Em um período de cortes pesados em serviços sociais, é moralmente injustificável gastar com armas o dinheiro que deveria ser investido em criação de empregos e combate à pobreza.

Altos níveis de gastos militares europeus desempenharam um papel chave no desenrolar da crise de gastos europeia e continuam a minar esforços para resolvê-la, alega um novo relatório feito pelo Transnational Institute e pela Campanha Holandesa contra o Comércio de Armas (Dutch Campaign against Arms Trade).

O relatório “Armas, Dívida e Corrupção: Gasto militar e a crise europeia” (“Guns, Debt and Corruption: Military spending and the EU crisis”, sem tradução para o português) demonstra como os orçamentos militares pela Europa tem sido amplamente protegidos, em um tempo de severos cortes sociais. O gasto militar da União Europeia totalizou 194 bilhões de euros em 2010, o equivalente ao déficit anual combinado de Grécia, Itália e Espanha. Os últimos dados divulgados hoje pelo Stockholm International Peace Research Institute sugerem pouca mudança nessas tendências gerais.

O relatório revela como altos níveis de gasto militar em países como Grécia, Chipre e Espanha, no epicentro da crise europeia, tiveram um papel significativo em suas crises de dívida. Muito do gasto estava ligado à venda de armas por países credores como Alemanha e França.

Em Portugal e na Grécia, muitos dos grandes acordos de venda de armas estão sendo investigados por irregularidades sérias. Ainda assim, os países credores continuam a vender novos acordos para países devedores enquanto demandam cortes ainda mais pesados em serviços sociais.

O relatório argumenta que a resolução da crise vai requerer o cancelamento da dívida atrelada a acordos de armas corruptos e um redirecionamento do gasto militar para as necessidades sociais. Ele destaca pesquisas que declaram que gastos em educação e transporte público criam duas vezes mais empregos do que investimentos em defesa.

O autor do relatório, Frank Slijper, disse: “Os gastos militares globais ainda estavam em um recorde de 1,3 trilhão em 2011 apesar da crise econômica. Mesmo na Europa, a maior parte dos países ainda gasta mais do que há dez anos atrás. A única austeridade de que a Europa realmente precisa é uma que seja imposta sobre as indústrias bélicas e de armas.”

“Está na hora de Bruxelas e os estados membros da União Europeia reconhecerem publicamente o ‘elefante na sala’ da crise atual, e esse é o papel do gasto militar. Em um período de cortes pesados em serviços sociais, é moralmente injustificável gastar com armas o dinheiro que deveria ser investido em criação de empregos e combate à pobreza.”

O relatório “Armas, Dívida e Corrupção” foi lançado na União Europeia enquanto defensores em 30 países realizavam mais de 100 eventos ao redor do mundo para protestar contra os níveis recorde de gastos militares e pedir pela realocação dos recursos para programas anti-pobreza e de sustentabilidade ambiental. Para detalhes sobre o Dia Global de Ação contra o Gasto Militar, visite: www.gdams.org

Tradução: Thayná Moreira