O enésimo apelo da Organização Mundial de Saúde é quase uma súplica aos países ricos, aos quais pede uma suspensão temporária das vacinações não-necessárias e a doação de tais doses aos países pobres. Uma mensagem precisa, destinada em particular a quem, como Israel, Alemanha e Estados Unidos, mesmo com a ausência de evidências científicas, decidiu prosseguir com a terceira dose, enquanto que nos países pobres cerca de 1% da população foi vacinada e as numerosas mortes de médicos e enfermeiros deixam ainda mais frágeis os já precários serviços sanitários nacionais.

A administração estadunidense rejeitou oficialmente o apelo da OMS e reservou 1,3 bilhão de doses até 2023, o que corresponde a cerca de 5 doses para cada cidadão americano.

O Canadá reservou 450 milhões de doses mesmo sendo um país com menos de 40 milhões de habitantes. A União Europeia, contando as doses já adquiridas e aquelas que chegarão, terá à disposição em 2023 3 bilhões de doses, o equivalente a cerca de 6,6 doses por pessoa.

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, se a porcentagem de pessoas vacinadas nos países do sul fosse similar àquela nos países ocidentais, as economias dessas nações teriam arrecadado 38 bilhões de dólares e ainda assim os países ricos teriam tirado vantagem disso de maneira significativa. Além do mais, a falta de vacinação nos países do sul favorece o surgimento e difusão de variantes virais ainda mais agressivas, em todos os lugares. Portanto, não apenas hoje se está cometendo uma enorme injustiça com relação às nações mais pobres, mas nos próximos meses, quem pagará as contas serão os próprios cidadãos das nações mais ricas.

Traduzido do italiano por André Zambolli, revisado por Cristiana Gotsis

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Vittorio Agnoletto, médico, especialista em medicina do trabalho, fundador e presidente da LILA (Liga Italiana da Luta contra AIDS) até 2001; porta-voz do GSF (Fórum Social de Gênova) em julho de 2001; de 2004 a 2009 parlamentar europeu; membro do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial; colabora com Libera no setor internacional; ensina “Globalização e Políticas da Saúde/Globalization and Public Health” na Universidade de Milão, faculdade de Ciências Políticas. Escreve sobre: saúde, direitos humanos, movimentos globais, Europa.

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