Morte do garoto Marcos Vinícius (14 anos), atingido por uma bala possivelmente disparada por policiais pelas costas é mais um dos tristes resultados da Intervenção Federal no Rio e da política de combate às drogas. Que enxuga gelo, só que ao invés de água, sai sangue.

Marcus Vinícius da Silva de apenas 14 anos se dirigia para escola a qual estudava quando foi vítima de uma bala que perfurou as suas costas e tirou a sua vida. Isso ocorreu em uma operação policial no complexo de comunidades da Maré. O garoto agonizou nos braços da mãe e teve que esperar por uma hora para que uma ambulância do SAMU pudesse adentrar na comunidade. Familiares e outras testemunhas dizem que o tiro partiu de um blindado da polícia, o famoso “caveirão” veículo blindado utilizado em operações da polícia fluminense. Além do “tanque do Bope”, do batalhão de operações especiais da Polícia Militar do Rio, na operação policial em que Vinícius foi morto também foi utilizado um helicóptero blindado, “um caveirão com asas”.

O estado do Rio está sob uma intervenção federal. Os militares estão controlando as polícias civis, militares e os órgãos de inteligência da secretaria de segurança pública do estado carioca. A morte de Vinícius é um dos exemplos da ineficácia da atual política de segurança pública, baseada no uso de armas e na repressão, como no uso de helicópteros e blindados terrestres, que aumentam o nível de letalidade das operações.

A atual política de segurança pública, de combate às drogas, é totalmente ineficaz. Se faz necessário pensar em outras formas de tratar sobre o assunto, meios que não coloquem em risco a vida de inocentes, como o garoto de apenas 14 anos.

Toda medida baseada na retórica da bala para a solução de problemas sociais, como a liberação do porte de armas, é uma resposta de curto prazo para um problema complexo. Uma medida que é paliativa, não vai resolver o problema, e pode, inclusive, aumentar o número de homicídios.

Quantas pessoas inocentes vão ter que morrer para que ocorra uma mudança nas políticas públicas voltadas para a segurança? Quantas Marielles são mortas por denunciarem a ação das milícias no Rio? Quantos Vinícius são mortos, quantas crianças têm suas infâncias traumatizadas e até mesmo ceifadas por conta da violência generalizada que é ainda reforçada pela atual política de combate às drogas, e em especial com a intervenção militar no Rio?

No velório de Vinícius, sua mãe, com a camisa com o sangue do garoto disse que “iria fazer daquela camisa um instrumento de justiça”. Este é mais uma das mortes que vai entrar para as contas do estado, que não oferece nenhum direito social básico (como escolas, moradias apropriadas e etc) e adentra nestes espaços, nas comunidades, de forma violenta, e que além de não oferecer nem o mínimo para estas pessoas, ainda tira suas vidas.

O Complexo da Maré possui um dos IDHs (índice de Desenvolvimento Humano, categoria que mede a qualidade de vida) mais baixos da cidade do Rio de janeiro. na posição de número 138, e o com o IDH de 0,497. Segundo dados do Censo do IBGE datado do ano 2000. Um valor extremamente baixo.

A polícia não deve ser um poder a parte. Além da desmilitarização, é importante ter uma controladoria forte que de fato investigue e puna as infrações policiais, para que tais crimes não passem batidos.

A população deve ir para as ruas, exigir uma investigação séria para punir o responsável pelo disparo em uma criança, um tiro que foi dado, covardemente, enquanto o menino estava de costas. Mas as ações não devem ficar circunscritas a este caso. Devemos pensar seriamente nas políticas públicas para a segurança pública, sobre os seus efeitos. Sobre alternativas para o modelo nefasto que temos visto.