A Líder de oposição Aung San Suu Kyi não ficou surpresa com sua condenação. Um tribunal em Mianmar deu a ela nesta terça-feira a sentença de três anos de prisão e trabalhos forçados. Que o líder supremo da junta militar que governa o país, Than Shwe, cinco minutos depois transformasse a sentença em 18 meses de prisão domiciliar, também não foi uma surpresa. Com isso ele tenta dar ao processo, que no mundo inteiro é visto como de fachada, uma aparência tolerável.

Mas uma condenação é uma condenação, e 18 meses é tempo suficiente para o real objetivo do processo: manter Aung San Suu Kyi isolada até após as eleições de 2010. Segundo a oposição, também as eleições são apenas fachada.

Os militares querem com isso dar um ‘molho’ democrático à sua ditadura. Mianmar – antes conhecido como Birma – terá um parlamento, mas a junta militar permanece com o poder. E eles não querem ter Aung San Suu Kyi por perto, que com sua força moral, sua autoridade e sua gigantesca popularidade certamente frustraria as eleições para os militares.

*Pena civilizada*

Que ela receba novamente uma sentença de prisão domiciliar não foi surpresa. Uma sentença de prisão apenas aumentaria as críticas internacionais contra Mianmar. Prisão domiciliar é uma pena vista como ‘mais civilizada’ e, acima de tudo, a medida traz vantagens para as autoridades. Na prisão Suu Kyi poderia, através de outros detentos, se comunicar com o mundo exterior. Em sua casa, todo contato com o mundo exterior pode ser cortado.

Suu Kyi sabe muito bem o que isso significa. Ela passou 15 dos últimos 20 anos em prisão domiciliar. Foi presa quando liderou grandes demonstrações pela democracia no país em 1988. Seu partido, a Liga Nacional pela Democracia, alcançou em 1990 uma estrondosa vitória sobre os militares. Suu Kyi seria primeira-ministra, mas os militares ignoraram as eleições, se agarraram ao poder e a mantiveram trancada atrás de grades.

*Prêmio Nobel*

A situação não mudou desde então. Aung San Suu Kyi recebeu em 1991 o prêmio Nobel da Paz e, desde aquele momento, a União Europeia, os EUA e a ONU não pararam de pedir sua libertação. Mas os militares ignoram todos os pedidos e as inúmeras sanções impostas ao país. Eles sabem o quanto a liberdade de Suu Kyi pode ser perigosa para a posição deles.

A ganhadora do prêmio Nobel passou a maior parte de seu tempo de prisão em sua casa, junto a um lago em Rangoon. O último período de prisão domiciliar durou seis anos e deveria ter terminado em maio. Mas a visita inesperada de um religioso norte-americano deu às autoridades a desculpa que procuravam para poder prendê-la por mais tempo.

*Visão*

O norte-americano, John Yettaw, um veterano do Vietnã e admirador de Suu Kyi, nadou numa noite de março até a casa dela e ficou lá por dois dias. Ele diz ter tido uma visão de que ela seria assassinada e queria avisá-la. Ele foi pego no caminho de volta. Sua estada na casa foi uma transgressão às regras da prisão domiciliar, segundo o tribunal, e por isso Aung San Suu Kyi foi condenada.

Suu Kyi declarou que apenas deu teto ao homem porque ele estava muito cansado da travessia a nado. Ela nega ter transgredido qualquer lei. Ela agora voltará para a casa onde se transformou num símbolo de perseverança e resistência inabalável.

John Yettaw foi condenado nesta terça-feira a sete anos de trabalhos forçados, entre outras coisas, por ter ‘nadado em local proibido’. Ele não teve a pena amenizada.

Michel Maas