Por Brett Wilkins- Common Dreams/CTXT

Um relatório da Brown University calcula as baixas diretas e indiretas causadas pelas guerras contra do Afeganistão, Iraque, Líbia, Paquistão, Somália, Síria e Iêmen desde 2001.

As guerras contra o terror pós-11 de Setembro poderão ter causado pelo menos 4,5 milhões de mortes em meia dúzia de países, segundo um relatório publicado no início de Maio pela eminente instituição acadêmica que estuda os custos, baixas e consequências das guerras em que as bombas e balas norte-americanas continuam a matar e ferir pessoas em inúmeras nações.

O novo relatório do projeto Costs of War do Watson Institute for International and Public Affairs da Brown University mostra que “a morte sobrevive à guerra” e o faz com base em contagens indiretas das mortes no Afeganistão, Iraque, Líbia, Paquistão, Somália, Síria e Iêmen.

“Em lugares como o Afeganistão, é importante perguntar se há alguma morte hoje que não esteja relacionada com a guerra”, diz Stephanie Savell, codiretora de Costs of War e autora do relatório. “As guerras muitas vezes matam mais pessoas indiretamente do que em combate direto, especialmente crianças pequenas.”

A publicação “examina as pesquisas mais recentes para analisar as relações causais que levaram a cerca de 3,6 – 3,7 milhões de mortes indiretas em áreas devastadas pela guerra após o 11 de setembro”, embora “o número total de mortes nessas zonas de guerra possa estar em menos 4,5 ou 4,6 milhões, um número que continua a aumentar, apesar do número exato de mortes permanecer desconhecido.

Como destaca o The Washington Post, o primeiro a relatar a análise:

“Desde 2010, uma equipe de 50 acadêmicos, juristas, defensores dos direitos humanos e médicos envolvidos no projeto Costs of War realizou seus próprios cálculos. De acordo com suas últimas estimativas, mais de 906.000 pessoas (entre elas, 387.000 civis) morreram diretamente nas guerras iniciadas após o 11 de setembro. Outros 38 milhões foram deslocados ou transformados em refugiados. O governo federal dos EUA, entretanto, já investiu mais de US$ 8 trilhões nessas guerras”, acrescenta o relatório.

No entanto, Savell afirma que, segundo a investigação, há muito mais pessoas, sobretudo menores e membros das populações mais empobrecidas e marginalizadas, que morreram devido aos efeitos da guerra: aumento da pobreza, insegurança alimentar, contaminação ambiental, traumas gerados pela violência e pela destruição da infraestrutura pública e de saúde, assim como da propriedade privada e dos meios de subsistência.

Como indica o relatório, “a grande maioria das mortes indiretas dessas guerra são causadas pela desnutrição, por problemas relacionados com a gravidez ou com o parto, e por uma infinidade de doenças, tanto infecciosas quanto não contagiosas, tais como o câncer”.

Um estudo de 2012 revelou que mais de metade dos bebês nascidos na cidade iraquiana de Fallujah, entre 2007 e 2010, apresentavam defeitos congênitos. Entre as mulheres grávidas que participaram do estudo, mais de 45% sofreram abortos espontâneos nos dois anos após os ataques dos EUA a Fallujah em 2004. As leituras de contador Geiger em áreas contaminadas com urânio empobrecido, em áreas urbanas iraquianas densamente povoadas, mostram permanentemente níveis de radiação 1.000 a 1.900 vezes mais altos que o normal.

Da mesma forma, o estudo revelou que algumas mortes “são também consequência de lesões causadas pela destruição provocada pelas guerras de infraestruturas como sinais de trânsito, assim como pelas repercussões de traumas e de violência interpessoal”.

Savell indica que “as partes beligerantes que danificam a infraestrutura e afetam a saúde da população têm a responsabilidade moral de oferecer assistência e reparação imediatas e eficazes”.

“O governo dos Estados Unidos, embora não seja o único responsável pelos danos, tem uma importante obrigação de investir na ajuda humanitária e na reconstrução das áreas onde começaram as guerras após o 11 de setembro”, acrescenta. “O governo dos EUA poderia fazer muito mais do que está fazendo para cumprir essa responsabilidade.”


Este artigo foi originalmente publicado no Common Dreams. Tradução de Ana González Hortelano.

O artigo original pode ser visto aquí