FICÇÃO TELEVISIVA/MÍDIA DE TRANSMISSÃO

 Por Salah Uddin Shoaib Choudhury

Em 1939, o regime nazista da Alemanha, que estava sob comando do abominável Adolf Hitler, conduziu um programa chamado T4, o qual visava praticar a eutanásia em centenas de milhares de pessoas com autismo, síndrome de Down, ou qualquer um que eles considerassem ´inadequado´ para a sociedade nazista. Sob a “Lei para a Prevenção da Descendência com Doenças Hereditárias”, aprovada em 1933, o regime nazista mobilizou toda sua força para uma guerra contra as vítimas do programa T4.

Aproximadamente 80 anos depois da derrota dos nazistas na Segunda Guerra Mundial, bem longe da Europa, seus comparsas reapareceram para exibir sua força contra pessoas autistas. Em Bangladesh, o Partido Nacionalista de Bangladesh e o Jamaat-e-Islami têm se engajado ativamente na produção de filmes e propagandas antiautistas, apontando as crianças autistas como o “resultado do pecado”, demonstrando um paralelo problemático com a propaganda do nefasto Partido Nazista. Não é nenhuma novidade que o Jamaat-e-Islam está envolvido há muito tempo em defender outras doutrinas nazistas, como a antissemita e a que considera mulheres como seres inferiores aos homens.

Após cometer esse crime hediondo, o produtor, o escritor, o diretor e os artistas de um controverso programa de ficção na TV, chamado Ghotona Shotyo ou Ghotona Shotto, estão tentando mascarar tamanha maldade ao declarar que tudo não passou de um “erro” deles. Enquanto pessoas conscientes de Bangladesh e do exterior expressam indignação a respeito desse drama e pedem punição exemplar a todos os envolvidos nesse projeto infame, inúmeras organizações, especialmente de artistas, continuam a campanha em redes sociais declarando que os artistas que participaram no drama não estavam “cientes” do trecho controverso. Quanta farsa! Os líderes das organizações não sabem que a história de todo drama ou filme é inspirada em um tema? Nesse drama, o tema principal era apresentar as crianças autistas como o “resultado do pecado”. Ainda assim, tais declarações cegas dessas organizações têm exposto claramente sua decadência moral e sua tendência repulsiva a esconder a verdade sob frases bem elaboradas.

Os produtores desse programa de televisão asqueroso fazem parte da companhia chamada Central Music & Video Limited, que foi fundada e comandada por Helal Khan, um líder da frente cultural do Partido Nacionalista de Bangladesh.

De acordo com notícias da mídia, em um intervalo de somente 12 horas, mais de um milhão de pessoas assistiram, no canal do YouTube, ao programa que a companhia produziu. Embora a companhia alegue ter removido o conteúdo deplorável, na verdade, ele permanece disponível no YouTube como “privado”.

A história de Ghotona Shotto relata um casal que engana pessoas em seu entorno. No fim, a produção mostra que eles têm um filho com necessidades especiais e, em outra cena, o casal se pergunta se a condição do filho autista é resultado de suas maldades e pecados.

Os protagonistas foram interpretados por Mehazabien Chowdhury e Afran Nisho.

Após a transmissão do filme, Amrin Zaman, uma mãe, abordou pela primeira vez o assunto em uma live no Facebook.

Deve-se mencionar aqui que, em 2013, o governo elaborou uma lei que prevê prisão e uma penalidade financeira àqueles que intimidem, insultem ou machuquem os sentimentos da comunidade autista no país. Perante a lei, cometer bullying contra pessoas autistas constitui uma ofensa punível. Qualquer um que cometa tal crime está sujeito a três anos de prisão e multa de 500.000 takas de Bangladesh (BDT), aproximadamente 5.800 dólares estadunidenses.

Aqueles envolvidos na produção do filme, que oculta temas muito perigosos, planejam se safar apenas apresentando desculpas. Ao mesmo tempo em que muitos pedem clemência para eles, alegando que o fato de serem artistas os torna imunes a um processo por tal crime, é fácil perceber porque isso é moral e, logicamente, errado e ameaçador. Sanjay Dutt, um dos atores principais de Bollywood, foi sentenciado a mais de 42 meses de rigorosa prisão por envolvimento com armas. Nem o governo da Índia, nem qualquer outro cidadão responsável pediram sua soltura somente por ele ser um ator renomado. Essa foi uma mensagem clara para todos nos tribunais da Índia de que ninguém está, e nem deveria estar, acima da lei.

Enquanto a propaganda contra o governo de Bangladesh está correndo solta internacionalmente, a maior parte dela financiada e patrocinada pelo Jamaat-e-Islam e pelo Partido Nacionalista de Bangladesh, parece não haver coincidência que tamanho drama, motivado pelo mais cruel e horrível tema, tenha sido exibido. É preciso mencionar que o Primeiro Ministro Sheikh Hasina e sua filha Saima Wazed têm se engajado ativamente, há muito tempo, para normalizar a posição de pessoas autistas em nossa sociedade. Não é necessário um esforço mental para perceber por que aqueles que tentam difamar o governo de Bangladesh também adorariam minar os esforços de Saima Wazed e do Primeiro Ministro Sheikh Hasina ao empenharem-se em marginalizar as pessoas autistas da sociedade de Bangladesh.

Parece fácil ignorar e esquecer um filme da televisão, não importa o quão horrenda sua mensagem seja, porém deve-se lembrar que o Partido Nazista também começou sua longa e horrorosa jornada com filmes propaganda, produzidos em sua maioria sob a supervisão de Joseph Goebbels. O mundo, até mesmos os alemães, inicialmente ignorou as propagandas do Partido Nazista devido ao papel insignificante que ele tinha na Alemanha pré-nazista. Porém, contra todas as chances, o partido alcançou o poder e, uma vez no comando, transformou todos os seus filmes propaganda em realidade. Igualmente, devemos nos lembrar que o Partido Nacionalista de Bangladesh é um partido político e ainda existe uma possibilidade tangível de que alcance o poder em Bangladesh. Quando o fizerem, muitos de nós não teremos opção a não ser nos tornarmos meros espectadores enquanto o partido finalmente inicia suas perseguições contra as minorias, cometendo eutanásia contra pessoas autistas e com outras condições, materializando as doutrinas neonazistas que eles têm livremente cultivado por tanto tempo.

O artigo original pode ser encontrado no site de nosso parceiro: https://www.weeklyblitz.net/?s=Neo-Nazis+target+millions+of+autistic+children+in+Bangladesh


Traduzido do inglês por Laura Zanetti / Revisado por Graça Pinheiro