Encontrado em Córdoba, neto 122 é filho de Iris García Soler e Enrique Bustamante, desaparecidos em janeiro de 1977 em Buenos Aires; Soler deu à luz na ESMA, e depoimentos de sobreviventes do centro de tortura ajudaram investigação.

As Avós da Praça de Maio anunciaram nesta terça-feira (25/04) a identificação do 122º neto sequestrado de sua família durante a ditadura argentina (1976-1983) e encontrado pela organização.

Militantes na organização de resistência à ditadura Montoneros, Iris García Soler e Enrique Bustamante desapareceram em 31 de janeiro de 1977 em Buenos Aires pela Polícia Federal argentina. Soler estava grávida de três meses na ocasião e deu à luz um menino em julho do mesmo ano na ESMA (Escola Superior de Mecânica da Armada), principal centro clandestino de prisão e tortura do país, por onde estima-se que tenham passado mais de 5 mil detentos entre os 30 mil desaparecidos pela ditadura argentina.

As Avós da Praça de Maio, junto à Conadi (Comissão Nacional pelo Direito à Identidade), investigaram o paradeiro do filho de Soler e Bustamante por meio de depoimentos de sobreviventes da ESMA que conviveram na prisão com o casal, que segue desaparecido.

Estela de Carlotto, líder das Avós, anuncia a identificação do neto número 122 ao lado de familiares de Iris García Soler e Enrique Bustamante, que desapareceram em janeiro de 1977

“Frente a numerosas denúncias recebidas pelas Avós, a filial de Córdoba resolveu contatar, por meio de sua equipe de aproximação, um jovem que presumivelmente era filho de desaparecidos”, escreveu a organização no comunicado divulgado à imprensa. O homem, cujo nome não foi divulgado, tem hoje 40 anos, se dispôs a realizar o exame de DNA e no dia 18 de abril foi confirmada a maternidade de Soler e a paternidade de Bustamente.

O desaparecimento de Soler e o sequestro de seu filho estão sendo julgados no processo de crimes da ESMA que começou em 2013, em um tribunal federal de Buenos Aires.

“Esta nova restituição é a demonstração de que a verdade e a justiça sempre vencem o esquecimento e o silêncio”, disseram as Avós da Praça de Maio. “Este caso é a mostra de que os julgamentos [de agentes da ditadura] foram e seguem sendo uma ferramenta fundamental e que o Estado deve acompanhar com políticas públicas o processo de Memória, Verdade e Justiça.”

As Avós estimam que mais 300 pessoas que nasceram nas prisões da ditadura argentina e foram sequestradas por agentes ainda não sabem a verdade sobre sua origem.

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