Por Cláudio Di Mauro*

Os dias difíceis pelos quais temos atravessado nos mostram o tamanho e os limites dos poderes estabelecidos e a dimensão das riquezas materiais. Expressam os sofrimentos colocados para os setores subalternizados em função das relações sociais e econômicas. Muito sofrimento para pobres e oprimidos. Mas, com oportunidade para os setores privilegiados que embora estejam sendo beneficiados economicamente, reconhecem a situação que está imposta aos sofrimentos humanos.

Muitos dos setores que usufruem dos privilégios percebem quanto dependem dos setores subalternizados que ficam mais expostos aos riscos de contaminação e de óbitos. Embora os mais ricos não sejam as pessoas que estão expostas à enfermidade, mesmo assim temos visto, muitos deles irem a óbito.

Agora, vivemos momentos de grandes sofrimentos e medos, ainda assim há dúvidas como serão os dias de amanhã, pós pandemia.

Mesmo assim, nesta fase, prevalecem atitudes que objetivam obter vantagens com o sofrimento de tantas pessoas. Sejam vantagens econômicas, eleitorais, de conquistas e manutenção de poder.

Ultraje e solidariedade

A humanidade tem a possibilidade de expor sua face mais ultrajante. Mas, também expõe as faces da solidariedade e das ações de fraternidade. Ações que podem transformar as realidades no futuro da vida no Planeta Terra.

Enquanto há setores sociais e econômicos só pensando no usufruto das dores de outrem, há também aqueles que se dedicam a apresentar para a humanidade outros trajetos, na direção de novos rumos. É possível que uma modificação no quadro social esteja se configurando. Ainda que os setores economicamente mais pobres tenham sido mais empobrecidos, e os 3% mais endinheirados tenham perdido menos.

Aprendizagens

Mesmo gerando tantos sofrimentos, a pandemia se oferece como uma escola com aprendizado para a humanidade.

Quanto podemos esperar dos governantes situados nos poderes instituídos? Quais são os que se sentem “poderosos” e que de fato se fazem presentes com ações em favor das vidas? Onde se situam as ações da elevação dos atos de amor e solidariedade com o Planeta, com seus habitantes, sejam humanos ou dos demais animais e vegetais?

As cozinhas comunitárias instaladas nos bairros mais empobrecidos; o exemplo do padre Júlio Lancelotti destruindo concreto fixado sob os viadutos para impedir a proteção de famílias, por absoluta falta de outra alternativa; a formação de coletivos com objetivo de ajuda e proteção, ainda que limitada para os setores mais fragilizados… são atitudes que nos apontam para um futuro com solidariedade de classe.

Ponta de esperança

Está claro que há núcleos dos Movimentos Populares, entre os que pouco ou menos têm condições econômicas e financeiras, dedicados a amenizar tantas dores, para pessoas submetidas a situações de sofrimento físico e mental. Há uma luta insana para conseguir a aprovação de medidas que ofereçam e estendam socorros emergenciais para tantas famílias colocadas em situação de desespero, e amargura, desamparadas pelo Estado Brasileiro nos três níveis e nas três esferas.

Há uma pontinha de esperança que ilumina no final deste túnel tão escuro. As vacinas contra o vírus letal.

Lentamente, estamos nos dirigindo para a vacinação dos setores mais expostos aos riscos de contágio e de agravamento das enfermidades que podem levar ao óbito. A lentidão na vacinação, mostra o nível superficial das prioridades para poderes e instituições. O argumento, sempre, é a falta de dinheiro. Dinheiro que não falta para proteger os endinheirados, banqueiros.

Exemplo de Manaus 

Enquanto a vacinação segue lentamente, as nossas crianças e jovens são expostos aos riscos da contaminação e de contaminar seus professores e demais setores da Educação. O exemplo de Manaus, no Amazonas, não está sendo levado em conta. Depois de 20 dias em que as escolas estavam reabertas, foram detectados 342 casos de covid em profissionais da educação.  A volta às aulas presenciais é mais uma demonstração de que ao sistema político e econômico não se privilegia a vida.

Parcela enorme do orçamento anual da União vai para pagamento da chamada “dívida pública”, não esclarecida sobre o que de fato se está pagando ou protelando, nem como ela foi contraída. Este é o momento em que tais recursos financeiros deveriam ser dirigidos para acelerar os processos de obtenção de vacinas e para a vacinação em massa. As vidas precisam ser reconhecidas como importantes.

Capitalismo é autodestruição

Se o sistema político e econômico não está preparado ou não quer resolver os problemas gerais, temos que buscar outra alternativa.

O capitalismo mostrou que a superexploração da força do trabalho e dos demais componentes da natureza levam o mundo à sua autodestruição, o que de fato configura a autodestruição da espécie humana.

*Cláudio Di Mauro é geógrafo, ex Prefeito de Rio Claro, Sp e colaborador da Diálogos do Sul

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