por Diego Chaves
Por estes dias vários sites que vivem de boatos difundiram que uma senadora do PT deu entrevista para o grupo terrorista “Al Jazira”.
E, pior, um monte de gente começou a espalhar isso sem se dar conta que “Al Jazira” longe de ser grupo terrorista é a “CNN” dos países árabes!
Comecei a me lembrar de algo ocorrido anos atrás, quando outro destes sites, o MBL, soltou um vídeo com o título “jovem de 19 anos detona Jean Wyllys”.
Um dos argumentos lacradores do Kim Kataguri, o tal jovem, era que o Jean Wyllys era contraditório pois apoiou um projeto de lei que inclui o islamismo no currículo das escolas brasileiras, o mesmo islamismo que apedreja mulheres, que mata homossexuais, etc …
Vários conhecidos religiosos gostaram tanto do vídeo que passaram a compartilhá-lo em diversas redes sociais, sem se importar que os argumentos eram em sua maioria falácias e distorções …
Fiz piada parafraseando o moleque do MBL só que trocando islamismo por “religiosidade”.
E ironicamente, quem estava aplaudindo a inteligência do Kim Katagury foi bem ágil para perceber como é absurdo generalizar o comportamento de alguns indivíduos para todos os religiosos.
Fui bloqueado, mas provei o meu ponto.
Aplaudir uma fala imbecil ou compartilhar uma fake news super absurda não implica que a pessoa não saiba pensar, pois quando lhes convém as pessoas sabem desmascarar uma farsa!
Só que por algum motivo o pensamento volta para a gaveta no resto do tempo.
Como Patch Adams disse uma vez, pensamento se tornou algo tão raro que quando ele ocorre chamamos de “pensamento crítico”.
Talvez seja o excesso de informação que nos leva a ficar mais seletivo com o que vamos pensar;
Ou talvez estejamos acostumados com informações ultra mastigadas, embaladas em manchetes chamativas e cobertas com opiniões pré-fabricadas.
Seja qual for o motivo estamos nos habituando a consumir informação sem processá-las.
Mas de alguma maneira, há momentos em que reagimos a estas informações, seja “pensando criticamente”, seja tendo uma reação emotiva de indignação. E fico me perguntando o porquê disso acontecer?
Sobre o pensamento, talvez tenha a ver com “respeito”.
Respeito vem do latim “olhar outra vez”. Ou seja, respeitamos aquilo que já vimos antes e que de alguma forma nos chamou a atenção de maneira positiva.
Logo, respeito implica conhecer previamente o assunto e além disso, considerá-lo bom.
E de certa maneira, este olhar outra vez permite o pensamento.
Na maioria das notícias deixa-se o cérebro no automático, porém, quando algo que respeitamos é citado de maneira negativa, iremos reagir, olhando duas vezes para aquilo e teremos a chance de refletir sobre o assunto.
Isso explica o porquê do sujeito religioso usar o cérebro quando a religião é atacada…
Mas não explica por qual motivo o cara ajuda a propagar os boatos quando um ativista gay ou uma outra religião é atacada.
E talvez isso tenha a ver com “despeito”. Algo que já vi, me ofendeu ou decepcionou e não sinto que mereça um segundo olhar.
Neste caso, ao ouvir uma notícia ruim sobre o desafeto, deixa-se levar por informações prévias.
E como superar isso no dia a dia?
Lá atrás imaginávamos a internet como a grande possibilitadora de encontros entre pessoas de culturas diferentes, porém, como temos visto, ela também favoreceu o surgimento do MBL e de outros grupos que ganham ao promover a desinformação e o ódio.
Ou seja, não basta ter acesso ao recurso informacional, é necessário tentar viver o princípio ético do “trate aos outros como gostaria de ser tratado” para assim conseguirmos equilibrar um pouco nosso medo daquilo que é diferente.
Lembro de uma vez em que levei uma visitante de Joinville para passear pela Rua Augusta, aqui em São Paulo.
Ela tinha vindo fazer um curso de culinária e em certo momento me comentou horrorizada que haviam colegas de turma seus que eram gays e não disfarçavam sua homossexualidade.
Eu fiquei atônito e ainda me senti na obrigação de explicar a ela algo que nunca tinha me passado pela cabeça: Uma cidade cosmopolita como São Paulo nos expõe a tanta diversidade que com o passar do tempo a gente acostuma com pessoas que antes eram vistas como muito diferentes.
De novo, assim como a internet, a convivência sozinha também não faz milagre, sem a ética a convivência só torna o “despeito” mais sutil.
Ainda sim, para quem preza pela ética, ter oportunidades de conhecer o outro pode diminuir o medo e o “despeito” e consequentemente ajudar a gerar mais pensamento.
Afinal, se o pensamento passa pelo respeito e o respeito passa pelo conhecimento, precisamos conhecer o próximo, nos abrir para o que ele tem de bom, para assim podermos respeitá-lo e pensar sobre ele quando uma notícia falsa for espalhada.
por Diego Chaves