“A Deusa cria o mundo, enche-o de energia e nutre a terra com criaturas e com a água, elemento vivificador. Ela emerge da morte e em seu corpo a nova vida começa. Ela não é a Terra(como será para os indo-europeus), mas o poder feminino capaz de se transformar em todas as formas vivas”Trecho do livro “A Deusa e os Deuses na Velha Europa”, de M. Gimbutas

“É sábio quem conhece os seus modelos profundos e é mais sábio ainda, quem pode pô-los ao serviço das melhores causas.”. – Trecho de “A Paisagem Interna”, de Silo.

O Encontro Sagrado no Feminino foi realizado no Parque de Estudos e Reflexão Caucaia, cidade de Cotia, com o objetivo de criar um espaço que abordasse temas do universo feminino. No formato de roda de conversa e oficinas os temas abordados foram a condição feminina, gênero e juventude, a condição feminina e as novas possibilidades no século XXI, o processo criativo e a Deusa Interior. Na sala de meditação foram realizadas práticas meditativas de contato com a força interna e bem estar aos seres queridos.

Mas afinal o que é a condição feminina? Seria uma identidade? Uma luta? Uma bandeira? Um estado de espírito? Uma força interna? A fonte da criação? O encontro com a Deusa Interior?

O Encontro, além de suscitar perguntas, buscou incentivar depoimentos e vivências das mulheres presentes, de distintas faixas etárias. Vários testemunhos sobre as pressões sociais na época da infância, juventude, maturidade e velhice foram compartilhados, além de relatos sobre conflitos cotidianamente vividos na cultura patriarcal.

Na oficina ‘Os sete dragões da criação’, que abordava o dragão como ser mitológico que representa nossa força criativa, situando-o em sete tipo de dragões. Tais forças podem estar a favor ou contra a criação, dependendo do manejo que se faça delas. A oficina transcorreu cheia de exemplos e alegorias que permeiam o mundo da criação e os impedimentos que surgem ao iniciar um processo criativo. Esse passeio por essas forças está conectado aos planetas, a astronomia e a astrologia e possibilitam observar como tais forças atuam e como direcioná-las a favor da criação.

A oficina ‘O encontro com a Deusa Interior’ foi uma experiência sensorial que estimulou todos os sentidos para tomar contato com a Deusa. Através de cânticos, exercícios de respiração e meditação que terminavam com o encontro de cada participante com sua Deusa, através de imagens de Deusas Celtas.

É fato que, a definição de ser mulher remete a ideia de uma construção histórica e social do feminino. O conceito de ser mulher é variável e pode transformar-se mediante a cultura, a classe social, à época, ao país e a religião. Para alguns o conceito de ser mulher se orienta pelo sexo biológico, entretanto muitas pessoas podem vivenciar a condição feminina sem ter nascido mulher. Ser mulher depende do contexto, do lugar e do tempo em que se vive.

Nos século XVIII e XIX muitos autores e cientistas influenciaram a concepção de um pensamento que depreciava as mulheres e a feminilidade. Adotou-se a perspectiva da mulher de natureza frágil e indefesa, inferior ao homem, voltada apenas a maternidade, impedindo a concepção de outros os papéis sociais, culturais e existenciais a serem desenvolvidos por mulheres.

Na atualidade, exige-se da mulher a adequação aos modelos de beleza, produtividade, competitividade e sobretudo eficácia. Sob o pressuposto de igualdade de direitos mesmo que as oportunidades sejam desiguais, cada dia mais as mulheres são pressionadas. À medida que as mulheres avançam no mercado de trabalho, no ativismo político-social, nas áreas de conhecimento e tecnologia, e nos mais diversos campos de atuação, mais cresce a pressão sobre seus corpos, seus afetos, seus comportamentos, assim como, cresce o rígido enquadramento do que é ser mulher e do que é ser feminina.

Dentre os vários feminismos e movimentos de mulheres, existem pensamentos e posicionamentos diferentes. Entretanto, todos eles têm pensado na garantia de direitos e oportunidades iguais; combater a discriminação, exigir respeito perante às escolhas das mulheres e reafirmar o clamor contra todo tipo de violência.

O Encontro Sagrado no Feminino criou um momento de pausa nessas sucessivas pressões, que nós mulheres estamos inseridas cotidianamente. Um momento cálido e afetuoso para pensarmos sobre o que a condição de ser mulher nos proporciona e o que há de sagrado no feminino. Essa pausa proporcionou em cada uma das presentes a oportunidade de repensar sobre a trajetória de vida percorrida. A tônica do Encontro foi a de repensar sobre as escolhas, mediante aos modelos impostos e também os modelos que queremos, meditando profundamente sobre a vida e buscando a reconciliação com ela. Essa pausa foi momento de reflexão, mas, sobretudo um compartilhamento sobre vivências da condição de ser mulher, como cada uma representava o sagrado e a feminilidade.

Cristiane Prudenciano – Mensageira de Silo
Mestranda em Ciências Sociais PUC-SP