No encerramento do ano, a estreia de um filme causou um incidente político, mostrando a pontinha de um iceberg do que pode acontecer no futuro. A Entrevista, comédia sobre o ditador da Coreia da Norte, Kim Jong-un, produzido pela Sony Pictures, foi recebida com fúria pelas autoridades de Pyongyang, que desferiram ameaças à empresa e aos espectadores, ameaças de ciberataques. Assustada, a Sony adiou a estreia.

Então, quer dizer que um ditador da Coreia da Norte pode impedir a exibição de um filme nos EUA? Negativo, segundo o Presidente Barack Obama. Nenhum país pode censurar a liberdade de expressão dentro do EUA. Obama condenou o comportamento da Sony que, segundo o Presidente, deveria tê-lo consultado.

Encorajada pela Casa Branca, a Sony promoveu a estreia da película e nesse mesmo dia arrecadou um milhão de dólares. Quem viu a fita diz que não é nada demais, é mais um filme que debocha de políticos, como tantos outros. Naturalmente, a reação da Coreia do Norte deu viço a um produto que sequer estava no circuito principal.

O chocante desse episódio são suas consequências no campo da política internacional. A internet da Coreia do Norte caiu várias vezes desde então, o que leva a crer que o governo dos EUA haja ordenado um ciberataque ao país, não confirmado, mas crível. Por outro lado, vários países asiáticos proibiram o filme, incluindo a China, conferindo à Coreia do Norte inusitada importância, pela ameaça do uso da força – nuclear e virtual. Recorde-se que o uso da força é expressamente proibido pela Carta da ONU.

O precedente criado: houve agressões reciprocas realizadas, mas não declaradas. O meio virtual já é lidado como um teatro de guerra com poder de grande destruição contra sistemas virtuais. Hackers podem promover ciberterrorismo, a mando de Estados, grupos insurgentes ou organizações criminosas. Um ciberataque pode ser um ato bélico.

A enorme capacidade dos EUA de manipular e controlar as redes virtuais, incluindo a internet, torna-se um problema de segurança internacional para os demais países, cada vez mais dependentes das conexões virtuais. E esta é apenas a ponta do iceberg.