Por Ana Catharina Oliveira Santos*

No Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, nada mais interessante do que mostrar uma iniciativa que visa conscientizar e dar visibilidade aos corpos negros, tão estigmatizados por conta do racismo estrutural estabelecido historicamente em nosso país. Trata-se do Projeto Wakanda, cujo objetivo é realizar ensaios fotográficos, debates sobre questões étnico-raciais e oficinas de confecção de acessórios, no Sul da Bahia.

Antes de mais nada, penso que é importante contextualizar o 20 de Novembro. Em 1978, Ativistas do Movimento Negro Unificado (MNU), realizaram uma reunião na cidade de Salvador, para se ter um consenso e definir uma data para celebrar o dia de luta da população negra. Ou seja, um dia para chamar a atenção sobre a importância da negritude para o país.

Anos depois, ficou conhecido como o dia da Consciência Negra. A data definida, o 20 de novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares, um dos maiores líderes quilombolas do Brasil. Assim foi criado o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, oficializado no ano de 2011 por meio da Lei nº 12.519.

Imagens de valorização

É importante salientar que essa iniciativa não repara as mazelas estruturais que recaem sobre a população negra em nosso país desde o tempo da escravidão até os dia atuais. A referida data tem o objetivo de relembrar a luta dos povos escravizados que se rebelaram contra o sistema escravista da época.

Por isso, durante o mês de novembro, muitos grupos e coletivos imersos na luta contra o racismo realizam trabalhos importantes, visando conscientizar e combater as injustiças raciais e sociais no Brasil; pessoas que reividicam reparos estruturais e não apenas simbólicos, como as instituições hegemônicas em sua maioria costumam fazer. Aliás, no que se refere a essas representações simbólicas, algumas empresas só protagonizam a população negra no mês de Novembro, e, durante os outros meses do ano, dão pouca ou nenhuma visibilidade a essa mesma população, que, segundo o IBGE, representa mais da metade dos brasileiros e brasileiras.

É importante ressaltar, no entanto, que a representatividade é um ato político de extrema importância, pois colocar pessoas negras em diversos espaços de visibilidade é um dos meios mais eficientes de se fazer justiça social em relação aos anos de atrocidade que foi o período escravocrata. E é dentro dessa perspectiva que o Projeto Wakanda atua na região Sul da Bahia, desde 2018.

Daniel Oliveira: diretor do Projeto Wakanda. Foto de Júnior Lucena

O Wakanda começou, especificamente, na cidade de Ilhéus, mas vem alçando outros espaços. O Projeto tem como proposta realizar ensaios fotográficos, debates sobre questões étnico-raciais e oficinas de confecção de acessórios, as quais, posteriormente, são utilizadas nos ensaios fotográficos.

A iniciativa surgiu com uma necessidade de trazer esse reconhecimento para a região, que dá pouca ou nenhuma visibilidade à negritude local. O objetivo principal é construir novas imagens de valorização da representação negra, que sofre com tantos estereótipos racistas, devido a uma construção social colonial que, entre outras coias, instituiu que corpos negros não são belos e capazes de ocupar papeis de destaque na mídia.

Com o intuito de romper esse estigma racista, o Projeto Wakanda vem trazendo imagens da negritude em suas plataformas digitais, como o Instagram e o seu site oficial. Além disso, promove debates em praças públicas, abordando sobre as problemáticas sociais que atravessam o Brasil, a fim de propor ações socioeducativas, assim como a defesa de ações afirmativas.

Afirmação da negritude

Conforme o diretor geral e também diretor de fotografia, Daniel Oliveira, o Projeto surgiu após ele haver sido impactado pelo filme Pantera Negra, ao ponto de se interessar em conhecer e se aprofundar mais acerca da história e cultura negra. Oliveira conta que o nome é justamente orginário do filme em questão, que acontece em uma cidade fictícia do continente africano chamada Wakanda.

Ele ressalta que era época de eleições (2018) e que sentia uma sensação angustiante só em imaginar que o então candidato a presidente da República Jair Bolsonaro pudesse vencer o pleito. “Naquele momento, dentro do cinema,  decidi que poderia fazer algo, a contracorrente; a primeira ferramenta que pensei foi a câmera semi-profissional que tinha acabado de adquirir”, conta.

O diretor diz que o Wakanda foi muito bem recebido, desde a divulgação do primeiro banner. De acordo com ele, talvez por não existir, naquele momento, muitas produções artísticas focadas na negritude na região Sul da Bahia, ou, pelo menos, por não se ter acesso a elas.

“Recordo que nossa concepção na organização naquele momento era  realizar ensaios e debates, para além do universo acadêmico; e daí as estratégias dos debates sempre ocorrerem em praças públicas, com o intuito de possibilitar um ensaio fotográfico baseado no corpo negro em movimento, tanto para as suas lutas, como para a afirmação da negritude”, salienta o diretor.

Daniel Oliveira, que é estudante de FIlosofia, finaliza ressaltando que o Projeto Wakanda visa oferecer, por meio das atividades visuais e educativas, a afirmação da negritude enquanto um processo de valorização física, intelectual e social. A iniciativa conta com as participações de Andressa Soares, responsável pelo casting e pelo planejamento, e Bárbara Souza, que está cargo do planejamento e das mediações dos debates. Ambas são estudantes de Ciências Sociais.

Confira esse belo trabalho acessando:  https://projetowakanda.46graus.com/exposicao e @projetowakanda


*Estudante de Comunicação Social da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC).