Publicado em março 31 de 2016

O acordo feito entre a União Europeia (UE) e a Turquia para frear o fluxo de migrantes e refugiados em direção à Europa não deve surtir o efeito esperado pelos governos. Embora governos envolvidos nas negociações tenham celebrado o acordo, organizações internacionais se posicionam contra a medida. Além disso, o fim da chamada “rota balcânica” deve reabrir ou mesmo criar novas rotas de migração, nas quais atuam fortemente os únicos que se beneficiam das restrições impostas pelas fronteiras: os traficantes de pessoas.

Entre outros pontos, o acordo firmado no último dia 18 determina que os migrantes que chegarem à Grécia via Turquia sem documentos devem ser mandados de volta, e que a Turquia receberá ajuda financeira do bloco europeu para melhorar as condições dos refugiados no país. Além disso, a Turquia teve atendida uma exigência de dispensa de visto para cidadãos turcos viajarem para países da UE.

O ponto mais polêmico do acordo é o que prevê que, a cada migrante devolvido ao território turco, a União Europeia acolherá um refugiado sírio “legítimo” entre os 2,7 milhões que vivem nos campos de refugiados no país – a Turquia é o país que mais recebe refugiados no mundo, de acordo com o ACNUR, o Alto Comissariado da Nações Unidas para Refugiados.

Enquanto o atual presidente do Conselho Europeu, o premiê polonês Donald Tusk, e o premiê turco Ahmet Davutoglu celebraram o acordo, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, criticou a medida. “Construir muros, discriminar pessoas ou expulsá-las não é uma resposta ao problema”, declarou. O ACNUR também considerou o acordo “violador dos direitos internacionais”

“Refugiados não são mercadoria”

Outra entidade que marcou posição contra o acordo Turquia-UE foi a Anistia Internacional (AI), que ainda mobilizou uma campanha contra as negociações e contra a transformação de pessoas em mercadoria, usando a hashtag #StopTheDeal nas redes sociais.

A petição online contra o acordo, que obteve até agora cerca de 73 mil apoiadores (a meta é de 75 mil), a AI lembrou que “esta não é uma crise de refugiados, mas sim uma crise humanitária, na qual estão em jogo os valores europeus”. Para aderir à campanha, basta acessar o site da Change Org e deixar sua assinatura.

Em Portugal, a seção local da AI reuniu ativistas e reforçou a campanha com a mensagem “Refugiados não são mercadoria”.

Novas rotas à vista

O fechamento da chamada “rota balcânica”, em vez de frear o fluxo de pessoas à Europa, deve levar ao surgimento de outros caminhos de chegada ao continente – todos eles operados por traficantes de pessoas e nos quais quem se arrisca fica em condições precárias e correndo o grande risco de não concluir a perigosa viagem.

O jornal espanhol El Diario fez uma reportagem que listou pelo menos oito possíveis rotas que poderiam ser utilizadas em caso de fechamento dos caminhos via Grécia.

Duas delas, inclusive, já são velhas conhecidas do cenário internacional: por Ceuta e Melilla, enclaves espanhóis no Marrocos; e pelo sul da Itália, como a ilha de Lampedusa e a região da Sicília.

No último dia 19 de março, inclusive, a Marinha italiana divulgou o resgate de 910 imigrantes em barcos no Estreito da Sicília. Um sinal de que a previsão da possível nova rotas já deve se tornar realidade muito em breve.

El Diario traça ainda outras possíveis rotas por dentro da própria Península Balcânica, por meio da Bulgária e Romênia, e via Albânia e Itália, passando antes pela fronteira grego-albanesa. E também duas rotas pelo Ártico, em direção à Noruega e Finlândia. O trajeto pela Noruega, aliás, chegou a ser usado no verão passado na Europa como alternativa – apesar da longa distância, era considerada até mais segura e barata do que pelos Bálcãs ou atravessando o Mediterrâneo.

Com informações de Global Voices, G1 e El Diario

Foto: Em Portugal, ativistas lembram que “Refugiados não são mercadoria”.
Crédito: Ricardo Rodrigues da Silva /Anistia Internacional



</p>
<p class=O artigo original pode ser visto aquí