Exploração animal é um tema cada vez ais falado e, a não ser que se viva de baixo de uma pedra, é impossível não ter o mínimo conhecimento sobre os motivos da popularização do assunto. Música, documentários e canais de notícias ajudam a trazer mais atenção do público.

Mesmo assim, os direitos animais são violados a torto e a direito, e não estamos nem perto de uma solução. Apesar destes direitos se dividirem em várias categorias e terem diversos problemas (legislações dos países, raça do animal, tipo de atividade, etc.), alguns tendem a ser mais falados que outros.

Não há a menor dúvida que o movimento vegetariano cresceu exponencialmente em todo o mundo, incluindo regiões como a Austrália, EUA, Reino Unido e Israel. Por exemplo, o estudo feito pela ISPOS mostra que o número de vegetarianos no Reino Unido aumentou em 360% entre 2003 e 2019. Outra maneira de confirmar a expansão deste mercado é observando as pesquisas no Google. No ano passado, o relatório do Google mostrou que as pesquisas por “comida vegetariana perto de mim” aumentarem em 5000%.

É um facto que a indústria pecuária afeta o meio ambiente e produz cerca de 18% de todos gases de efeito estufa lançados para a atmosfera. Assim, há uma dupla preocupação -ambiental e direitos animais- mas existem tantas outras violações, talvez até mais graves, que tendem a permanecer desconhecidas.

Criação de animais de raça e a procura pelo mais puro da espécie é algo que nunca fui capaz de entender na totalidade. Neste tema podemos incluir diversas espécies como gatos ou cães para concursos de beleza (porque os influencers não são tóxicos o suficiente para a sociedade, também precisamos de petfluencers para que os donos beneficiemm ainda mais) ou cavalos para corridas.

Nesta versão bonita e moderna de um espetáculo de horrores, é normal que os cães tenham reações alérgicas devido à quantidade de produtos de beleza que usam, como laca, mas os riscos podem ser ainda mais graves. Em 2015, um Setter Irlandês chamado Jagger foi envenenado durante o maior concurso de beleza canina no mundo, Crufts.

Photo by: Dee Milligan-Bott

O concurso de beleza anual de camelos, The Kind Adbulaziz Camel Festival, na Arabia Saudita, é um exemplo de como nem os animais escapam às normas de beleza criadas pelos humanos. Com um prémio de $66 milhões, milhares de pessoas inscrevem os seus animais neste concurso. No entanto, o desejo de ganhar, por vezes, é tão grande que a indústria de cosméticos se torna tentadora. Em 2021, 43 animais foram desqualificados devido ao uso extremo de Botox, hormonas e outras intervenções.

Photo by: Fayez Nureldine

Ainda na categoria de exposição animal podemos inserir situações mais quotidianas, como zoos e circos. Apesar de cada um assegurar o publico que os animais são bem tratados, quão justo é tirar um animal do seu habitat natural e mandá-lo para uma jaula ou aquário? O documentário da Netflix, Blackfish, mostra as consequências de manter orcas em cativeiro por anos sem fim.

A mesma coisa acontece nos jardins zoológicos onde, apesar de ser razoável aceitar que a preservação da espécie é a maior preocupação, os animais não conseguem ser eles mesmos a 100%. Além de estarem num espaço pequeno, os animais são submetidos a elevados níveis de stress diário, o que pode resultar em comportamento autodestrutivo. O zoo de Londres, que aloja mais de 750 espécies, tem sido bastante falado nas redes sociais. Em uma das inúmeras exposições, ao invés de admirar um animal, é possível ver uma mala de senhora feita com pele de crocodilo. Ainda que esta exposição já tenha alguns anos, tornou-se recentemente viral no Twitter, mostrando que este problema continua a ter imensa importância, talvez mais que nunca.

Photo by: ZLS London Zoo

No entanto, querer visitar este tipo de locais é mais do que comum para um dia em família diferente ou mesmo quando a conhecer um país novo. Enquanto viajava por Malta, em 2018, nadei com golfinhos no Parque Aquático de Malta. Foi uma experiência bastante agradável, apesar de cara (120€ por 30min), incluindo uma breve explicação das medidas de segurança. Durante esse tempo, podíamos tocar nos animais, e reparei que um dos golfinhos tinha uma grande cicatriz perto do orifício respiratório, o que me tornou imediatamente consciente do que estava a fazer. Depois daquele dia, informei-me sobre todo o tipo de abusos que os animais ao colocados e prometi que nunca mais entraria em estabelecimentos desse género.

Outra coisa bastante comum é o uso de animais com fins turísticos. Os cavalos, por exemplo, foram domesticados em 4000 A.C e rapidamente se tornaram meios de transporte e carga/trabalho pesado. Isto, no entanto, não explica o motivo de ainda os utilizarmos em países modernos. Em Sintra, Portugal, é normal ver imensas charretes a puxar turistas pela serra, mesmo em ondas de calor. Este ano, em Nova York, um cavalo de carruagem colapsou exausto no meio da rua, durante o calor extremo.

Ver burros a ocuparem a posição de táxis em Santorini, Grécia, também não é nada novo, mas parece estar longe do fim. Debaixo do sol mediterrâneo, cerca de 100 burros e mulas são forçados a carregar cargas extremamente pesadas todo o dia, além de lhes serem negados água e sombra durante o período de trabalho. Se esta situação é tao deplorável, porquê que ainda acontece? A resposta é simples: tradição. Talvez a questão mais apropriada seja: até que ponto é que estamos dispostos a ir para preservar a tradição?