CULTURA

Por Alessandra Costa

 

A 5ª edição da Segunda Black será realizada em diversos espaços do Rio

Centro, Zona Norte e Zona Oeste serão sede das apresentações e oficinas

De 08 a 13 de maio

Após dois anos de pausa, a Segunda Black retoma suas atividades presenciais e será realizada em diversos espaços culturais da cidade do Rio de Janeiro. Entre os dias 8 e 13 de maio, vários artistas se apresentarão em espaços periféricos como a Arena Dicró, na Penha, Centro Cultural Escambo Cultural, em Sulacap e no Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (MUHCAB), na capital fluminense. A programação é totalmente gratuita.

A Segunda Black traz como linha curatorial a energia do movimento e bons ventos, mostrando todo o seu fôlego que ficou resguardado e, agora, retorna com toda potência em apresentar trabalhos de artistas negres. Dança, música, teatro e várias outras manifestações artísticas serão contempladas no evento, que foi criado em 2017, no Rio, com o compromisso de garantir que centenas de profissionais da arte negra encontrem um espaço para performances e estudos.

Este ano, a Segunda Black homenageia o bailarino e coreógrafo Rubens Barbot, fundador da Cia. Rubens Barbot de Teatro e Dança, a primeira companhia negra de dança contemporânea do país. Falecido em julho de 2022, aos 72 anos, Barbot nasceu no Rio Grande do Sul, mas mudou-se para o Rio de Janeiro na década de 1980. Em sua trajetória, Barbot sempre levou a cultura afro-brasileira para o centro do debate, além de ser um dos fundadores do Terreiro Contemporâneo, um espaço cultural no Centro do Rio de Janeiro.

Para Paulo Matos, um dos idealizadores da Segunda Black, a virtualização do evento durante a pandemia abriu um leque grande de artistas de outras localidades, não só do Rio de Janeiro, possibilitando um intercâmbio cultural entre eles. “Desde o início tivemos artistas de diversos territórios da cidade, mas sempre localizados nos espaços que conseguimos realizar os eventos. Na nossa versão virtual, além de ter artistas de todas as localidades do Rio, inclusive Baixada Fluminense, ampliamos a nível Brasil, aproveitando as possibilidades que tínhamos na época”, afirma.

Porém, a curadoria lembra que o objetivo da Segunda Black é territorializar e aproximar o artista do seu público, trazendo questões pertinentes às comunidades às quais os próprios artistas estão inseridos. “Nessa quinta edição, assumimos uma ação nômade por três territórios de nossa cidade, Centro, Zona Norte e Zona Oeste. Sempre foi um desejo territorializar mais essa busca, essa ideia de encontro de artistas negros com seu público e com outros artistas, dentro do seu território, podendo estar em um espaço mais acessível ao público daquela região e as questões dos debates dentro das questões específicas dos artistas também daquela região”, explicam Aza Njeri, Maurício Lima, Paulo Mattos e Simone Braz, curadores do evento.

13 de maio

No dia 13 de maio de 1888 foi assinada a Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil, no entanto, não foi pelas mãos de Isabel, mas pela luta dos ancestrais que o povo negro resistiu no Brasil. Eles resistiram a toda investida da branquitude e trilharam um caminho de resistência.

“A 5ª edição da Segunda Black acontece na semana que a abolição da escravidão completa 135 anos, mas sem celebração e com respeito aos que vieram antes de nós. E que nos curvemos aos nossos mais velhos para reverenciar os Pretos-Velhos”, alerta a curadoria.

A interface crítica é uma marca e diferencial presente desde o surgimento da Segunda Black. Além de fomentar espaços de criação para artistas negres, a presença de críticos e pensadores negres também foi impulsionado, desde o surgimento do projeto.

Elas são realizadas por pensadores, críticos, pesquisadores e estudiosos das artes negres, visando o estímulo ao pensamento crítico entre os artistas e para a plateia. Para Paulo Mattos, nesse momento que a ideia da Segunda Black se concretiza. “Nas interfaces críticas temos diálogo, debates, alguns até mais acirrados, mas é isso que propicia um crescimento e um interesse maior nesse processo”, explica.

“A Segunda Black se diferencia porque você pode fazer um festival de cenas curtas, como existem vários por aí, mas a ação artística de apresentá-las e discuti-las é o nosso grande diferencial”, completa.

PERFORMANCES

A abertura da Segunda Black será no MUHCAB – Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira, no dia 8 de maio, com as performances “FALATÓRIO”, de Jhon Vital, que interpreta um jovem negro em isolamento social, em um hospital psiquiátrico, que divaga sobre sua condição no mundo.

Já em “PRETAMBULANDO”, Taslim é uma guia turística responsável por mais uma viagem da nave espacial Pretambulando, que está vindo do ano 2437 para um planeta Terra de 2023. Passando por temas como ancestralidade e amor.

Fechando a segunda-feira, “CARTAS QUE NÃO ENVIEI”, de Thays Ayomide, mostra um conjunto de cinco cartas escritas para os sentimentos, elas trazem as inquietações sentidas pela população preta durante a vida, e as estratégias que usamos para burlar/ dançar com o Tempo.

Neste dia, a interface crítica fica a cargo de Tatiana Henrique, que é mãe, artista da presença, Ìyàwó de Òṣàálá, organizadora da OBALUFÔNICA, fomentadora de espetáculos, ações educativas e pesquisa artística. Além disso, também é Professora na Faculdade Cesgranrio e ESAD (Escola Sesc de Arte Dramática).

Já no dia 11 de maio, a Arena Dicró, na Penha, será palco do “CAVALO ALADO”, uma composição híbrida da poesia e do corpo em cena, um monólogo, interpretado por Matheus Frazão, que retrata as opressões e abuso de poder nas favelas, sobretudo, em dias de operação, onde são vividos momentos de tensões no qual não se pode sair ou entrar desse espaço.

Ainda na Penha, Adriana Rolin se entrega em YRIÁDOBÁ DA IRA À FLOR. Uma matrilinearidade entre avós, mães e filhas, é a rainha de 346 mulheres, ela é a Grande Mãe das vaginas humilhadas, dilaceradas e estupradas. Ela desloca a dor em seu peito, com a força da fragilidade, refaz a narrativa e recria o mito.

Encerrando o segundo dia de performances, “NÃO É SOBRE SAPATOS”, de Junior Melo, conta a história de uma vítima de assalto enquanto está a caminho do ponto de ônibus. Levam seu sapato. Era novo. Ele está na rua e descalço. Ao pedir ajuda, se vê cercado de olhares que dizem o reconhecer.

Na quinta-feira, a interface crítica será realizada por conta de Fernanda Dias, que é artista das artes da cena com expressiva atuação no teatro e na dança. Além disso, Fernanda também é atriz, coreógrafa, preparadora corporal, pesquisadora e dançarina das danças negras brasileiras e africanas, autora do texto teatral Meus Cabelos de Baobá e idealizadora do Laboratório Raízes do Movimento.

No sábado, dia 13 de maio, Laís Castro encena “TRILHA MARGINAL.2”, no Centro Cultural Escambo Cultural, no Jardim Sulacap, zona Oeste do Rio de Janeiro, onde ela veste uma máscara de batebola, manifestação característica das periferias do Rio de Janeiro, e a camisa do Flamengo para mobilizar afetos em torno das ideias de festividades carnavalescas e performatividades de gênero, dançando ao som dos funks compostos pela turma de batebola KND de Realengo.

EMANA – “ARREDA, HOMEM” é interpretada por Helena D’troia, e fala sobre uma artista visionária com canções autorais sobre o ser que saúda o matriarcado e toda sua criação, em honra a sagrada liberdade de expressão.

Ainda no dia 13 de maio, Idra Maria leva “TARÂNTULA” para o Escambo Cultural. É uma performance que reflete criticamente os estigmas atribuídos a corpos não-cisgêneros no Brasil, e os planos de extermínio projetados para violentar, encarcerar e aniquilar essa população que é a mais estigmatizada e marginalizada da sociedade brasileira.

Thiago Catarino será o responsável pela interface crítica nesta data. Ele é ator, formado pela Escola Estadual de Teatro Martins Penna. Pesquisador CNPQ no Programa de Pós-graduação em Literatura, Cultura e Contemporaneidade, desenvolvendo a dissertação de mestrado “Marcha Lenta Para Pés Desbravadores”, sobre corpo negro, utilidade, e permanência colonial, iniciada na formação em Artes Cênicas, também na PUC-Rio.

Segundo a curadoria, entre os anos de 2018 e 2020, foram apresentadas cerca de 80 cenas curtas, envolvendo mais de 250 artistas e atingindo um público total de 3.000 pessoas. Além disso, também foram ministradas duas oficinas, por membros do coletivo, e uma Masterclass com a professora Leda Maria Martins.

Sobre o evento

A Segunda Black nasceu em 2017, na cidade do Rio de Janeiro, e seu projeto e sua concretude estão atrelados ao propósito do Teatro Experimental do Negro (TEN), criado por Abdias do Nascimento e um grupo de artistas negros nos anos 1940. O TEN inspirou diversos outros projetos negros pelo país como “A Cena tá Preta” (Salvador/BA), Segunda Preta (Belo Horizonte/MG) e Segunda Crespa (São Paulo/SP).

O evento é uma ação artística desenvolvida por e com artistas negros do Rio de Janeiro, para um público preto e não preto, interessado no desenvolvimento das ações estéticas ou políticas desses artistas. Atuando desde 2018, a Segunda Black já realizou quatro edições, uma mostra e participou do projeto “Aquilombar” do SESC Pompeia.

Recebeu o Prêmio Shell na categoria Inovação, em 2018, e o prêmio da revista Questão de Crítica. Foi também considerada, dentro do festival GREC de Barcelona, uma das 50 ações artísticas mais relevantes da Iberoamérica, em 2019/2020.

Esta 5ª edição da Segunda Black conta com o patrocínio do Programa de Fomento à Cultura Carioca (Foca), por meio da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura do Rio de Janeiro, que é um apoio financeiro a projetos culturais a serem realizados na cidade do Rio de Janeiro.

SERVIÇO:

PERFORMANCES

08 A 13 DE MAIO – SEGUNDA A SÁBADO

MUHCAB Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira

R. Pedro Ernesto, 80 – Gamboa, Rio de Janeiro

8 de maio – das 18 às 20h

“FALATÓRIO”, Jhon Vital

PRETAMBULANDO, Taslim

CARTAS QUE NÃO ENVIEI, Thays Ayomide

ARENA DICRÓ

Parque Ari Barroso – Entrada pela, R. Flora Lôbo, s/n – Penha Circular, Rio de Janeiro

11 de maio – das 18h30 às 21h

CAVALO ALADO, Matheus Frazão

YRIÁDOBÁ DA IRA À FLOR, Adriana Rolin

NÃO É SOBRE SAPATOS, Junior Melo

CENTRO CULTURAL ESCAMBO CULTURAL

Av. Albérico Diniz, 1657 – Jardim Sulacap, Rio de Janeiro

13 de maio – das 16h às 18h30

TRILHA MARGINAL.2,  Laís Castro

EMANA – “ARREDA, HOMEM”, HELENA D’TROIA

OFICINAS

09 A 11 DE MAIO / TERÇA A QUINTA

MUHCAB Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira 

09 a 11 de maio, 10h – 14h | Auditório

Oficina “Transe: Corpo, espaço e memória”

Ministrante Laís Machado

Carga horária: 10h30

Faixa etária participantes: Pessoas acima e/ou a partir de 18 anos

ARENA DICRÓ

09 de maio, 15h – 18h | ÁREA EXTERNA

10 e 11 de maio – 14h às 18h | SALA DE ENSAIO

Oficina de experimentos dramatúrgicos e cênicos: usando o processo das cartografias afetivas

Ministrante Alex Teixeira

Carga horária: 11h

Faixa etária participantes: Pessoas acima e/ou a partir de 14 anos

CENTRO CULTURAL ESCAMBO CULTURAL 

Oficina Preto no Preto

Ministrante Cachalote Mattos

Carga horária: 12h

09 a 11 de maio  – 14h às 18h | Sala de ensaio

Faixa etária participantes: Pessoas acima e/ou a partir de 16 anos

Consulte a programação em nossas redes. Lembrando que todos os espetáculos e oficinas são gratuitos e as inscrições para participação nas oficinas já estão abertas.