Em julho de 2021, o mundo testemunhou como chuvas torrenciais produziram enchentes que arrastaram casas centenárias na Europa, causaram deslizamentos na Ásia e inundaram metrôs na China. Mais de 900 pessoas morreram com a destruição. Na América do Norte, a região Oeste estava batalhando contra queimadas em meio a uma seca intensa que está afetando o abastecimento de água e energia.

Os riscos relacionados à água podem ser excepcionalmente destrutivos, e o impacto das mudanças climáticas sobre eventos como esses estão se tornando cada vez mais evidentes.

Em uma nova avaliação internacional do clima, publicada no dia 9 de agosto de 2021, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alerta que o ciclo da água está se tornando mais intenso e continuará a se intensificar conforme o planeta esquenta.

O relatório, no qual trabalhei como autor principal, documenta um aumento tanto nos extremos climáticos úmidos, incluindo chuvas mais intensas na maioria das regiões, quanto nos extremos climáticos secos, incluindo secas na região do Mediterrâneo, sudoeste da Austrália, sudoeste da América do Sul, África do Sul e oeste da América do Norte. Ele também mostra que ambos os extremos continuarão a aumentar com o aquecimento futuro.

Por que o ciclo da água está se intensificando?

A água circula pelo meio ambiente, movendo-se entre a atmosfera, os oceanos, os continentes e os reservatórios de água congelada. Ela pode precipitar na forma de chuva ou neve, penetrar no solo, ir em direção a um corpo d’água, juntar-se ao oceano, congelar ou evaporar de volta à atmosfera. As plantas também absorvem a água do solo e a liberam por meio da transpiração de suas folhas. Nas décadas mais recentes, houve um aumento geral nas taxas de precipitação e evaporação.

An illustration showing how water cycles through precipitation, runoff, groundwater, plants, evaporation and condensation to fall again.

Alguns pontos-chave no ciclo da água. NASA

Uma série de fatores está intensificando o ciclo da água, mas um dos mais importantes é o fato de que temperaturas cada vez mais altas elevam o limite superior da umidade no ar. Isso aumenta o potencial de mais chuvas.

Esse aspecto das mudanças climáticas está confirmado por todas as nossas linhas de evidências: isso é esperado pela física básica, projetado por modelos computacionais, e já é mostrado também nos dados de observações como um aumento geral na intensidade de chuvas com temperaturas mais quentes.

Entender isso e outras alterações no ciclo da água é importante não apenas para a preparação contra desastres. A água é um recurso essencial para todos os ecossistemas e sociedades humanas, particularmente para a agricultura.

O que isso significa para o futuro?

Um ciclo da água mais intenso significa que tanto os extremos climáticos úmidos quanto os secos e a variabilidade geral do ciclo da água aumentará, embora não de maneira uniforme ao redor do globo.

É de se esperar que a intensidade das chuvas cresça na maioria da superfície terrestre, mas os maiores aumentos na seca são esperados na região do Mediterrâneo, no sudoeste da América do Sul e no oeste da América do Norte.

Maps showing precipitation projections and warming projections at 1.5 and 3 degrees Celsius.

É previsto um aumento na precipitação anual média em diversas áreas conforme o planeta se aquece, especialmente nas maiores latitudes. Sexto Relatório de Análise do IPCC

Globalmente, eventos de precipitação extrema diários tenderão a se intensificar em torno de 7% para cada grau Celsius (1,8ºF) a mais na temperatura global.

Muitos outros aspectos importantes do ciclo da água também sofrerão alterações juntamente com os extremos à medida que as temperaturas globais se elevem, mostra o relatório, incluindo reduções das geleiras, diminuição na duração da camada sazonal de neve, derretimento precoce do gelo e mudanças contrastantes nas chuvas de monções em diferentes regiões, as quais impactarão sobre os recursos hídricos de bilhões de pessoas.

O que pode ser feito?

Um tema comum dentre esses aspectos do ciclo da água é que maiores emissões de gases de efeito estufa causam impactos mais graves.

O IPCC não faz recomendações de políticas. Ao invés disso, ele promove informações científicas necessárias para que se avaliem cuidadosamente escolhas de políticas. Os resultados mostram as possíveis implicações que as diferentes escolhas podem ter.

Um ponto que a evidência científica no estudo claramente ensina aos líderes mundiais é que limitar o aquecimento global à meta do Acordo de Paris, de 1,5ºC (2,7ºF), requer reduções imediatas, rápidas e em larga escala nas emissões dos gases de efeito estufa.

Independentemente de qualquer meta específica, está claro que a gravidade dos impactos das mudanças climáticas está intimamente ligada às emissões dos gases de efeito estufa: reduzir as emissões reduzirá esses impactos. Cada fração de temperatura importa.

Beth Dailey, editora e diretora geral


Traduzido do inglês por André Zambolli / Revisado por Graça Pinheiro