CULTURA

Por Marrom Glacê Assessoria

 

Estreando dois filmes em março, não faltam motivos pra Natália Balbino comemorar. A atriz e roteirista tem, pela primeira vez, a oportunidade de evidenciar paralelamente seus dons profissionais no mesmo segmento. Se em “Escola de Quebrada” ela assina como uma das roteiristas do longa-metragem de Kaique Alves e Thiago Eva produzido pela Paramount em parceria com KondZilla, em “Medusa” a atriz realiza sua estreia nos cinemas no papel de Jennifer, uma das jovens de uma congregação neopentecostal do longa de Anita Rocha da Silveira. Incensado mundo afora, o filme já faturou os prêmios de Melhor Longa-Metragem Ficção e Melhor Direção de Ficção no Festival do Rio (2021), também exibido na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes 2021.

O convite para roteirizar “Escola” chegou através de Pedro Emanuel, que assina a redação final do longa. “Trabalhamos juntos anteriormente no teatro, durante a minha pesquisa para o Mestrado na UFRJ. Na época do convite, eu tinha acabado de fazer parte da equipe de roteiristas colaboradores de ‘Malhação’, na TV Globo, e já era uma roteirista da Paramount, integrante da sala de conteúdo Narrativas Negras, chefiada por Marton Olympio. Tanto a Paramount quanto a Kondzilla perceberam que meu momento de carreira e os meus interesses enquanto artista muito se afinavam com a proposta do ‘Escola de Quebrada’”, pontua Natalia, que já ofereceu uma oficina de roteiro gratuita aos jovens da Vila Cruzeiro, comunidade carioca onde cresceu.

Acompanhando os trabalhos de Kondzilla desde muito tempo, Natalia realizou o sonho de integrar uma equipe que sempre admirou. “Quando eu vislumbrei a possibilidade de ser roteirista de um filme original Kondzilla, foi como se eu estivesse finalmente tendo a oportunidade de colocar em prática as minhas ideias sobre protagonismo negro e falar com muita comédia sobre as nossas subjetividades”, resume a mulher preta e periférica de 27 anos que, para o trabalho, realizou um intercâmbio em São Paulo.

“Já era parte do meu discurso desenvolver trabalhos de dentro, em conexão com o território e dialogando diretamente com os protagonistas da vida real. Seria impossível escrever esse trabalho estando longe. Fiquei todo o período de desenvolvimento do longa morando em São Paulo, pesquisando e conhecendo melhor a realidade que teríamos que retratar. Também tive a oportunidade de voltar para a cidade durante o período das filmagens. Hoje reconheço que esse deslocamento e essa atenção que tanto nós, quanto a própria Kondzilla tem com o território, foram fundamentais para desenvolver um produto ‘chave’ ‘da hora!’”, diverte-se.

Celebrando 10 anos na carreira de atriz, com a qual reveza as escritas de roteiros, Natalia considera que um filme como “Medusa” é um diferencial em sua trajetória. “O filme fez uma longa trajetória internacional, passando pelos principais festivais de cinema do mundo, como o TIFF no Canadá, fez temporadas na França, nos EUA e recebeu as principais premiações do Festival do Rio em 2021. Ter um projeto robusto como esse na carreira sem dúvidas é um diferencial, mas acredito que o principal estímulo que vem desse trabalho é a crença em um cinema nacional vivo, pulsante e independente”, analisa.

No filme, a atriz dá vida à Jennifer, personagem conquistada à base de três fases de testes. “Ao lado de outras oito talentosas atrizes, incluindo nossa protagonista, Mari Oliveira, formamos o grupo apelidado pela revista Variety de ‘Vigilant Girl Squad’. Somos meninas belas, recatadas e do lar, que fazemos parte de uma congregação neopentecostal dentro do universo distópico criado pela Anita. Junto das ‘Preciosas’, Jennifer não vai aceitar ver o seu mundo perfeito ser deformado pelas tentações do mundo. Só o grito da Medusa será capaz de despertar essas mulheres de um transe conservador e espiritual”, adianta a atriz.

Para o futuro, Natalia tem boas expectativas. “Acredito que o mercado vem fazendo mudanças positivas para se tornar mais inclusivo. Todos os streamings para os quais eu já trabalhei tem a sua política de diversidade com maior ou menor impacto. Meu sonho é um mercado cada vez mais inclusivo, estável, que valorize todos os artistas e que construa ambientes saudáveis de trocas criativas. Individualmente, sonho em chegar na casa das pessoas – com meu texto, com a minha imagem ou com ambos. Emocionar, divertir, representar o Brasil do futuro, onde todos possam sonhar e ter ferramentas para realizar seus sonhos”, finaliza.