Após protestos realizados pela liga da merenda (ação social), o prefeito de São Paulo João Dória revogou a decisão de fornecer ração feita com farinata (restos de comida que são desidratados e triturados) para os estudantes das escolas municipais como merenda.

A liga  se articulou com outros grupos de mães de escolas públicas para organizar uma manifestação que contou até com a presença dos pequeninos que apesar da tenra idade, tiveram sua participação política que impediu – pelo menos inicialmente – mais um retrocesso e que nos enche de esperança.

Segundo Andrea Carabantes, mãe de aluno de escola pública e integrante da Equipe de Base Warmis – Convergência das Culturas, a liga –

“é uma ação promovida por um grupo de mães de escolas públicas para ter um maior controle social das merendas fornecidas nas escolas públicas”.

A ação foi organizada por um grupo de mães da Vila Mariana que após observarem algumas medidas tomadas pela prefeitura, como a redução de merenda ou impedir que os alunos repitam as refeições.

“Também observamos cardápios que eram pobres, falta de diversidade alimentícia. Nasce dentro desse contexto em que não se estava respeitando as leis.” diz Andrea.

(Na foto – Vivian, Andrea, Pedro, Cinthia,Carolina , Anne – integrantes da ação)

Para Vivian (participante do grupo) “a manifestação foi organizada após notícias de que o prefeito de São Paulo teria feito uma solicitação para a Secretaria Municipal de Educação incluir a ração humana na merenda.”

Ela ainda relata que o grupo conseguiu se reunir com o secretário de educação para discutir melhorias na merenda escolar, como a exclusão de produtos processados e a inclusão de alimentos orgânicos oriundos da agricultura familiar. Após o diálogo com o secretário, tiveram a notícia da inclusão da ração humana. Vivian relata –

“nos sentimos humilhadas. Nossos filhos não precisam passar por isso”.

Por conta desses acontecimentos decidiram organizar uma manifestação nas ruas.

Reunião do grupo com o Secretário Municipal de Educação Alexandre Schneider

Para a ativista o prefeito recuou pois não tinha tantas alternativas. Mas, segundo a mesma, todo o cuidado é pouco, pois Dória pode colocar um “macarrão de farinata” ou tentar incluir o produto de outra maneira.

Dezenas de pedidos de investigação foram feitos no Ministério Público para averiguar a situação da merenda. Para fazer uma denúncia basta mandar um email o endereço eletrônico – ouvidoria@mpsp.mp.br que é o contato do Ministário Público do Estado de São Paulo.

Há uma página no Facebook para aqueles que buscam mais informações. A “Novos diálogos da Escola Pública” 

Dória teve que voltar atrás após os protestos. Manifestações como essa  nos mostram que é possível transformar a sociedade mediante a organização coletiva.

Uma vereadora da capital paulista resolveu investigar a empresa Sinergia, que seria a suposta fabricante do produto, durante sua pesquisa descobriu que o endereço informado era falso.

O ato de alimentação é muito mais do que um mero processo de nutrição para a manutenção das necessidades fisiológicas, é algo que envolve estar ligado com outras pessoas, valores e costumes. Algo que está ligado aos processos de socialização e que denota a riqueza da diversidade cultural humana.

Para além dos possíveis e não descartáveis objetivos não revelados desta impolítica pública, está uma ideia de racionalismo. Este racionalismo exacerbado esquece das relações entre as pessoas e a comida. Relação histórica e que preenche um mar de livros. Comida remete as nossas mais profundas memórias e sentimentos. A alimentação de nossas crianças não deve ser tratada de forma simplória e servir aos interesses esdrúxulos de certa fatia da elite empresarial.

Imagens da manifestação feitas pelos Jornalistas Livres

Imagens feitas pelo QuatroV