Os humanistas olham em desespero para a economia do mundo.  Uma imensa parcela da população mundial vive na pobreza absoluta, vive para sobreviver, esperando que não adoeçam no dia de hoje.

Por outro lado, há um muito pequeno, minúsculo número de indivíduos que pode mudar tudo isso, mas que nada fazem. Uma recente reportagem da Pressenza mostrou que apenas 100 pessoas em todo o mundo ganharam 240 bilhões de dólares no ano passado, o suficiente para acabar com a pobreza em nível global por mais de 4 vezes.

Esta mesma elite sobre a qual escrevi na semana passada, controla bancos, a produção de armas, a imprensa e governos por todo o mundo. Não é uma elite que compartilha de uma mesma ideologia em termos de políticas públicas, mas suas políticas públicas são as mesmas: a posse pessoal de dinheiro é o valor mais importante. Alguns membros dessa elite pode até “dar” um pouco deste dinheiro ao mundo através de fundações de assistência, mas, essencialmente, esta caridade não visa o desenvolvimento econômico, havendo muitos casos de dinheiro assistencial que não afeta em nada a situação, pois não chegam às pessoas a quem seria destinado.

Além disso, o modelo econômico não valoriza o ambiente ou as gerações futuras, pois o consumo de novas mercadorias leva a uma exploração insustentável dos recursos naturais do mundo, à custa da destruição ambiental.

E o resultado de tudo isso poderá em algum momento ser positivo?

É claro que não. Então, aproveito esta oportunidade para lançar algumas imagens mentais. O tema deste ano do Fórum de Mídias Globais da Deutsche Welle em Bonn, na Alemanha, a ser realizado entre 17 e 19 de junho é “O Futuro do Crescimento: Valores Econômicos e a Mídia” e nele, a Pressenza irá realizar uma oficina com o nome de “Transformando a crise em oportunidade: Humanizando a economia”.

E como funcionaria uma economia humanista?

Em primeiro lugar temos que considerar quais são os valores do Novo Humanismo. Silo identificou seis pontos que caracterizam a “atitude humanista”:

  1. Colocar o ser humano como valor e preocupação central;
  2. Afirmar que todos os seres humanos são iguais;
  3. Reconhecer a diversidade pessoal e cultural;
  4. Buscar desenvolver novos conhecimentos além do que é aceito como verdade absoluta;
  5. Afirmar a liberdade de ideias e crenças, e
  6. Repudiar a violência em todas as suas formas.

Portanto, ao pensar em uma nova economia, manteremos estes pontos em mente.

Primeiro, quero esclarecer que não sou economista e não sei mais do que sabe o senso comum e do que diz a mídia alternativa e do que pesquiso na Wikipédia. Assim, para aqueles que são “experts” neste campo, minhas ideias podem parecer ingênuas, mas não peço desculpas por isso. Estamos iniciando uma nova página e imaginando uma nova economia e a transição para esta economia é tema de estudo para acadêmicos e políticos.

Questiono aqui alguns pontos que me preocupam:

  1. Por que um médico em algum lugar do planeta ganha mais do que um médico em outra parte do planeta?  Se o valor da vida humana é central, certamente um médico que salva vidas em um país deve receber a mesma remuneração que um médico em outro país.
  2. Porque aqueles que cultivam alimentos geralmente obtém uma compensação tão pequena por seu trabalho?  Sem comida nós todos morreríamos.  O mesmo poderia ser dito de quem produz roupas, sem as quais todos nós estaríamos nus.
  3. O sistema bancário nada produz e mesmo assim, aqueles que trabalham neste ramo estão entre os mais ricos do mundo.  Os bônus dados aos funcionários pelos bancos, obtidos pela especulação, é doentio e mais: este dinheiro não é do banco, é dinheiro dos clientes.
  4. Pegando o caso de um produto como o sabão em pó para lavagem de roupas, por exemplo.  Não importa qual marca você compra; todos contêm os mesmos produtos químicos.  Em alguns casos o produto é exatamente o mesmo e feito nas mesmas fábricas, mas alguns estão em embalagens cor-de-rosa com uma marca, enquanto outros estão em embalagens de cor laranja com outra marca.  Essas empresas gastam grandes quantidades de dinheiro para convencer os consumidores que um é melhor do que outro.  Que contribuição útil para a sociedade faz o dinheiro gasto em ações de marketing?
  5. Pode a terra ser uma commodity a ser possuída pelas pessoas?

Uma nova escala de remuneração reflete a escala humana de valores

Na economia do futuro, a remuneração deve refletir a contribuição que uma pessoa faz para o avanço da vida humana. Poderíamos então imaginar que as pessoas mais valiosas são aqueles que contribuem para o desenvolvimento e a sobrevivência dos seres humanos: médicos, enfermeiros, professores, agricultores, certos cientistas, etc.

 

Em seguida, há outros que talvez tenham um impacto ligeiramente menor: quem faz a roupa, quem faz a comida, aqueles que, fazem a limpeza e mantém nosso ambiente higiênico e aqueles que constroem casas as fazem funcionar, aqueles que trabalham em condições perigosas em minas, plataformas de petróleo, etc.

Talvez, então, venham aqueles que coordenam as atividades humanas, nossos representantes eleitos, gerentes, administradores, aqueles que trabalham em bancos e escritórios e que realizam funções que apoiem a sociedade como um todo, etc.

Logo viriam os fabricantes de tecnologia de consumo e dos produtos que precisamos para viver.

E assim por diante. Abaixo de todos na escala, infelizmente estariam aqueles que trabalham no marketing.

A lista não é exaustiva, mas com certeza há muitos outros tipos de ocupação a serem adicionadas para compor um quadro completo, mas a ideia da escala é clara.

Aqueles que compram e vendem ações para viver, aqueles que especulam, aqueles que nada produzem ficariam de fora do mercado de trabalho porque nada acrescentam à nova economia.

O novo valor central do trabalhador seria a eficiência, mas não em benefício do lucro das empresas, mas apenas para terminar seu trabalho diário o mais rápido possível!

Nesta nova economia não haveria o caso de alguém em uma extremidade da escala ganhando 10.000 vezes mais do que alguém no outro extremo; acadêmicos irão trabalhar nos detalhes.  Nós não propomos que o rico seja lançado para baixo, nas condições dos mais pobres.  Pelo contrário, os humanistas propõem que as condições dos mais pobres sejam melhoradas para atingir os mesmos níveis do mundo desenvolvido.  Não propomos também que tudo seja centralmente planejado, nem que o setor privado controle tudo.

Todos aqueles que podem trabalhar poderiam exercer sua função, e todos sentiriam orgulho no que fazem, sabendo que o que fazem é uma contribuição para seu próprio desenvolvimento e para o desenvolvimento da sociedade como um todo.  Todo mundo saberia que o planeta está sendo gerido de forma sustentável.  Um mantra para a nova sociedade seria “não vamos deixar o planeta para as gerações futuras em uma condição pior do que aquela em que encontramos”.

O mundo terá recursos suficientes para que a transição para uma nova economia seja feita porque na nova economia o orçamento militar será destinado a outros propósitos, tornando a erradicação da pobreza possível.  Com a erradicação da pobreza, a população mundial será estabilizada.

Os seres humanos são capazes de fazer qualquer coisa que possam imaginar – bem, talvez viajar à velocidade da luz esteja além de nossas capacidades.  Mesmo assim, se alguns de nós começar a imaginar como uma economia humanista poderia ser, isso funcionaria como força motriz em nossa consciência e, com o tempo, podemos fazer acontecer.

A Pressenza cobrirá o Fórum Global de mídia e tentaremos trazer para vocês a maior quantidade possível de materiais interessantes para começar a estimular nossa imaginação.

Tradução de Maurício Araujo.