Após escrever “Eleitores brancos a favor da Frente de Ação Política de Biden” algumas semanas atrás, Javier Castaño, diretor do Queens Latino, perguntou se eu poderia escrever um artigo sobre a importância do voto Latinx nas eleições presidenciais de 2020 dos EUA.

A eleição que está por vir não é uma campanha política tradicional, mas uma luta cultural entre um candidato, o Republicano, que está tentando reforçar a supremacia da cultura branca, e o outro, um Democrata centrista neoliberal.

Temos de nos lembrar que Trump foi eleito como um contragolpe à presidência de Barack Obama, já que uma grande parte da comunidade branca não gostava de ter um presidente negro. Desde o Dia Um, a agenda de Trump tem sido voltada a destruir tudo o que foi feito durante a administração anterior. Esses atos também vêm acontecendo em alguns países da América do Sul, os quais tinham alcançado avanços sociais interessantes, tais quais o Brasil após os governos Lula/Rousseff, com a eleição de Bolsonaro; e na Colômbia, com a eleição de Duque Márquez após a administração de Santos.

Nos EUA a verdadeira luta ainda não começou, e esta eleição pode ser a faísca para acender o fogo. A luta será produzir uma revolução cultural não violenta, da qual transformará a atual sociedade de hegemonia branca em uma comunidade realmente multicultural. Essa transformação repercutiria muito além das fronteiras dos EUA, e poderia transformar potencialmente uma grande parte do mundo.

Todos nós vimos as imagens atrozes de famílias latinx sendo separadas enquanto estavam sob custódia do ICE, a agência de Imigração e Alfândega dos EUA, que mantinham crianças pequenas sozinhas em jaulas. Também vimos como caravanas da América Central estão sendo paradas na fronteira com o México, deixando esses emigrantes a mercê dos cartéis locais. Essas ações foram tomadas para mostrar à comunidade Latina que ela não é bem-vinda nos EUA. Todas tiveram a intenção de gerar medo e demonstrar a supremecia cultural. São as mesmas táticas racistas que foram usadas contra negros, mas agora aplicada a latinxs.

O maior obstáculo para nossa luta é a ilusão mantida por algumas pessoas de que os latinos podem se tornar “brancos” e se integrarem nesta cultura de poder. Isto não aconteceu e nunca irá. Para os brancos do ocidente, não importa se você é colombiano, chileno ou mexicano e fala espanhol (ou português). Isto é suficiente para torná-lo o “outro”.

Se aprendemos uma coisa com a pandemia do Coronavírus é que o sistema nos EUA é diferente para pessoas de cor e para a comunidade branca. Em relação à idade, negros e latino-americanos têm 3.3 vezes uma maior probabilidade de morrer por COVID do que seus vizinhos brancos.

Esta campanha presidencial força qualquer americano que vem do sul da fronteira do México a se reconhecer como LATINX. Os negros entenderam isso bem antes em sua luta, e mostraram orgulho por sua identidade cultural como NEGROS.

É quase impossível que Biden ganhe esta eleição sem ganhar os votos da população negra e latinx. Não é possível esperar que Biden una as divisões políticas existentes na comunidade latinx entre esquerda/direita, socialismo/capitalismo etc., mas na realidade essas divisões têm pouco a ver com esta eleição. Os dois principais candidatos são capitalistas, neoliberais, militaristas. Mas um também é claramente anti-humanista, antidemocrata, nacionalista e profundamente comprometido em preservar a cultura dominante dos brancos. Mais quatro anos aprofundariam essas divisões dentro do país e envenenaria as relações com as pessoas pelo mundo.

Imagine só por um minuto um movimento de “LATINXS a favor de BIDEN” unindo milhões de latinx-americanos, de Cuba ao Chile, com somente um objetivo: confrontar abertamente a questão da discriminação nos EUA em todas as suas formas. Tudo se ajustaria depois disso. Este não é o momento de formar pequenos grupos, como colombianos a favor de Biden ou quaisquer outras subdivisões. Biden não tem um projeto político específico para cada país da América Latina, e esta nem é a questão.

Este é um momento crucial para Latino-Americanos. Será que eles querem que sua cultura seja uma subcultura dos brancos do ocidente, ou, pelo contrário, eles estão aptos a ajudar a nos guiarem por um caminho diferente e lançar uma imagem do futuro baseada nas melhores qualidades e valores da riqueza de sua própria cultura? Esta eleição se trata de escolher seguir em uma nova direção. Conectar-se com o que as pessoas trazem em seus corações é a única escolha coerente para o futuro da humanidade. Votar em Biden é apenas um pequeno passo nessa incrível jornada, mas um importante passo a dar.


Traduzido do inglês por Gabriela Assis Santos / Revisado por Isabela Gonçalves