-O que achamos da guerra? “Meus amigos e eu achamos ridículo, absurdo. Por que as pessoas não podem simplesmente falar?

Esta foi a resposta que recebi de um amigo meu de 17 anos na Europa quando lhe perguntei o que ele e seus amigos pensavam sobre esta guerra acontecendo.

Já falamos aqui em Pressenza, antes da Covid, sobre uma nova paisagem humana que está surgindo na geração jovem. Algumas características observáveis desse novo cenário são a não-violência, as decisões baseadas em consenso, a bondade e o cuidado com os outros. Este jovem e seus amigos estão longe de serem “radicais” ou mesmo “pensadores profundos”. Alguns diriam que, de muitas maneiras, eles fazem parte do Sistema. Eles estudam para conseguir sua profissão e querem um emprego decente, uma família, etc.. Mas a guerra não entra em sua paisagem.

As guerras sempre foram absurdas, mas ao longo dos tempos elas foram vistas como um mal necessário, às vezes, até mesmo glorificadas.

Ainda hoje é um sinal de coragem dizer “Vou me levantar e lutar mesmo que me matem”.

Se as mesmas pessoas dissessem que vamos cometer suicídio em massa, os outros ficariam horrorizados, porque isso não é normal.

Na paisagem antiga, produzir, distribuir e usar armas para matar outros seres humanos é considerado normal. “Sim, preferimos conversar, menos caro, mas se isso não funcionar, usaremos as armas.”

Então aqui está este engenheiro altamente especializado projetando a arma que matará os outros. Isso é considerado normal, e aquele jovem engenheiro está apenas fazendo um trabalho e depois volta para sua família sem dúvidas sobre o que estava fazendo durante o dia.

Nessas guerras existem certas regras sobre como matar pessoas e o que não fazer. Assim, aqueles que não seguem as instruções, às vezes são julgados e até condenados.

Mas quem é o responsável por esse massacre? O soldado? Aqueles que lhe disseram para ir matar os outros? Os produtores de armas ou aqueles que as deram ou venderam ao seu país. Ou é o engenheiro que projetou a arma para começar?

Claro, todos nessa cadeia são responsáveis. E também as pessoas da velha paisagem que pensam que é normal ter armas e matar pessoas.

É surpreendente que ninguém agora fale dessa guerra atual como uma loucura medieval. A mídia cobre a guerra em detalhes, mas ninguém diz que isso é como cobrir uma história que se passa em uma guerra louca onde as pessoas estão desconectadas da realidade e atuam em jogos diferentes que não correspondem ao tempo. Por exemplo, alguém lá realmente pensa que é Napoleão e, como realmente pensa assim, eles o prendem. No entanto, o general não é considerado louco, pois planeja como matar um monte de companheiros.

Aceita-se ter armas e seu único propósito é matar.

A mídia não acha isso loucura, mas comenta o que são essas armas, o que elas podem fazer, etc.. E as pessoas pensam que é normal e necessário ter um exército, embora existam alguns países sem exército e que funcionem muito bem.

Durante a Primeira Guerra Mundial, a guerra que foi travada nas trincheiras e essa estratégia parecia a coisa certa a fazer, mesmo que os campos estivessem cheios de cadáveres. Aqueles que invadiram o campo não o fizeram por ação heróica, mas seriam fuzilados por eles mesmos se não o fizessem. Isso também foi considerado normal.

Vamos torcer para que mais e mais pessoas vejam o absurdo de tudo isso, de matar massivamente outras pessoas. Como este meu jovem amigo.

Existem muitos países onde boa parte das suas receitas de exportação provém da produção e venda de armas, países que se pretendem portadores da paz. Mas a indústria de armas dá trabalho e um lucro muito considerável, por isso é considerado normal. Na velha paisagem.

Pode-se ir um pouco mais longe e dizer por que as armas são necessárias e a resposta é nos defendermos. Para que não brinquem com nossas posses, matem os outros e a mim. Claro, por trás desse medo de perder todas essas coisas está o medo de perder tudo, ou o medo da morte. Portanto, as armas não desaparecerão e se tornarão antigas, a menos que boa parte da população humana perca esse medo.

Até perceberem que não são apenas o que vêem no espelho. Atrás da imagem no espelho está o humano, o mesmo em todos nós. Entendendo que, vivenciando o humano, então ninguém pensaria em prejudicar os outros. A nova paisagem das jovens gerações vai nessa direção.