Publicamos aqui a palestra de Jobana Moya na conferencia do eixo Migração, género e corpo no VII Fórum Social Mundial das Migrações.

“Bom dia a todos e todas.

Eu sou parte do coletivo de mulheres imigrantes e brasileiras, Equipe de Base Warmis, que faz parte do organismo internacional Convergência das Culturas do Movimento Humanista que se baseia na corrente de pensamento conhecida como Humanismo Universalista e nace na Argentina com o pensador Mario Rodrigues Cobos conhecido como Silo.

Somos voluntárias, não somos ONG e queremos transformar nossa realidade e a das mulheres imigrantes, melhorar as condições nas quais vivemos desenvolvendo e promovendo atividades em nossas comunidades baseadas na metodologia da Não Violência Ativa e a Não -Discriminação.

Aderimos a:
– A localização do ser humano como valor e preocupação central.
– A afirmação de igualdade para todos os seres humanos.
– O reconhecimento da diversidade pessoal e cultural
– O desenvolvimento do conhecimento acima do aceito ou imposto como verdade absoluta.
– A afirmação da liberdade de ideia e crenças
– O rechaço a todo tipo de violência (entre elas de psicológica, física, moral, económica, de gênero, religiosa, sexual, etc) e discriminação.

Porque os seres humanos imigramos? são vários motivos entre eles o fator económico, mudanças climáticas, guerras, porém o motor mesmo acredito sejam 2 temas: a sobrevivência e a procura por alcançar nossos sonhos, porque acreditamos que em outro lugar vamos encontrar as respostas que estamos buscando.

As mulheres imigramos para ajudar a nossas famílias a nossas comunidades, para lutar por um futuro melhor para nossos filhos.

Vivemos em um sistema capitalista onde as imigrantes e refugiadas somos des-humanizados nos tirando a dignidade.

Dignidade, algo que como imigrante nos negam quando se valoriza mais os produtos que os seres humanos ao passar as fronteiras, quando nossas vidas se vêm determinadas por sermos “ilegais”, quando somos discriminadas/os por nossa aparência e cultura, quando nos negam nossos direitos políticos, nos tiram a oportunidade de tomar nosso destino em nossas mãos.

Todos os dias vemos noticias falando sobre imigrantes e refugiados, porém falam de nós como se fala de objetos sem vida , sem historia, sem sentimentos, nos mostram como os inimigos que vamos roubar empregos. Porém os imigrantes terminam fazendo o trabalho que os locais não querem fazer, porque temos que sobreviver.

As mulheres imigrantes somos invisíveis nas cidades, poucas vezes ocupamos os espaços públicos por medo a ser discriminadas, a ser violentadas, temos medo por ser mulheres e muito mais por ser imigrantes.

Vivemos num sistema capitalista que quer que sejamos vulneráveis que estejamos desprotegidas, porque assim é mais fácil nos explorar.

Por necessidade nos vamos encontrando, por uma luta em comum queremos ser tratadas como seres humanos, queremos ter direitos.

Historicamente as mulheres temos tido o papel de transmitir nossas costumes e saberes, não e diferente como as mulheres imigrantes e refugiadas.

Manter viva nossa identidade cultural é também uma forma de resistência, acreditamos na valorização das culturas e o diálogo entre culturas..

– conhecer nossa cultura para valorizar as outras e não esquecer de onde vim para construir aonde vou

– o inimigo principal é o medo ao desconhecido

– ninguém escolhe onde nascer

– a migração visibiliza temas que não estão resolvidos nos países de recepção

– a luta das mulheres imigrantes para escolher como parir, direito de escolha sobre nosso corpo

Nós que aqui trabalhamos, construímos nossas famílias, novas amizades, que fincamos raízes nesta terra que escolhemos, queremos também construir junto com nossas irmãs e irmãos do Brasil um país melhor para todas as pessoas, inclusivo e participativo, onde os direitos humanos sejam efetivos e não fiquem só nos papéis.

Existe uma sentida necessidade humana para o encontro das culturas e de paz ao redor de um destino comum, que supere a violência, a injustiça, a dor e o sofrimento.

A Globalização é o controle social através dos Bancos e do Capital Financeiro Multinacional, a Mundialização em troca, é a busca das culturas e povos por encontrar-se num destino comum de respeito dos direitos humanos, de igualdade de oportunidades e de equilíbrio com o meio ambiente.

A Mundialização é uma aspiração dos povos pelo respeito dos diferentes costumes e crenças, é a aspiração de eliminar a guerra e olhar-nos aos olhos, sabendo que podemos resolver nossos conflitos e diferenças como seres humanos e não como selvagens que se destroem uns aos outros.

Antes de ser boliviana, paraguaia, peruana ou de qualquer outra nacionalidade, somos seres humanos. O ser humano não é ilegal, e as fronteiras que fecham o seu caminho devem ser eliminadas. Isto é possível e deve ser uma exigência dos povos para humanizar os Estados.

Fomos exploradas e explorados, porém não exploraremos. Fomos discriminadas e discriminados, porém não discriminaremos. Fomos maltratadas e maltratados, porém não maltrataremos.

Nos colocamos em pé frente a injustiça, a exploração e a discriminação.

Afirmamos a valentia, a compaixão e a solidariedade; despreciando a covardia, a insensibilidade e a violência das pessoas poderosas.

“A força não provém da capacidade física e sim de uma vontade indomável”. (Gandhi)

E as mulheres imigrantes têm uma vontade indomável. Apesar das distâncias mantém famílias unidas e mantém a fé no futuro aberto de nossas filhas e filhos.

Queremos estar lado a lado de nossos companheiros nesta luta e não atrás.

É o momento das mulheres imigrantes assumir o espaço que muitas vezes nos foi negado.”

Depois da sua fala, Jobana Moya convidou as mulheres imigrantes para o palco e leu o manifesto da Frente de Mulheres Imigrantes. Leia o manifesto na íntegra aqui.