Os números sobre os quais esse texto analisa e reflete em informações e possibilidades de ações são os divulgados, com acesso para as pessoas “normais” (entre as “normais”, as que podem e querem), vindos do que se considera redes confiáveis e com credibilidade mundial ou nacional. Ou seja, os mesmos números que são considerados em academias, centro de estudos, grupos sociais comprometidos com a correspondência real e com o verdadeiro nas conclusões construídas. Isso, vale o que está escrito, os números não estão postos ou dispostos, não são dados e muito menos existem a priori, sem que sejam só uma escrita sem relação contextual ou com o real no próprio processo em que são construídos. Sabe-se bem, ao menos o suficiente no século XXI, que números são apresentações de construções racionais, com inteligências e técnicas que seguem objetivos e interesses com correspondência ideológicas, políticas, posições sócio-históricas. Portanto, podem aparecer diferentes, pois, querem representar questões com significados e símbolos também diferentes, além de serem impregnados de objetivos distintos.

Os objetivos nesta singela contribuição são os de defender a vida em um tempo de morte imposta. Infelizmente não há condições de ter construções de indicadores e a partir destes construir números comprometidos com o real, mais próximo o possível do inatingível, mas que se pode aproximar ao máximo com organização teórica, com compromisso e rigor. Mas, ao menos, pode-se mostrar as contradições, se apropriar da crítica comprometida por uma análise dialética e histórica, apresentando ações necessárias e possíveis que defendam a vida. Assim será, portanto, o breve percurso que nessa pequena contribuição se buscará construir.

Durante a pandemia do século XXI, ainda em processo de acontecimentos, principalmente dos impactos das doenças e mortes, as principais razões para os números são as da política. O investimento da política em ciência e organização do conhecimento acumulado por meio da educação. O investimento da política em informações verdadeiras, opostas aquilo que se chamou de fake news, com liberdades para as ideias diferentes circularem e se confrontarem. Investimentos que são raros ou inexistem neste momento.

Afinal, que se afirme e escreva na pedra, não existe cidade com processos de democratizações ativas, que não vivam conflitos, diferenças, contradições e antagonismos. No mundo atual, para que poucos acumulem muito, muitos precisam não ter acesso aos acúmulos das coisas: sejam mercadorias, propriedades, dinheiro ou capital. Os valores e preços estão sempre em conflitos com indisposições que, na maioria das vezes, empurra a vida da maioria das pessoas para a morte.

É importante que seja frisado e sublinhado: as pessoas que são empurradas para a morte pelas condições políticas, sociais e culturais, são justamente a grande maioria, multidões existentes que, também majoritariamente, ou hegemonicamente, não pensam e agem como, com e para a maioria. Por isso a ilusão da minoria com peso de maioria ganha predominância do tempo real. E as multidões seguem ideias, estéticas, práticas e visões de mundo das minorias.

É isso, infelizmente, vive-se em um mundo no qual a minoria das pessoas conseguiram, por meio de grupos sociais com poder econômico, que se apropriaram do que deveria ser COMUM, e utilizam para favorecer suas próprias vidas, empurrando a grande maioria para a não vida. Seja a não vida com a vida biológica deixando de existir ou a não vida com a vida social, histórica e cultural ceifada. Nos dois casos em que a morte é biológica ou social, cultural e histórica, a grande maioria forma grupos sociais que vivem tais consequências negativas e devastadoras. E, hegemonicamente, a grande maioria acaba repetindo as inverdades que a minoria social utiliza para retirar todos os direitos da humanidade.

Mas continuando a prosa, também é importante esclarecer que as escolhas para os números aqui feitas são para comprovar as hipóteses da predominância da política e apresentar um quadro que seja abrangente mais possível de ser compreendido. Por tais razões se apresenta o universo a partir do qual os números aqui são organizados que se apoiam nas informações dos impactos que são, majoritariamente tratadas, como responsabilidade do COVID-19, mas ainda que seja esse o inimigo invisível da hora e que pode ser usado para aparecer como genocida, o genocídio é imposto por meio da política que predomina com exploração, opressão, controle e condenação. Portanto, houve uma escolha aqui, que se declara nada neutra, de pinçar nas principais regiões do mundo – América, Europa, Ásia e África – 4 países numerosos com população, pessoas humanas, que impactam em escala internacional e, certamente, incluir e focalizar o Brasil, local no qual esse texto é escrito e formulado. Afinal, também importante registrar que esse é o dia e o tempo que os números declaram que o Brasil, país da América do Sul mais numeroso do que chamam Homo Sapiens, ultrapassou 100 mil mortos na pandemia atual.

Desde 2011 as Nações Unidas afirmam que há 195 países e que o total da população mundial é de 7,8 bilhões. E vale lembrar que os 5 países aqui apresentados – BRASIL, ÍNDIA, RUSSIA, ARGÉLIA E ESTADOS UNIDOS – representam apenas 2,6% do número de países que a ONU diz existentes, mas agrupam, segundo as informações disponíveis do mesmo organismo, 26,5% da população mundial. Expressões e informações muito significativas para o que aqui importa nessas poucas linhas e letras.

Vale reforçar que o discurso espalhado e hegemônico sobre a crise que impregnou todo o mundo com a pandemia afirma que a responsabilidade é de um vírus. Nada de aproximação com o verdadeiro se tem com tal afirmação. A crise é responsabilidade (ou irresponsabilidade) evidente e incontestável da organização e ação que predominam no capitalismo; portanto, os responsáveis são os poderosos. Pode-se também afirmar, e esse texto compactua com esta compreensão,  que predomina uma condição de “necropolítica” com escala de hegemonia global (internacional) que possui impactos, na vida, profundamente desiguais. O piano não aparece igual para todas as pessoas que existem no globo terrestre, sem o conhecimento do que há por dentro; o que se pode sentir daquilo que está por fora é absolutamente distinto e com impactos profundamente desiguais.

Segundo as informações que se tem acesso, quando o Brasil chegou oficialmente ao número que ultrapassou 35 mil mortes nesta pandemia – isso ocorreu 5 de julho de 2020 – ultrapassou também a quantidade óbitos da chamada gripe espanhola. Nada a ver com a Espanha a origem e a responsabilidade do vírus e, na época, o país mais impactado foi o decadente imperialismo dos Estados Unidos. Segundo a Biblioteca Nacional dos EUA, morreram no mundo cerca de 50 milhões de pessoas, 2,7% da população mundial na época e no próprio EUA foram 675.000 óbitos.

Vale lembrar que a pandemia do início do século passado, também chamada de GRANDE GRIPE, teve como inimigo invisível o vírus INFLUENZA e durou cerca de 3 anos no mundo, de 1918 até 1920. Foram atingidos com infecções cerca de 500 milhões de pessoas com os números que os organismos internacionais afirmam existir na população da época. Ou seja, no mínimo, pode-se afirmar que esse seria um tema que deveria estar nas escolas, nos espaços que organizam conhecimento, com uma inspiração pública, para que, ao menos, as pessoas tomassem acesso que o nome gripe espanhola foi pela grande divulgação na imprensa da Espanha e que a política devastadora da guerra, com seus interesses de dominação imperialista, foi a grande responsável pelo ocorrido.

Certamente que, no Brasil, a gripe espanhola tomou com peso devastador São Paulo. Afinal, como dizia Noel Rosa, “São Paulo dá café” e o café já foi considerado uma “grande riqueza do país”. Mas o epicentro da chegada do vírus foi nos grandes portos e, por essa razão, Salvador, Pernambuco e Rio de Janeiro sofreram grande impacto com essa devastadora pandemia. Um conhecimento que merecia, para contribuir com os cuidados da vida no mundo de explorações e opressões que nos toma, ser organizado nas escolas, nos centros de estudo e se tornar o mais público possível. Pode-se ter noção que em tempo que o público é uma ficção, que o COMUM está apropriado por uma minoria e que as pessoas vivem uma escravidão e são empurradas para o sentido de insetos e mercadorias, o bom senso é algo que muito falta para fazer a roda da vida rodar e viver.

Mas é isso que está em jogo, fazer e garantir que a vida viva. Ou seja, tratar, ao menos nesta época, a ideia de exceção não para ampliações de exploração, controle e repressão, mas para fazer o necessário que é faltoso em países de capitalismo tardio e colônias que sofrem a pressão da necropolítica poderia ser um consenso, ainda que momentâneo. Mas não, o lucro é imposto como mais importante que a vida. Não há dúvida, que para a vida viver é necessário, fundamental e urgente, tributar os super ricos e garantir para todas as pessoas uma renda básica universal e incondicional para todos os tempos. Possível é, mas vontade da minoria poderosa não há. Esse é tempo de radicalizar com a democracia e com a defesa da vida e superar quaisquer romantismos de resistência que se apodere do nosso fragilizado ser. Portanto é hora de radicalizar, avançar e agir a favor da vida, organizando uma potente e grande unidade política no país e no mundo.