Durante o fim de semana de 29 a 31 de agosto, o porto de Barcelona se tornou palco de emocionantes jornadas de apoio à Palestina, organizadas para despedir a Global Sumud Flotilla. No domingo, às 15h35, os barcos partiram rumo à sua missão, acompanhados pelo calor e pela força de centenas de pessoas que se aproximaram para mostrar sua solidariedade.
Com essa ação, e diante da inércia da maioria dos governos e instituições internacionais, a cidadania volta a demonstrar sua força e coragem para denunciar e contribuir para pôr fim a um dos genocídios mais atrozes de nosso tempo.
Os dias foram repletos de atividades: palestras de coletivos comprometidos, concertos, danças e encontros que transformaram o porto em um espaço de resistência, cultura e esperança. A participação maciça reflete o compromisso da sociedade catalã com a causa palestina e o apoio a esta iniciativa internacional que busca romper bloqueios e denunciar o genocídio em Gaza.
Para a preparação do evento, foi feito um apelo à colaboração, ao qual a população catalã respondeu de forma extraordinária: muitas pessoas se ofereceram para viajar nos barcos, outras abriram suas casas para hospedar os viajantes e não faltaram aqueles que se dispuseram a realizar tarefas essenciais, como cozinhar e cuidar da logística.
Um exemplo é o “Cuineres per la Pau Baix Montseny”, formado por duas cozinheiras e mais de 200 voluntários que prepararam a comida para os 350 tripulantes da Global Sumud Flotilla. A maior parte da comida provém de doações de pequenas empresas e produtores locais e, todos os dias, voluntários com camionetes transportaram a comida até os ativistas.

Imagens sobre a oficina de barcos de papel e a oficina de danças tradicionais palestinas.
Coletiva de imprensa
Entre os eventos do dia 31 de agosto, foi realizada uma coletiva de imprensa com a participação de membros da organização, como Saif Abukeshek e Thiago Avila, ativistas como Greta Thunberg, Yasemin Acar e Muhammad Nadir Al-Un, atores como Liam Cunningham e Eduardo Fernández, músicos como James Smith e políticos como a ex-prefeita de Barcelona, Ada Colau.

Imagens da coletiva de imprensa.
A ativista sueca Greta Thunberg, em sua participação na coletiva de imprensa, destacou:
“Os palestinos vêm repetindo seus apelos por justiça e liberdade e sua vontade de viver há muitas décadas e têm encontrado ouvidos surdos, mas, lentamente, pouco a pouco, cada dia mais e mais pessoas estão acordando e vendo as atrocidades absolutas, o genocídio, o massacre em massa que Israel está cometendo”.
“A história de hoje não tem a ver com a nossa viagem nem com a missão que estamos prestes a empreender. A história de hoje é sobre a Palestina, a história de hoje é sobre como as pessoas estão sendo deliberadamente privadas dos meios mais básicos para sobreviver.
Vemos como o mundo pode permanecer em silêncio e como aqueles que estão no poder, aqueles que supostamente nos representam, estão traindo e falhando de todas as maneiras possíveis com os palestinos e todos os povos oprimidos do mundo. Eles não estão cumprindo o direito internacional, não estão cumprindo os deveres legais mais básicos para prevenir um genocídio.
“Israel é muito claro sobre sua intensidade genocida, eles querem apagar a nação palestina, querem tomar posse da Faixa.
As pessoas têm que agir. Se isso não fizer com que as pessoas saiam do sofá e ajam, encham as ruas e se organizem, então não sei o que fará. Pessoalmente, estou horrorizada com o fato de que as pessoas possam continuar com sua vida cotidiana aceitando esse genocídio, assistindo a uma transmissão ao vivo do genocídio em seus telefones e fingindo depois que nada está acontecendo. Os palestinos foram desumanizados.”
“Esta história também é sobre a revolta mundial e sobre como as pessoas estão se manifestando. Para cada político que alimenta o genocídio, a destruição ambiental e climática, a colonização e o fascismo, haverá pessoas que intensificarão a resistência contra isso.
É por isso que estamos mobilizando pessoas de todo o mundo que vêm ainda mais fortes com dezenas de barcos, porque simplesmente não há alternativa. O povo palestino nos pede que atuemos e ponhamos fim à nossa cumplicidade”.

Participantes nas jornadas de apoio à Palestina. Apoio da associação Mundo sem Guerras e sem Violência às jornadas.
A ex-prefeita de Barcelona, Ada Colau, agradeceu à população com as seguintes palavras:
“A mobilização de Barcelona foi impressionante, o povo de Barcelona se mobilizou sempre que foi necessário; para acolher refugiados, para impedir guerras injustas e pela causa palestina, que é a causa da humanidade”.
“Muito obrigada a todos os cidadãos e aos movimentos sociais que fizeram com que instituições covardes, que não ousavam se mover, tivessem que se posicionar graças à mobilização cidadã”.
Em Barcelona, temos o orgulho de ser a primeira cidade de toda a Europa que rompeu relações com Israel já há três anos, graças aos movimentos sociais e aos cidadãos. Vamos exigir que o mesmo se concretize em todas as instituições e governos europeus.
“Existem apenas dois lados, o lado do bem e o lado do mal. Há o lado dos genocidas e o lado das pessoas que buscam defender a vida e os direitos humanos. Nós estamos do lado da defesa da vida e dos direitos humanos. Se Gaza não se rende, nós também não podemos nos render. Por isso, esta frota partirá cheia de esperança e poderemos dizer a Gaza que ela não está sozinha.”
Sobre a Global Sumud Flotilla
Após as tentativas frustradas de quebrar o cerco a Gaza — por mar com o navio Madleen, por terra com o Convoy Sumud e por ar com milhares de participantes na Marcha Global para Gaza a partir do Cairo —, os organizadores dessas três iniciativas decidiram dar um passo adiante. Assim nasceu a Flotilha Global Sumud, cujo objetivo é desafiar as violações dos direitos humanos sofridas por Gaza por meio de uma ação humanitária, coordenada e não violenta.
A Global Sumud Flotilla organizou uma ação de protesto com o objetivo de levar a maior quantidade possível de ajuda humanitária à Gaza e abrir um corredor que facilite a chegada de assistência por parte de países, organizações e instituições a um povo que precisa dela com extrema urgência. Para isso, dezenas de embarcações e centenas de ativistas estão partindo de diferentes portos do Mediterrâneo com a missão de romper o bloqueio imposto por Israel sobre Gaza em uma ação coordenada a partir de diferentes portos e com delegações de mais de 44 países.
Trata-se de uma ação legal e não violenta, os barcos navegarão com todas as autorizações necessárias em direção à Faixa de Gaza, sem entrar nas águas territoriais de Israel. Qualquer interceptação israelense constituirá um ato de pirataria. O objetivo é estabelecer um corredor humanitário que permita levar alimentos e medicamentos à população palestina, em cumprimento a um mandato das Nações Unidas, bem como denunciar o bloqueio, as táticas de fome e o genocídio do povo palestino.
A ocupação israelense mantém um cerco total por terra, mar e ar, isolando Gaza do mundo exterior. As passagens terrestres permanecem fechadas, o que torna a chegada da ajuda humanitária um processo cheio de atrasos, restrições e até riscos mortais. A frota procura contornar esses obstáculos por mar e enfrentar diretamente o bloqueio.
Em cada barco viajam pessoas com perfis muito diversos e funções específicas: pessoal de saúde, tripulantes, mecânicos, voluntários de apoio, bem como figuras públicas e delegações de diferentes países. Mais de 28.000 pessoas se ofereceram para colaborar de uma forma ou de outra na iniciativa, juntamente com as centenas que trabalharam na sua organização. No conjunto, trata-se de uma soma plural de vontades — de diferentes origens, credos e culturas — dispostas a arriscar a vida para deter o insuportável genocídio que Gaza sofre e contribuir com seus esforços para a liberdade da Palestina.
Barcelona foi um dos portos escolhidos para a partida da frota. Assim, neste domingo, 31 de agosto, às 15h35, despedimo-nos dos barcos que navegam rumo a Gaza entre cânticos que clamavam por uma Palestina livre. Foi uma despedida profundamente emocionante, acompanhada de abraços e dos melhores votos dos presentes. Um ato que nos colocou em contato com as melhores aspirações do ser humano, com aquilo que nos impulsiona a construir um mundo menos violento, mais digno, mais humano, com a força que nos leva a construir uma nação humana universal.







