Milagro Sala, ativista da Tupac Amaru e deputada do Parlasul, teve sua prisão domiciliar anulada pela justiça argentina e por conta disso voltou para sistema penitenciário do país vizinho. Os seus advogados recorreram contra a decisão judicial e afirmaram que a prisão é ilegal e fere os tratados internacionais, o que poderia acarretar em sanções para a nação argentina.

Neste artigo traduzimos uma entrevista dada por Milagro para a Pressenza em 2012, quando nos contou sobre sua trajetória, sua ligação com o movimento humanista e também sobre o guerrilheiro cubano Che Guevara.

Pressenza Espanhol – Milagro, você faz menção inúmeras vezes que, a luta do Movimento Tupac Amaru, tem buscado sempre dar respostas para as necessidades das pessoas. Como você identifica essas necessidades?

Milagro – Nós partimos de que aqui, como em muitos países, o Estado não cumpria com as necessidades do povo. Nós nos cansamos disso, nos cansamos de eleger governantes e ver que nada acontecia, por que quem controlava o poder eram os mesmos de sempre, e nós éramos feitos de palhaços por eles. Então começamos a trabalhar aos poucos, com as boas pessoas da comunidade, vendendo pãezinhos, bolos, empanadas e de tudo um pouco.  Assim mantínhamos assim o como de leite, aqueles que se alimentavam. Depois começamos a trabalhar na saúde, com médicos voluntários e também na educação, construindo escolas.Saúde, educação, habitação e trabalho honesto. Por conta disso criamos também quatro fábricas. Tudo isso fizemos com o dinheiro feito a partir da construção de casas. Decidimos distribuir o dinheiro, para responder as necessidades dos companheiros.

P. – Você tem insistindo também, na sua intervenção, de construir o futuro. Depois te tantos feitos que tem conseguido, que tipo de futuro busca construir?

M. Nós anunciamos faz três meses que iremos construir um partido político e, para as eleições do próximo ano, teremos três candidatos. Sempre temos criticado os setores políticos quando em campanha política dizem o que vão fazer. Nós já temos feito.

P. Então, qual é a proposta política de Tupac Amaru como partido político?

M. Se nos dão a oportunidade de eleger deputados e senadores, vamos fazer muito mais. Vamos trabalhar por Jujuy [província argentina] e gerar mais empregos, mais saúde, mais educação, mais habitação. Garantir muito mais o que estamos fazendo.

P. Quais são as transformações mais profundas que tem tem vivido ao longo desta luta?

M. Eu comecei a militar aos 14 anos. Em essa época se conseguia tudo na base do grito. Para nós o humanismo nos deu um lugar de luta, começou a nos formar, a nos levar a reflexão. A pensar no outro que também tem necessidades como nós mesmos. Se Che [Guevara] tivesse conhecido Silo, poderia estar vivo até hoje.  Temos aprendido que se um pede por si mesmo tem que pedir pelo outro também. Nos ajuda muito a trabalhar com as comunidades indígenas, debaixo do princípio de que eu sou você e você sou eu. O  eu sou você significa que o seu problema também é o meu e temos que trabalhar em conjunto para mudar o mundo. Queremos uma transformação social diferente, um mundo sem violência. Em que o ser humano possa ter uma vida digna, a vida que ele merece ter.

P. Milagro, estamos em frente a possibilidade de um mundo diferente?

M. Está sendo dado um mundo diferente. Você imagina que um quando consegue construir uma casa pode fazer o que fazem os político e cobrar. Mas não, um não cobra nada, que o pague diretamente para o estado. Um entrega e não o confunde, se faz com um perfil baixo, sem chamar a impressa nem nada. Fazemos as coisas, sem necessidade de propaganda, porque fazer isso é humilhar a pessoa que necessita. Isto é parte do que temos aprendido com o humanismo. A não-violência é muito importante para uma transformação do mundo.

Vídeo do QuatroV sobre Milagro