O ano escolar está chegando ao fim, provavelmente, o mais difícil da nossa história recente. Difícil em vários aspectos: no processo ensino-aprendizagem, no desenvolvimento socioemocional e nas relações interpessoais. Para os alunos que estão concluindo o último ano do ensino médio, este ano foi particularmente difícil porque não tiveram a oportunidade de consolidar suas amizades que, muitas vezes, duram uma vida inteira.

Algumas instituições de ensino, aplicando todos os protocolos sanitários, deram aos alunos que concluíram o ensino médio a oportunidade de receber o diploma junto com o reconhecimento acadêmico e social que a graduação do colégio representa. Mas, também houve instituições que não abriram mão dos seus equivocados valores sexistas e não permitiram que seus estudantes se graduassem. Em La Serena ― capital da região de Coquimbo, Chile ―, um jovem não pôde se graduar por causa do seu corte de cabelo.

O cabelo, ou o estilo de usá-lo, é uma das expressões corporais que mais sustentam os estereótipos de gênero: comprido para as mulheres, curto para os homens. Qualquer outro corte ou estilo é interpretado como um “desvio” do padrão. Uma das condutas sexistas mais destacadas na educação é o controle do corte de cabelo por parte dos Regulamentos Internos das instituições de ensino. A outra conduta que disputa o título pela supremacia na conduta sexista é o uniforme diferenciado entre homens e mulheres.

Aqueles que defendem a aplicação de normas para que a apresentação das/dos estudantes seja uniforme e regular, mas que rejeitam esse fato como conduta sexista, não percebem que tais situações representam somente a ponta do iceberg. Quando será que conseguirão enxergar que o outro lado da moeda de educar homens fortes para serem provedores e enfrentarem um mundo adverso é, justamente, ter menos preocupação pelas mulheres, que devem realizar “trabalhos menores” associados aos cuidados das crianças e da casa?

Entretanto, a educação sexista é parte também da nossa institucionalidade. A Superintendência da Educação observa que: “Cada instituição, junto à sua comunidade, pode estabelecer o uso obrigatório do uniforme e controlar a apresentação pessoal dos estudantes nos seus próprios Regulamentos Internos, para que sejam consistentes com os seus respectivos projetos educacionais”.

Nesse caso, cabe a pergunta: até onde pode chegar essa regulação? A resposta se enquadra na Lei: “No entanto, essas disposições nunca poderão implicar uma discriminação arbitrária que possa vir a afetar a dignidade dos estudantes ou excluí-los das atividades escolares por não cumprirem com as exigências estabelecidas para a apresentação pessoal”. Ou seja, serão as/os estudantes, suas famílias e aqueles que colaborem com os projetos educacionais, como a Fundação Semilla, os que devem abrir os olhos, através dos meios que cada um tenha ao seu alcance, para que a sociedade se conscientize de que uma educação sexista é prejudicial tanto para homens como para mulheres, mas que, principalmente, é prejudicial à sociedade como um todo.

A educação não sexista começa a desenvolver um novo olhar, ao possibilitar o reconhecimento de pequenas ações que marcam homens e mulheres para sempre. Por isso, sempre é válido perguntar: quando falamos de educação não sexista, do que estamos falando?


Traduzido do espanhol por Graca Pinheiro / Revisado por José Luiz Corrêa