Quem foi o responsável pela propaganda da Alemanha Nazista? A resposta é simples.

Joseph Goebbels

Um gênio com as palavras. Um manipulador nato. Um orador formidável. Um homem que sabia como levar uma multidão ao delírio. Um homem cheio de inseguranças com relação à sua aparência e também ao fato de ter sido rejeitado ao serviço militar, o que o impediu de lutar na Primeira Guerra. Ele buscava compensação para o que lhe faltava e alcançou um doutorado em Filologia Alemã pela Universidade de Heidelberg. Um homem abençoado com o talento da comunicação, ele tinha o dom de colocar no papel seus pensamentos e visões e de transformá-los em discursos eloquentes e persuasivos.

Não há nada mais reconfortante que umas belas frases. E muitas foram elaboradas e utilizadas como armas para subjugar a Alemanha.

Um talento muito admirado por Adolf Hitler, quem, embora fosse um orador grandioso, era terrível em expressar os pensamentos com eloquência. Não que que Adolf Hitler fosse apenas uma marionete, mas, se considerarmos todos os discursos proferidos ao público alemão desde 1926, Hitler estava apenas pronunciando as palavras escritas por seu camarada, Joseph Goebbels.

Você pode se perguntar como uma pessoa consegue se envolver tanto com uma causa a ponto de escrever palavras tão horríveis. Nós geralmente nos esquecemos de como é fácil odiar e culpar os outros por nossas próprias limitações. É mais fácil olhar para fora do que para dentro. E Joseph Goebbels guardava muito ódio dentro de si. Ódio e raiva que ele pretendia usar em seu próprio programa de trabalho; do Partido Nazista direto para o mundo.

Nascido na Renânia – Rheydt, Alemanha –, em 27 de outubro de 1897, no seio de uma família católica muito estrita e de classe trabalhadora, Joseph Goebbels cresceu para se tornar um dos homens mais inteligentes do Terceiro Reich, como também era conhecida a Alemanha Nazista. Primeiro, ele finalizou o ensino primário em uma escola Católica Romana e, mais tarde, na premiada Universidade de Heidelberg, estudou História e Literatura, que culminou em um doutorado em Filologia Alemã. Ainda assim, com todo seu mundanismo e suas ambições intelectuais, Goebbels se julgava inadequado. Talvez, sentia-se assim por ter sido rejeitado pelo exército alemão devido a um pé torto, sequela de osteomielite que sofreu na infância e que o deixou mancando pelo restante de sua vida adulta. Ou, quem sabe, sua inadequação viera de sua compleição física; ele tinha uma cabeça grande, um porte pequeno e cabelos escuros, ao invés de um aspecto nórdico. A compleição nórdica, com cabelos loiros e olhos azuis, era a ideal.

Estar à altura do ideal era extremamente difícil

Joseph Goebbels não era um soldado, mas era incrivelmente fiel, além de um organizador meticuloso. Era perspicaz, clarividente, e sabia como aproveitar uma oportunidade para promover suas convicções ideológicas a respeito das dificuldades alemãs e dos métodos necessários para ajudar o país a reconquistar seus cidadãos.

Quando Goebbels se reuniu, pela primeira vez, com Adolf Hitler e seu partido político, o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (Partido Nazista), estava destacado em Berlim-Brandemburgo, onde o partido não era bem conhecido nem apreciado, e precisava ser formado do zero. Então, com a oportunidade de fazer do Partido Nazista de Berlim-Brandemburgo um sucesso e de provar a Hitler que era genial, Goebbels transformou aquela organização minúscula e conflituosa em uma máquina poderosa, que atiçava o povo. Como parte do plano, ele lançou um jornal semanal chamado “Der Angriff” (O Ataque) para difundir o antissemitismo.

Bem como o jornal, Goebbels elaborou cartazes que exibiam a força e o vigor do Partido Nazista, um partido que atendia aos maiores interesses da Alemanha. Ele distraía as multidões com diversos desfiles, batalhas de rua, brigas em cervejarias e tumultos causados por tiroteios – Goebbels sabia como deixar as pessoas alucinadas e utilizava essa estratégia incansavelmente em Berlim. Joseph Goebbels não apenas encantou as plateias em Berlim, mas também criou um herói. Um herói que morreu injusta e precocemente, um ex-estudante de direito e oficial paramilitar das Tropas de Assalto (mais conhecidas como SA), Horst Wessel.

Acreditava-se que Horst Wessel morava com a namorada, uma ex-prostituta, em um apartamento cuja dona era a viúva de um membro do Partido Comunista. Usando essa informação, Joseph Goebbels criou a seguinte narrativa: “Horst Wessel salvou a namorada da prostituição e lhe permitiu ter uma vida digna, ao apresentar-lhe os valores do Partido Nazista”. Horst Wessel já não era um sujeito que havia morrido sozinho com uma prostituta.

Por meio da propaganda e da ideologia do Partido Nazista, Horst Wessel tornou-se o modelo de um homem ideal, já que “teria sido” um homem brilhante e militarista que produziu uma transformação ao seguir os valores nazistas, a começar pela “prostituta” que deixou de fazer programas e uniu-se ao partido.

O hino do Partido Nazista foi, supostamente, escrito por Horst Wessel. Quando o Partido Nazista ascendeu ao poder, em 1933, esta afirmação passou a ser um fato que ninguém podia contestar sem sofrer sérias consequências.

Cartaz para o filme “Hans Westmar” (1933)

É incrível como a verdade pode ser distorcida. É incrível no que podemos chegar a acreditar.

Independentemente das contribuições de Goebbels para a grandeza do Partido Nazista, nada foi permanente até 1929, ano em que ocorreu a quebra da Bolsa de Valores de Nova York. A recessão econômica, inevitavelmente, mudou a maré em favor do Partido Nazista e ninguém tirou mais vantagem dessa crise do que Adolf Hitler, Joseph Goebbels e também o próprio partido.

Mestre da propaganda e formidável com as palavras, Joseph Goebbels provou ser imprescindível. Adolf Hitler estava impressionado com a habilidade de Goebbels de transformar a imprudente Berlim em uma verdadeira usina para a Alemanha Nazista. Assim, Hitler o nomeou Chefe da Propaganda Oficial do Reich em 1929, já que Goebbels realmente era a mente perfeita para mobilizar as massas e para levá-las da preocupação com o desemprego direto a um estado de frenesi. Para isso, Goebbels lhes apresentou bodes expiatórios e deixou claro a todos quem eram os culpados.

O ano de 1929 foi perfeito para que o Terceiro Reich se aproveitasse de uma Alemanha empobrecida. Tudo aquilo que Adolf Hitler havia profetizado aconteceu, e a perda de retorno financeiro assustou as pessoas. O povo alemão estava aterrorizado e, finalmente, pronto para ouvir o Partido Nazista.

Joseph Goebbels fez-se mais necessário do que nunca para fabricar a figura de Adolf Hitler como o salvador da Alemanha, um Führer que poderia trazer de volta a grandeza do país e livrá-lo das garras dos judeus, dos ciganos, dos comunistas e dos socialistas.

O dia da Quebra da Bolsa foi o divisor de águas. O mundo caiu em uma depressão econômica. Os países entraram em uma espiral negativa. Não havia dinheiro, mas, mesmo assim, os países exigiam que a Alemanha oferecesse reparações. Entretanto, o país já vinha endividado em decorrência dos estragos causados pela Primeira Guerra Mundial. A Alemanha não sabia o que fazer.

Por sorte, Joseph Goebbels, o ministro de Propaganda do Reich, sabia muito bem não apenas o que fazer, mas também como trazer o povo alemão para seu lado. Ele devia dizer o que queriam ouvir, deixando claro que os alemães não tinham culpa pelo que ocorria. Os culpados eram os conspiradores, aqueles que pretendiam sugar a riqueza da Alemanha de dentro para fora.

E os conspiradores eram ninguém menos que os judeus.

Os judeus, de acordo com a propaganda nazista, eram forasteiros. Eram sujos, gananciosos, importavam-se apenas consigo e queriam que a Alemanha sofresse.

Contudo, a verdadeira humilhação dos judeus só teve início cinco anos depois, quando Joseph Goebbels assumiu o controle de toda a indústria cinematográfica. Era 1933: um ano imperfeito, dependendo do ponto de vista1.

Joseph Goebbels podia ter pensado que 1933 estava sendo um ano excelente, com Adolf Hitler nomeado chanceler e ele próprio indicado ao Ministério do Reich para Esclarecimento Popular e Propaganda.

Eram tempos aterrorizantes.

Era a hora de uma “limpeza”, de uma purificação da Alemanha. Tudo aquilo que fizesse o país parecer fraco deveria ser descartado, queimado e neutralizado. Tudo o que fosse contrário ou desafiasse a filosofia nazista deveria ser destruído, eliminado.

Cautela com a cultura do cancelamento

Não havia nada mais prejudicial ao controle nazista do que um ponto de vista contrário.

Sempre se questiona como o povo alemão pode ter permanecido tão ignorante e dócil durante a Era Nazista. Os alemães nunca souberam o que realmente estava acontecendo. A verdade foi escondida das pessoas pelo governo – os nazistas.

Os livros foram cancelados primeiro – foram queimados!

Qualquer livro que mostrasse um mínimo de fragilidade alemã devia ser queimado. A obra “Im Westen nichts Neues” (em português, “Nada de novo no front”), de Erich Maria Remarques, conta a história de um grupo de amigos que, a pedido do professor do colégio, alistaram-se para lutar na Grande Guerra em 1914. Os garotos haviam acabado de concluir o colégio e se alistaram para servir como orgulhosos e zelosos alemães. Porém, uma guerra travada em duas frentes era uma façanha impossível. Remarques escreve, usando outras palavras, que o protagonista, Paul, vai se cansando da guerra, de lutar e de seu dever em continuar batalhando.

Portanto, “Im Westen nichts Neues” devia ser queimado.

Marcel Proust, Hellen Keller, Albert Einstein, H.G. Wells, Thomas Mann, Heinrich Mann, Arnold Zweig, André Gide, Jack London, Émile Zola e Sigmund Freud. Todo o trabalho deles também foi condenado a ser destruído. Pontos de vista contrários ao nazismo não deveriam ser lidos na Alemanha Nazista.

Trabalhos destruídos. Qualquer negócio operado por judeus devia ser boicotado. Os profissionais judeus do teatro, do direito, da medicina e de qualquer outra carreira artística deviam entrar em uma lista negra e ser demitidos.

Como ministro do Entretenimento, Goebbels transportou seu eficaz poder de transformação para as telas e para a história. Usando um ódio profundo enraizado contra os judeus, Goebbels transformou a história desse povo na Europa e passou a retratá-los como parasitas que perturbavam o mundo tranquilo.

Cartaz de exibição de Der Ewige Jude (O Eterno Judeu), 1937

Cartaz de cinema britânico do filme Jew Süss, 1934

Comecemos com o filme “O eterno judeu”, ou “Der Ewige Jude”. É um filme objetivo, que enfatiza “a degeneração da raça judia” e como os “judeus viajavam de país em país, destruindo todos eles”. “Der Ewige Jude” foi um filme que agradou mais a Adolf Hitler.

Um filme simples, que ia direto ao ponto. Um filme que Heinrich Himmler – aquele que almejava ser soldado e líder do Esquadrão de Proteção (SS) – incentivou que fosse visto justamente pelos soldados nazistas e pelos guardas da SS.

No filme, Josef Süss Oppenheimer era um homem que trabalhava para o Duque de Württemberg, no século XVIII. Oppenheimer, judeu, era ainda o consultor financeiro do Duque Carlos Alexandre. Oppenheimer não apenas o assessorava com as finanças, mas também recolhia impostos da população para o Duque Carlos Alexandre de Württemberg.

Após a morte do duque, Josef Süss Oppenheimer perdeu o emprego e um tribunal o condenou à execução.

A história de Josef Süss Oppenheimer foi a de uma tragédia humana — de como os seres humanos podem virar as costas a outros devido apenas à sua identidade, tanto a profissional quanto a pessoal.

A história do consultor financeiro do Duque de Württemberg, no século XVIII, foi distorcida – contaram uma outra que mostrava apenas a presunção e a ganância dos judeus.

Esse filme não era um relato real. Foi uma história adulterada para atrair a cultura popular.

Com isso, apenas uma mensagem estava sendo filtrada para o povo alemão: a de que os judeus não deveriam ser vistos como dignos de pena, nem como generosos, inteligentes, amáveis ou amigáveis. Os judeus, na visão dos filmes da Era Nazista, eram seres narcisistas, gananciosos, sujos e manipuladores. Eram pessoas vis que causavam devastação e conflito. Ao menos era isso o que a dizia a propaganda nazista liberada ao público.

Quando alguém recebe uma mesma mensagem várias e várias vezes, torna-se realmente difícil encontrar um argumento razoável e prático para rebatê-la.

É difícil revidar quando tiram tudo de você.

O Partido Nazista estava no poder. Adolf Hitler era o Führer, ou o líder da Alemanha, mas não era ele quem tomava as decisões mais importantes sobre o que deveria ou não ser feito.

Hitler recebe o crédito pelo crescimento do nazismo, mas ele não criou o Terceiro Reich sozinho. Ele não era capaz de alcançar esse desafio isoladamente. Hitler pode até ter sido um ótimo orador, mas suas habilidades de escrita, de liderança e sua estratégia militar não o permitiriam tanto.

Foi Joseph Goebbels quem criou a imagem de Adolf Hitler, o brilhante estrategista militar no campo de batalha e em casa, o líder cuja ausência levaria a Alemanha à derrocada e a se aprofundar ainda mais na escuridão.

Adolf Hitler não era o responsável pela toma de decisões. Seu círculo de assessores de confiança e de oficiais de alta patente tomaram todas as decisões que levaram o nazismo ao poder no país. Dentre todos, o assessor mais leal e mais próximo de Hitler era Joseph Goebbels, o Ministro para Esclarecimento Popular e Propaganda. Foi ele quem fez o melhor para enfeitiçar todo o país com a ideologia nazista, enquanto Heinrich Himmler autorizava seus guardas da SS a aterrorizar quem combatesse o terrorismo nazista dentro do Terceiro Reich. A SS não era uma força militar, mas a guarda pessoal do Führer e dos seus assessores, responsável por apavorar e torturar os cidadãos que questionassem as políticas nazistas.

O plano do Terceiro Reich não era de entrar em guerra contra o mundo. O plano era exterminar seus inimigos: os judeus. O Reich não estava preparado para uma guerra total, para uma batalha em duas frentes. Porém, não podia simplesmente se render – ao menos não enquanto Adolf Hitler estivesse vivo.

Existia uma devoção que inspirava a admiração e a lealdade por parte de todos os assessores do Terceiro Reich em torno a Adolf Hitler. Ninguém queria contrariá-lo, sobretudo Joseph Goebbels. A devoção de Goebbels à causa era a devoção a Adolf Hitler, mas também ao ódio que ambos compartilhavam pelo povo judeu.

A inevitável derrota do Terceiro Reich frente aos exércitos britânico, americano e soviético levou os oficiais do Partido Nazista a lutarem por seu futuro ante um eventual colapso do governo.

Para o Ministro da Propaganda, aquilo significava esconder-se no Bunker juntamente com o Führer e seus entes queridos, uma vez que o ministro não suportaria viver em um mundo sem Adolf Hitler.

Quando a derrota estava próxima e o Partido Nazista percebeu que a Alemanha não tinha chance de se reerguer, Joseph Goebbels discursou pela última vez para a população, em Berlim. Na sua fala, Goebbels ordenou que os alemães deveriam sempre apoiar a guerra, porque caso a Alemanha estivesse fadada à derrota, seria merecido que a nação e seu povo fossem arrasados.

Após esse último discurso ao povo alemão, Joseph Goebbels fugiu com sua família, Eva Braun e Adolf Hitler para o abrigo antiaéreo fora de Berlim, onde as tropas soviéticas estavam começando a se reunir.

Desdenhando de seu país e agitando a população com imagens e histórias mitológicas, Joseph Goebbels muito provavelmente sabia que não havia nenhuma possibilidade de que os Aliados o liberassem para viver de maneira tranquila. Além disso, ele não queria viver em um mundo sem Adolf Hitler. A esposa de Goebbels, Magda Quandt-Goebbels, tampouco queria, já que também tinha seu próprio fascínio por Hitler (inclusive, pedia-lhe conselhos matrimoniais vez ou outra). A família Goebbels era, portanto, devota a Adolf Hitler, não à causa nazista. Assim, no dia seguinte ao assassinato-suicídio de Adolf Hitler e de Eva Braun, os Goebbels se suicidaram.

Cuidado com as pessoas cegamente devotas. Desconfie daquelas que seguem uma figura puramente por conta de quem são e de como os percebem.

A lição que deve ser aprendida aqui é: seja cauteloso com qualquer um que saiba como elaborar uma frase verdadeiramente bela e agradável. Desconfie de escritores, pois eles podem ser maliciosos com as palavras.

Qualquer um que consiga expressar seus pensamentos por meio de frases encantadoras, que podem ser memorizadas, repetidas e reverberadas com tanto deslumbramento é perigoso.


Traduzido do inglês por André Zambolli / Revisado por Graça Pinheiro

 

¹ N do T:  Alusão à obra “The Economics of Imperfect Competition” (A economia da concorrência imperfeita, em português), de Joan Robinson, que foi publicada em 1933 e contribuiu para o desenvolvimento da teoria econômica contemporânea.

Trabalhos citados

History.com Editors. “Joseph Goebbels.” HISTORY, A&E Television Networks, 24 March 2010, https://www.history.com/topics/world-war-ii/joseph-goebbels
Joseph Goebbels, www.jewishvirtuallibrary.org/joseph-goebbels.

Outras fontes (equipe de tradução):
Joseph Goebbels – Children, Death & Facts – HISTORY