Boaventura Monjane*

Conta com mais de 10 mil jovens militando ativamente em todo o Brasil. É o maior movimento social de jovens em construção no país, articulando a juventude do campo e da cidade e atuando em três frentes principais: territorial, camponesa e estudantil. O Levante Popular da Juventude é um movimento social de luta política que surge a partir duma iniciativa das organizações que compõem a Via Campesina Brasil, pela constatação de que as lutas de massa, que vinham tendo maior expressão no campo, precisavam ser estendidas para a cidade.

Ezequiela Scapini, da coordenação nacional do movimento, define o Levante Popular da Juventude como sendo “um movimento de rebeldia organizada”.

O trabalho de base é a metodologia que o Levante usa para fomentar a luta nos espaços onde os jovens não têm contato com a luta de massas. As células são a sua principal base organizativa.

Segundo Ezequiela, “era urgente que a juventude da periferia, por exemplo, tomasse protagonismo e se organizasse em articulação com estudantes universitários e os jovens do campo”.

A líder acrescentou ainda que “a burguesia não conseguiu pensar um projeto claro para o Brasil. Não democratizou os meios de comunicação e não fez reforma agrária. Nós estamos nos organizando para a juventude tomar o poder, conquistando um projeto popular para o Brasil”.

O processo de organização do Levante se inicia com a realização de acampamentos juvenis. Em 2006, realizou-se em São Gabriel, interior do Estado de Rio Grande do Sul, um histórico acampamento, em homenagem ao aniversário de Sepé Tiaraju, um índio guarani que liderou uma rebelião contra a invasão e dominação portuguesa e espanhola. O acampamento de São Gabriel é considerado um ato simbólico e fundacional para o Levante.

Distintamente de outros movimentos sociais, o Levante não realiza congressos e assembleias. “A nossa ferramenta são os acampamentos”, explicou Scapini, acrescentando que este método organizativo se inspira nos famosos acampamentos do conhecido Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, MST.

Com o decorrer do tempo o Levante foi se expandindo por várias regiões do Brasil. Em 2012, no acampamento de  Santa Cruz, Rio Grande do Sul, o Levante Popular da Juventude se proclamou um movimento nacional. Jovens de 17 Estados aderiram ao acampamento, realizado no âmbito da Feira Nacional de Agroecologia, do Movimento dos Pequenos Agricultores, MPA.

Em 2014, o Levante realiza o maior acampamento de jovens da história do Brasil, ao juntar 3200 militantes de 20 Estados, na cidade de Cotia, em São Paulo.

“O acampamento de Cotia tinha um outro caráter. As pessoas já estavam sendo mais militantes do Levante Popular da Juventude”, disse Ezequiela Scapini.

Frentes de luta

O Levante se estrutura em três frentes principais. A frente territorial, que trabalha com a juventude da cidade, principalmente as periferias; a frente camponesa dinamizada pelos jovens dos assentamentos do MST, Movimento dos Atingidos por Barragens e a Pastoral da Juventude Rural. A frente estudantil disputa hoje a União Nacional dos Estudantes, considerado um espaço importante de luta, para desafiar o modelo de universidade controlado pela burguesia.

“Queremos voltar a colocar os estudantes na rua para lutar, por exemplo contra a redução da maioridade penal, os cortes na verba de educação. Queremos que a universidade seja verdadeiramente popular”, disse Luana Vitorio, uma das líderes do Levante no Estado de Rio de Janeiro.

O Levante pretende continuar a popularizar o movimento e permitir que haja, por exemplo, a participação de mais negros e negras, jovens LGBT e outras minorias oprimidas.

Os coordenadores do Levante Popular da Juventude preveem realizar o terceiro acampamento Nacional em Setembro de 2016, onde se espera uma participação de mais de cinco mil homens e mulheres jovens.

“Temos uma relação umbilical com o MPA “

O Levante mobilizou mais de 100 jovens para o Primeiro Congresso do MPA, que decorre de 12 a 16 de Outubro, 2015, em São Bernardo do Campo (São Paulo). Suas bandeiras e gritos de ordem foram dominantes nos espaços do Congresso.

“Temos uma relação umbilical com os movimentos sociais, como o MPA. Estar aqui é uma forma de prestigiar este movimento e podermos intensificar a nossa articulação com a juventude camponesa. Comungamos as mesmas pautas: soberania alimentar, plano camponês. Poder popular”, explicou Ezequiela.

As ações e as pressões que o Levante foi premindo ao longo dos anos resultaram já em alguns ganhos concretos, nomeadamente a criação da Comissão da Verdade e Justiça, para investigar os crimes cometidos durante a ditadura militar no Brasil.

O Levante está igualmente na Secretaria Geral da União Nacional de Estudantes no Brasil.

Na manifestação de 16 de Outubro, no âmbito dos congressos do MPA e Central Única dos Trabalhadores (CUT), integrantes do Levante ocuparam a sede da Gazeta em São Paulo, (afiliada à Rede Globo), por considerarem que desinforma os brasileiros e apoia a corrente que propõe um golpe no Brasil. A rede Gazeta é propriedade de uma família (Lindenberg) e controla dois jornais impressos diários, um portal de notícias, nove rádios, quatro emissoras de TV aberta (afiliado à Rede Globo), entre outros negócios na área de comunicação.

* – Boaventura Monjane é jornalista e ativista social moçambicano. É estudante de doutoramento em Póscolonialismos e Cidadania Global no Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra. Email: boa.monjane@gmail.com