Por Victória Brotto /De Estrasburgo (França)

Para especialistas, decisões políticas e “adaptação do fluxo migratório” estão entre as causas da redução

O número de requerentes de asilo que chegam à Europa caiu 53,55% no período de janeiro de 2015 a dezembro de 2017.  É o que mostram os números divulgados pela Organização Internacional para Migrações (OIM) e pela Eurostat, órgão europeu de pesquisa e estatística.

De acordo com a Eurostat (veja aqui a tabela em inglês), os 28 Estados-membros da União Europeia receberam  1.322.844 requerentes de asilo em 2015; no ano seguinte, o número baixou para 1.260.908; e em 2017, caiu para 708.583.

Um fluxo de milhões de pessoas migrou dentro da África, Oriente Médio e também em direção à Europa a partir de 2015 – fluxo este conhecido como segunda grande vaga migratória do século. Situações como a guerra na Síria e a crise de fome na região africana do Sahel obrigaram milhões de pessoas a fugir de seus países.

“Existe uma ideia de que a maioria dos refugiados está abrigada no Norte do globo. Mas os números mostram o contrário: 85% das pessoas que fogem se refugiam em países em desenvolvimento, países estes extremamente pobres e que recebem pouco suporte para cuidar dessa população”, afirmou o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) em seu relatório anual, lançado em junho (leia aqui em inglês).

Ou seja, deste total, 15% – ou 1 pessoa dentre 4 – decide tomar rotas maiores e mais perigosas para se abrigar em regiões distantes, como a União Europeia, por exemplo.

De acordo com a OIM, este fluxo de refugiados em direção à União Europeia chega, principalmente, pelo mar Mediterrâneo. E desde o final de 2015, este fluxo também está diminuindo.

Em 2015, o órgão registrou 1.030.475 pessoas chegando a países como Itália, Grécia e Espanha. No ano seguinte  (2016), foram 392.929. E em 2017, 186.768. Ou seja, 852 mil pessoas (17.9%) a menos decidiram cruzar o Mediterrâneo para chegar à costa de países europeus no período de janeiro 2015 a dezembro de 2017.

Para o especialista em migrações Gonzalo Fanjul, cofundador da Fundación porCausa e coeditor do blog 35 Millones, do jornal El País, esta baixa é, na verdade, “uma adaptação por parte do fluxo de refugiados”. Perguntado pelo MigraMundo se esta adaptação era resultado das decisões políticas da UE de restringir o acesso às fronteiras, como fez a Itália, ele afirmou que “em parte”.

“Creio sim que a decisão de fechar a rota central do Mediterrâneo, recusando barcos de resgates, influenciou nessa adaptação de fluxo, bem como os acordos com a Turquia e a decisão do Marrocos de segurar os migrantes passando por seu território controlando as fronteiras depois que fechou um acordo de 55 bilhões de euros com a UE”.

Mas o que impressiona Fanjul é o fato da UE estar se “desmoronando” diante da questão. “Muitas outras regiões do mundo têm lidado com desafios humanitários muito piores, muito mais complexos e não desmoronaram como a União Europeia está desmoronando hoje diante da questão migratória”, afirmou.

Em artigo publicado em julho no portal Foreign Policy, Fanjul afirmou que “prioridades fora de lugar” estariam “distorcendo a moral da Europa e mudando as suas políticas a níveis nunca antes vistos”.

Para Smaïn Laacher, sociólogo, professor de sociologia da Universidade de Estrasburgo (França), o problema na questão migratória é o acolher.

“Quando os políticos dizem crise, eles querem dizer que há um problema. E qual é o problema? O de acolher. A migração não existe sem essa problemática, o acolher é substancial nos movimentos migratórios (…) e foi sempre um grande desafio para sociedades organizadas se posicionarem sobre a hospitalidade e a acolhida de movimentos migratórios”.

O artigo original pode ser visto aquí