Por Alethea Rodrigues

Ex-comerciante dedica a vida a auxiliar na recuperação de crianças sírias que nasceram com problemas causados pela guerra

Zakreia Al Mohammad deixou a Síria em 2015, no auge da guerra e se refugiou na Turquia, na cidade de Gaziantep, próxima à fronteira com sua terra natal. Por problemas pessoais se separou da esposa após alguns meses. Abalado com o divórcio e por ter sido obrigado a deixar para trás tudo que conquistou durante anos de trabalho como vendedor de roupas, o sírio teve a ideia de ajudar os refugiados de alguma maneira.

Surpreso com tantas notícias de crianças refugiadas sírias com deficiências físicas e mentais causadas por doenças que as mães adquiriram durante a guerra no período em que estavam grávidas, começou um duro trabalho para abrir uma pequena clínica e ajudar no tratamento dessas crianças.

O sírio conseguiu alugar um espaço bem pequeno no sexto andar de um prédio antigo perto do centro da cidade. Há cerca de seis meses trabalha sozinho na administração da Clínica Anees. O local foi equipado com brinquedos simples e aparelhos antigos, responsáveis pela reabilitação e melhora da saúde dos pequenos.

“Estamos caminhando pouco a pouco e mesmo com esse espaço minúsculo e com as condições financeiras bem limitadas já estamos atendendo 20 pacientes. Independente da simplicidade, tentamos desenvolver nosso trabalho da melhor maneira possível com ajuda de 10 pessoas, todas sírias, especialistas e voluntárias”, comenta Zakreia.

A clínica está batalhando para conseguir licença do governo para atuar legalmente no país – e a partir daí conseguir mais doadores, patrocínio e um espaço maior para atender as crianças de maneira confortável e digna. Apesar das dificuldades, o sírio garante que os tratamentos estão tendo resultados excelentes.

“As crianças frequentam o nosso centro todos os dias e gravamos vídeos para que os acompanhamentos sejam feitos. Tudo é enviado para as famílias e até o momento todos nós estamos bem satisfeitos e a evolução delas tem sido constante. Se Deus quiser conseguirei essa permissão do governo turco e tudo vai ficar um pouco mais fácil para nós”, ressaltou o sírio com bastante confiança.

O espaço atende meninas de 0 a 18 anos e meninos de 0 a 14. Segundo o proprietário, adolescentes acima de 14 não são aceitos por estarem passando pela fase de desenvolvimento sexual – e, de acordo com os pensamentos do Islamismo (religião que predomina tanto na Síria quanto na Turquia), não podem ter contato físico com mulheres consideradas estranhas.

Administrar e financiar a clínica tem sido uma tarefa difícil, mas Zakreia garante (com lágrimas nos olhos) que esses seis meses são apenas o começo de uma grande vitória.

“É um trabalho gratificante. Sou sozinho e esse projeto se tornou tudo em minha vida. Tenho certeza que daqui um tempo seremos a maior clínica da Turquia e poderemos amenizar a dor de milhares de crianças que terão o direito de viver a vida mais normal possível”.

Segundo dados do ACNUR (Alto Comissariado da ONU para Refugiados), a Síria é atualmente o país que mais gera refugiados no mundo – 6,7 milhões – em virtude da guerra que atinge o país desde 2011 – e que ainda parece longe de uma solução.

Por sua vez, a vizinha Turquia é o país que abriga mais refugiados no mundo (3,7 milhões, a maioria deles da própria Síria).

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