Por Pía Figueroa – Traduzido por Guillermo Abraham

Tem sido muito usado o termo “pós-verdade” quando se trata de descrever a instalação de imagens falsificadas no cenário do coletivo, quando se manipula informação a fim de obter resultados favoráveis a certos grupos de poder.

Essa falsificação intencional dos dados, essa desvergonhada maneira de tentar direcionar uma determinada forma de representar a realidade, essa mentira vulgar que se tenta instalar através da mídia, supostamente apoiando essas informações em pesquisas de opinião e sociológicas, é o que tem ocorrido – mais uma vez – ante o cenário eleitoral recente no Chile.

Já o vimos funcionar na eleição dos Estados Unidos, assim como em muitos outros lugares em que as subjetividades são manipuladas. No caso chileno, foi apoiado com empresas que realizam pesquisas e a caixa de ressonância cúmplice de toda a mídia. Projetou-se a imagem vitoriosa e praticamente sem concorrência de um dos candidatos da direita, desencadeando o fenômeno do “voto útil” em grandes setores da população. Ao mesmo tempo, foi criada a ilusão de que o novo conglomerado, o Frente Amplio, caíra supostamente em erros próprios da sua “inexperiência política” e perdia, dia após dia, posições nas pesquisas, conseguindo instalar a mentirosa ideia de que era impossível que essa força fosse páreo para as outras. Procuraram murchar a candidata Beatriz Sánchez, desmotivar os ativistas da sua campanha, fazê-los duvidarem das suas possibilidades de chegar ao segundo turno, e ao instalar a incerteza, frear a ação.

Assim foi denunciado ontem pela presidenciável do Frente Amplio quando se conheceram os resultados da votação, enormemente favoráveis ao seu setor.

Ela disse: “Quero enviar uma mensagem bem clara a todas as pesquisas que disseram que nós iríamos ficar embaixo: onde está esse oráculo que é a CEP, apagando-nos do mapa? Onde estão as outras pesquisas? Por exemplo, a Cadem, dizendo ‘estão fora’, ‘podem chegar quartos ou quintos’. Eu me pergunto, se essas pesquisas tivessem dito a verdade, talvez estaríamos, sim, no segundo turno. Tivemos uma diferença pequena com quem hoje faz parte deste governo. Montaram um cenário dizendo que estávamos fora. E isso foi falso, estávamos dentro.

Quero uma explicação daqueles que se sentem os donos do Chile, dizendo que nós estávamos fora. Explique-me, em que momento iríamos tirar 8%, se tiramos 20%? Em que momento estávamos fora da competição, se estávamos competitivos até o último momento? Amanhã quero uma explicação em todos os jornais. Um jornal disse ‘acabou a magia’, eu lhe digo: ‘esta é a magia e chegou para ficar’”, lançou uma emocionada Beatriz Sánchez, após obter 20,27% dos votos da cidadania, colocando assim, hoje, o Frente Amplio como a terceira força política do país.

“As coisas não são como vocês as planejam, Sebastián não estava prestes a ganhar no primeiro turno? Vocês se lembram ou não? A corrida estava definida para os donos do Chile, estava definida para os poderosos de sempre. Nós lhes dizemos ‘não’. Não é o dinheiro, são as convicções, é a verdade e a honestidade. O povo – e entendam bem os poderosos do Chile – os chilenos e chilenas que apoiam este projeto e que vão continuar o apoiando, não votam porque ponham dinheiro encima da mesa, votam pelas ideias, votam pela honestidade, votam por convicção, votam quando veem o trabalho sério. Espero que aprendam e que aprendam rápido, porque nós aprendemos rápido e melhor”, afirmou.

Em todo caso, o dano já está feito. Beatriz conseguiu, sem dúvida, concorrer no segundo turno de 17 de dezembro e inclusive ganhar a cadeira presidencial. Não fosse porque desafiou o poder e este se defendeu com tudo que tem à mão, com as piores formas de manipulação, instalando em cada uma das cabeças imagens falsificadas de uma verdade que nunca foi. Tomara – como ela mesma nos disse – que aprendamos a desacreditar da mídia e das pesquisas, tomara que aprendamos rápido.