Às vésperas de visita de Putin à ilha, Duma ratifica acordo bilateral que prevê ainda injeção de US$ 3,5 bi na economia cubana; países voltam a aproximar-se após 20 anos de relações frias

por Redação RBA

 

São Paulo – A Duma, equivalente à Câmara dos Deputados brasileira no poder legislativo russo, ratificou na última sexta-feira um acordo assinado entre Rússia e Cuba que prevê a anulação de 90% da dívida de Havana com a extinta União Soviética, valor estimado em US$ 35,2 bilhões.

Além do perdão à dívida, o acordo prevê ainda que a Rússia invista na economia cubana valor equivalente ao reembolso do restante do valor da dívida, algo em torno de US$ 3,5 milhões, ao longo dos próximos dez anos. O dinheiro será transferido para fundos nacionais específicos de investimentos.

A ratificação ocorre uma semana antes de uma visita à ilha do primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, durante a qual buscará intensificar as relações comerciais bilaterais. Desde 2005, Rússia e Cuba têm buscado intensificar relações diplomáticas e comerciais, que estiveram estagnadas após a desintegração do bloco soviético, em 1991.

Dependente do petróleo fornecido pela antiga União Soviética desde os primeiros anos após a revolução de 1959, a economia cubana sofreu um grande baque com a dissolução do bloco socialista. Durante a maior parte da década de 1990, época que ganhou o apelido de “período especial”, a ilha lutou para manter o abastecimento de bens essenciais à população, como alimentos e produtos de higiene, em um enfrentamento solitário contra o embargo econômico mantido até hoje pelos Estados Unidos contra Cuba.

Os primeiros passos da recuperação vieram apenas a partir da colaboração com o governo bolivariano da Venezuela, instalado pelo presidente Hugo Chávez (1999-2012), que criou um novo canal de troca de petróleo por produtos e serviços, especialmente na área de saúde pública, por parte do governo cubano.

Aposta no futuro

A Rússia não é o único país emergente que busca estreitar relações com Cuba, que passa por fase de transição da política econômica do modelo atual, integralmente estatal e planejado, para um modelo misto, como o chinês, que permite empreendimentos capitalistas em áreas controladas do país. A perspectiva de que a economia de Cuba passe por um processo de abertura é visto como oportunidade única para países que disputam com os Estados Unidos, que mantém postura hostil em relação ao governo socialista de Cuba, uma fatia maior do Produto Interno Bruto (PIB) e da influência política global.

Em 2008, a Venezuela conectou a ilha ao backbone de internet, da estatal CanTV, oferecendo conexão de alta velocidade à ilha. A China aumentou consideravelmente o comércio com a ilha nos últimos anos, levando o saldo comercial com Cuba a cerca de US$ 2 bilhões anuais, contra menos de US$ 500 milhões em 2005.

Já o Brasil emprestou, por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), R$ 682 milhões para o Porto de Mariel, localizado na primeira Zona Especial de Desenvolvimento do país caribenho. A expectativa brasileira é que a ilha se transforme em entreposto preferencial de transporte marítimo de mercadorias no mar do Caribe nos próximos anos, e, com o empréstimo para a construção do porto, o governo garantiu participação de empresas brasileiras na operação.