‘Não existe outra saída a não ser adotar as negociações e respeitar o direito e a vontade internacional’, diz embaixador da Palestina no Brasil

Por: Eduardo Maretti, da Rede Brasil Atual

São Paulo – O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, venceu ontem (22) as eleições parlamentares em Israel, mas o resultado, com um surpreendente crescimento da centro-esquerda, pode refrear as ambições expansionistas do atual governo de direita e a estratégia de confronto com o Irã, adotada em discurso pelo premiê com bastante ênfase nos últimos meses.

O resultado indica “uma rigorosa divisão do Knesset entre partidos de direita e centro-esquerda, com 60 deputados para cada lado”, diz o jornalista e analista Alistair Lyon, na Reuters. O partido direitista Likud, de Netanyahu, e legendas menores que o apoiam devem manter a maioria no Knesset, o Parlamento, mas com divisão de forças muito mais equilibrada (e portanto menos estável) do que gostaria o atual governo: se os números preliminares se confirmarem, ele terá uma bancada de 31 deputados, somando o Likud e o nacionalista Yisrael Beitenu, em um total de 120. Sendo assim, seriam 11 deputados a menos em relação à atual bancada.

A maior surpresa foi o crescimento do partido de centro Yesh Atid, do jornalista Yair Lapid, fundado há menos de um ano, que conquistou 19 cadeiras. O Partido Trabalhista conseguiu 15 assentos. Os analistas avaliam que Netanyahu terá de decidir entre fazer alianças com o centro ou a extrema direita para se manter no poder. Como as eleições mostram uma tendência mais moderada da sociedade israelense, a segunda opção pode ser fatal ao primeiro-ministro.

O resultado pode significar mais um avanço para o Estado da Palestina, reconhecido pela Assembleia Geral das Nações Unidas, dia 29 de novembro, como estado observador.
‘Vontade Internacional’
“Acho que os israelenses e o governo renovado devem fazer uma leitura melhor tanto de sua situação interna quanto da situação global, tanto regional como em âmbito mundial. Não existe outra saída, como novo governo ou sem novo governo, a não ser adotar as negociações e respeitar o direito e a vontade internacional, sob a base das leis e de dois povos e dois Estados”, disse o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, à RBA.

Para Alzeben, a insistência de Netanyahu em não negociar seria “fugir dos compromissos”. “Ele não pode seguir fugindo dos seus compromissos com os seus vizinhos e com o povo palestino, que todo o mundo está apoiando. Eles não podem seguir nadando contra a corrente”, avalia o diplomata. Logo após o reconhecimento da Palestina como estado observador, o premiê israelense fez saber que planeja construir 3 mil habitações para seus colonos na Cisjordânia ocupada e em Jerusalém Oriental, contrariando compromisso feito por ele com o governo norte-americano de Barack Obama.

Sobre a influência da eleição nos assentamentos, Alzeben é cauteloso. “Houve certas mudanças substanciais nas eleições. Forças novas ascenderam, foram reduzidas forças de atores importantes. Vamos esperar a leitura que fará esse novo governo. A coalizão de Benjamin Netanyahu tem de respeitar a vontade do povo de Israel, que em sua maioria, acredito, quer a paz com os palestinos”, diz Ibrahim Alzeben.