O dia 20 de junho de 2022 marcou o Dia Mundial do Refugiado, data estabelecida pela primeira vez pelas Nações Unidas em 2001, em reconhecimento ao 50º aniversário da Convenção da ONU relativa ao Estatuto dos Refugiados adotada em 1951. Por ocasião da data, além de ser importante celebrá-la, realmente é necessário fazer uma pausa e pensar em medidas práticas para ajudar quem necessita. Como pessoas que contam com acesso a recursos, sempre podemos fazer mais. Não se trata do alcance que você tem; trata-se de falar, mesmo que seja apenas para uma pessoa que esteja ouvindo. Cada voz faz a diferença.

Uma crise de refugiados não é nada novo. A Agência da ONU para os Refugiados, também conhecida como Acnur, foi criada em 1950, inicialmente por um período de apenas três anos para ajudar os refugiados, mas desde então vem trabalhando continuamente. Na década de 1960, a descolonização da África produziu a primeira crise de refugiados daquele continente que acabou necessitando a intervenção da Acnur.

De acordo com a ONU, um refugiado é alguém que “devido a fundados temores de perseguição por questões de raça, religião, nacionalidade, pertencimento a um determinado grupo social ou por opinião política se encontre fora do seu país de nacionalidade e seja incapaz ou, devido a esse temor, não esteja disposto a acolher-se à proteção desse país de origem; ou que, não tendo nacionalidade e estando fora do país de sua antiga residência habitual, seja incapaz ou, devido a esse temor, não esteja disposto a retornar a ele”.

As notícias sobre crises de refugiados deixaram de nos surpreender e se tornaram uma rotina que deveria ser lamentável, mas que surpreendentemente não é assim. Quase todos os dias, ouvimos notícias sobre conflitos em alguma parte do mundo que levam as pessoas a serem deslocadas. Essas notícias se tornaram tão comuns que continuamos vivendo nosso dia a dia sem perceber nenhum tipo de comoção. Na maioria das vezes, nós nos distanciamos dessas informações dizendo que não nos afetam, pois acontecem em algum lugar distante. Porém, mesmo que não nos afetem diretamente, é um grave mal‑entendido pensar que não terão impacto sobre nós, pois todos fazemos parte de um ecossistema global maior.

É parte do processo de dessensibilização que as pessoas deslocadas não signifiquem nada além de estatísticas e de números para nós? As histórias individuais de aflição por trás de cada caso são completamente desumanizadas. Sejam da Síria, da Palestina, da Ucrânia, do Tigray, de Honduras ou de qualquer outro lugar, é importante lembrar que não estamos lidando com números, mas sim com pessoas. Os refugiados são homens, mulheres e crianças que tiveram que abandonar tudo para sobreviver.

Se eu detalhasse estatísticas de mais de 100 milhões de refugiados no mundo em 2022 em histórias individuais, não haveria pessoas suficientes para registrá-las. Para dar mais contexto à gravidade da situação, a tabela de estatísticas a seguir fornece uma visão geral.

 

País Número de refugiados
e migrantes
Motivo do deslocamento
Síria 13,5 milhões Guerra civil
Venezuela 5,1 milhões Crise humanitária interna devido à instabilidade econômica e política
Afeganistão 2,2 milhões Conflitos políticos e econômicos internos
Sudão do Sul 2,3 milhões Crise econômica
Mianmar 1 milhão Violência contra minorias étnicas
RD do Congo 900 mil Conflitos internos
Somália 750 mil Instabilidade política e guerra civil
Ucrânia 5,2 milhões Guerra
República Centro-Africana 1 milhão Violência Sectária Interna

 

Como vemos na tabela acima, as pessoas se tornam refugiadas por várias razões: guerra, violência, perseguição política, violações de direitos humanos, desastres ambientais etc. Seja qual for o motivo, nunca é fácil sair de casa e do país. Mesmo que todos nós possamos estar ocupados com nossas vidas e ter nossas próprias lutas, é necessário tomarmos um tempo de vez em quando para olharmos para essas pessoas que vivem nas condições mais pobres, privadas de segurança alimentar, de abrigo, de educação ou mesmo da vida.

Menos de 1% dos refugiados recebe o apoio necessário para se reassentar em um novo país. Não se trata apenas de deslocamentos; nunca é fácil sobreviver em um país que tenha diferentes culturas, idiomas ou padrões de vida aos quais não se está acostumado, principalmente por causa da vulnerabilidade financeira dos refugiados. Além disso, quase 85% dos refugiados são recebidos por países emergentes (Acnur), o que parece ser outra anomalia. Dada a riqueza dos países desenvolvidos, seria razoável esperar que eles acolhessem mais facilmente refugiados e migrantes, mas esse não é bem o caso. Devido à proximidade geográfica da zona de crise ou às políticas frouxas de entrada nos países, seja qual for o motivo, são justamente os países que não têm recursos suficientes que ainda estão abertos a oferecer asilo às pessoas necessitadas.

Tornar-se refugiado não é apenas um problema do presente. Na verdade, é um problema geracional, pois os refugiados esperam em média 20 anos para serem restabelecidos e assimilados (Global Citizen). Devido à falta de acesso à educação e a outros recursos, é improvável que os filhos dos refugiados sejam capazes de criar uma vida melhor para si mesmos. É possível que, sem uma reabilitação adequada, uma crise de refugiados possa se transformar em um ciclo vicioso de pobreza e empobrecimento sustentados.

Fontes:

https://www.worldvision.ca/stories/refugees/refugee-crises-around-the-world
https://www.globalcitizen.org/en/content/global-refugee-crisis-facts/
https://www.un.org/en/global-issues/refugees
https://www.unhcr.org/uk/figures-at-a-glance.html
https://www.concernusa.org/story/largest-refugee-crises/


Traduzido do inglês por Graça Pinheiro / Revisado por André Zambolli