ainda é cedo para prever o cenário mundial pós pandemia, mas no Brasil , enquanto os dias avançam e o vírus se multiplica pelas periferias e favelas, a morte entoa um canto triste, além das perdas humanas, teremos também a morte da democracia. Vivemos um período, onde a mediocridade tomou o poder central e deixou evidente a contaminação de todo o sistema politico, envolvendo todos os pilares da república. O que vai nascer disso é uma incógnita.

O país do futuro, do evangelho, o celeiro do mundo pede socorro. E esse grito já tinha sido ecoado bem antes da pandemia chegar por aqui, quando em 2014, o mundo assistiu calado, ao golpe na nossa frágil e já adoecida democracia. Diante do silêncio, o fascismo, capitaneado pelo mercado financeiro e os meios de comunicação, cravou seus dentes vampirescos e sugou a esperança de nos tornarmos uma grande nação. Hoje, esse sangue já contaminado pela água de esgoto que invade as casas contaminou-se também com o vírus mortal chamado corona. Nossa fé já começa a fraquejar e o medo é a atitude mental que mais nos assombra. Estamos envergonhados diante de um mundo caótico.

O nosso “Messias” é incapaz de milagres, mas cotidianamente nos ameaça e, seguimos calados como gado que vai para o matadouro. O Brasil do combate a fome, à Aids e, de tantas riquezas, hoje é refém de um psicopata e sua família e, o pior disso tudo, é que todos sabiam, mas mesmo assim se calaram. Agora, só nos resta contar os mortos e rezar para não morrer pelo Covid-19 ou pelas mãos de um psicopata e, ou de seus aliados e seguidores.