O cinema tem a capacidade de entreter, de envolver e de mover. Este último, para mim, é um dos quesitos mais significativos, pois a comunicação pode ser convertida em uma prática social imprescindível, na medida em que mobilize o público a refletir e também a debater acerca de questões importantes do cotidiano. Neste Dia Internacional da Mulher, quero sugerir que reflitamos a respeito de muitas das lutas femininas a partir do cinema, sobretudo com produções que fogem dos circuitos estadunidense e europeu.

A perspectiva de que a produção audiovisual pode extrapolar o entretenimento tem ganhado cada dia mais força, principalmente pelo fato de muitas e muitos cineastas participarem ativamente da vida social e tentarem, através do cinema, envolver a sociedade em abordagens que tratam sobre questões sociais das mais variadas, problemas do cotidiano muitas vezes tratados de modo superficial ou mesmo nem  abordados pelas mídias mais populares, como a televisão, por exemplo.

Além de ser uma arte, o cinema é também uma forma de expressar emoções, pensamentos e ideias. Como um produto cultural, esse meio de expressão deve ser encarado, entre outras coisas, como discurso. Tomo aqui as palavras da linguista brasileira Eni Orlandi, para dizer que a linguagem tem o objetivo de comunicar e de não comunicar; que as relações de linguagem são relações de sujeitos e sentidos múltiplos e variados. Ainda conforme Orlandi, ao estarmos diante de qualquer objeto simbólico, somos, portanto, solicitadas e solicitados a interpretá-lo, pois nos encontramos diante da necessidade de dar sentido.

Por isso, em maior ou menor grau, o cinema pode despertar no sujeito que assiste conexões com muitas das realidades cotidianas, o que faz desse material comunicativo um importante produtor de sensações, de significações, de explicações e, até mesmo, de mobilizações com vistas a transformações de realidades, que podem ser próprias ou alheias.

Assim, sem dar spoiler, quero recomendar três produções cinematográficas que abordam problemáticas enfrentadas por mulheres em várias partes do mundo, por conta do patriarcado, que em pleno século 21 ainda atua como força opressora muito contundente, e que requer um combate efetivo, sobretudo através da conscientização e da educação.

A primeira recomendação é o filme indiano “A tenente da Cargil” (2020), protagonizado pela atriz Janhvi Kapoor e dirigido por  Sharan Sharma. Trata-se de uma produção baseada em história real, que mostra a luta de uma jovem para ocupar um espaço historicamente negado às mulheres. Através dessa história é possível visualizar como milhões de mulheres em todo o mundo precisam ser mais do que perseverantes para conquistar espaços numa sociedade que, sistematicamente, lhes nega o direito de “ser”. Produzido por Apoorva Mehta, Karan Johar e Hiroo Johar, este loga tem o título original “The Kargil Girl”. O filme tem como elenco (além de Janhvi Kapoor), Angad Bedi, Pankaj Tripathi, Abhiroy Singh e Gulshan Pandey. Está disponível na Netflix e tem duração de 1h:52 minutos.

O segundo longa que indico é “A lição de Moremi” (2020), estrelado pela atriz e blogueira nigeriana Teme Otedola. É uma produção cuja história também retrata situações vivenciadas por muitas meninas e mulheres em contextos passados e presentes, muitas vezes silenciadas por conta do medo de se expor e de serem tratadas como culpadas. Também baseado em uma história real, cujo título original é “Citation”, esse filme é  dirigido por Kunle Afolayan, com roteiro de Tunde Babalola e produção de Seun Soyinka, Steve Ayorinde e Yinca. Tem duração de 2h31 minutos e também está disponível na Netflix.

Por último, recomendo “As fotos vazadas”, uma produção indonésia (2022). Da mesma forma que as produções anteriores, este filme, com duração de 2h10 minutos, nos coloca diante de situações infelizmente muito comuns que atravessam as vidas de inúmeras jovens em todo o mundo e sua luta para conseguir justiça em um mundo onde o poder masculino e patriarcal tende a se impor. Este loga é estrelado pela atriz Shenina Cinnamon e dirigido por Wregas Bhanuteja, que estreia como diretor nesta produção. O filme, cujo titulo original é “Penyalin Cahaya”, tem como roteirista o próprio diretor, em parceria com Henricus Pria. Esta produção indonésia também está disponível na Netflix.

As três histórias mostram a força de três jovens em sua luta por espaço e justiça em um mundo masculino, onde as mulheres ainda são vistas como “inferiores”, “incapazes” e “objetos descartáveis”. A meu ver, são três oportunidades para ratificarmos a necessidade de desconstrução do patriarcado. As três produções oportunizam, ainda, experimentar outras formas de fazer cinema (outra estética, outro ritmo), assim como a possibilidade de conhecer peculiaridades culturais de três países que quase sempre são retratados midiaticamente através e a partir de estereótipos.

Aproveitem!