“As pessoas estão em marcha indo para um estádio que custou mais de R$ 500 milhões enquanto elas não têm condições de saúde, de moradia e de educação. Elas querem mostrar sua indignação e não têm nem acesso ao estádio, isso é que é violento”, diz organizador

Brasília – A Polícia Militar do Ceará entrou em confronto com manifestantes na tarde desta quinta-feira (27) durante protesto na Avenida Dedé Brasil, em Fortaleza (CE). Os manifestantes se dirigiam à Arena Castelão, onde está sendo disputada a partida de semifinal da Copa das Confederações entre Espanha e Itália. Até agora, 72 pessoas foram detidas, segundo informação da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará (SSPDS).

Os manifestantes protestavam contra os megaeventos, como a Copa das Confederações e a Copa do Mundo, e também reivindicavam um reforma política, 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação pública, 10% do PIB para a saúde pública. Além das pautas nacionais, o movimento pedia a criação de um fundo para obras contra a seca, redução imediata da tarifa de ônibus dos atuais R$ 2,20 para R$ 2,00, aumento salarial para os professores do ensino básico da rede estadual e ainda suspensão das obras do Acquário, equipamento turístico na Praia de Iracema, e da ponte estaiada sobre o Rio Cocó.

A manifestação, marcada durante uma assembleia popular na segunda-feira (24), teve início às 10h com as pessoas se concentrando perto da Universidade Estadual do Ceará. De acordo com a PM, 5 mil pessoas participaram da marcha, entre elas representantes de entidades de movimentos estudantis, do  Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Associação dos Cabos e Soldados do Ceará, do Conselho Municipal de Saúde, do sindicato dos motoristas de ônibus, de trabalhadores da construção civil, do movimento + Pão – Circo, Copa para Quem? Por volta das 11h, os ativistas ocuparam a Avenida Dedé Brasil e iniciaram uma caminhada em direção à Arena Castelão.

A partir das 14h, começaram os confrontos entre a polícia e os manifestantes. Ao passarem da primeira barreira de contenção formada pela polícia, os manifestantes foram barrados pela Tropa de Choque. Houve tumulto e um carro de uma emissora de TV local foi incendiado. De acordo com o tenente-coronel Fernando Albano, a Tropa de Choque conseguiu dispersar a manifestação e liberar a avenida.

Até as 17h, ainda havia pontos de manifestação. “Tem ainda uns pontos dispersos, mas a Avenida Dedé Brasil foi liberada e até o final da partida tudo deve estar em ordem”, disse Albano por telefone à Agência Brasil. Albano justificou a ação da polícia como uma resposta a atos de provocações e de vandalismo que teriam sido feitos por alguns manifestantes.

Para um dos organizadores da manifestação, Livino Neto, a ação da polícia foi excessiva. “Eles usaram muita bomba e muita bala [de borracha] hoje. O ato estava com caráter pacífico, reunindo vários movimentos. A violência policial foi muito forte, soltaram a Tropa de Choque e a Cavalaria em cima da gente”, disse.

Ainda de acordo com o manifestante, os confrontos ocorrem porque as pessoas “não aguentam mais a falta de condições dignas de vida”. “As pessoas estão em marcha indo para um estádio que custou mais de R$ 500 milhões enquanto elas não têm condições de saúde, de moradia e de educação. Elas querem mostrar sua indignação e não têm nem acesso ao estádio, isso é que é violento”, questionou Neto. “As manifestações são importantes porque revelam o que está adormecido há muito tempo”.

Luciano Nascimento Repórter da Agência Brasil