Os países africanos, há muito tempo, abastecem de hemácias ricas em ouro, diamantes, metais raros, alimentos, da proteína de que necessita a corrente sanguínea econômica da Europa e, em particular, da França. Da escravidão via colonização até hoje, a França sempre manteve a sua hegemonia sobre as suas “antigas” colônias, na África. Depois de perder a guerra no Vietnam, arrastando a ‘AmeriKKKa’(1) junto com ela, a França empreendeu com vontade o seu esforço no exterior apenas em países francófonos africanos, com o objectivo claro de desenvolver a sua economia interna.

Na África, há 14 países que têm a moeda chamada Franco CFA, criado no Século XX para trocar mercadorias entre si, mas o verdadeiro objectivo era que todas as colónias francesas da África apenas abastecessem a França, comprassem produtos franceses. Nada mais, nada menos. O Franco CFA, que é uma moeda colonial criada pela França para o seu próprio interesse, circula de forma a facilitar a pilhagem dos recursos africanos. A França, através deste sistema complicado de valores, mantém as reservas dos países africanos da zona monetária do CFA guardadas no seu cofre, em Paris.

Como o Estado bandido que é, a França impôs em muitos países africanos a sua ditadura monetária, mantendo no poder “líderes” africanos que devem obedecer às suas ordens. É muito importante saber que a União Econômica e Monetária do Oeste Africano (UEMOA, na sigla em inglês) que compreende oito países: Costa do Marfim (a maior economia da região, com mais ou menos 50% do PIB do grupo), Senegal, Mali, Benin, Níger, Togo , Burkina Faso e Guiné Bissau (o único não-país de língua francesa deste rol) com também a Comunidade Econômica e Monetária Centro-africana (CEMAC, idem na sigla em inglês), que inclui seis países: Gabão, Chade, Congo-Brazzaville, Camarões, Guiné Equatorial, e República Central africana) são controlados por franceses, através do franco CFA. Trata-se de nada além do que uma escravidão sem grilhões aparentes, mas que controla os africanos por meio de um sistema colonial estabelecido pelo europeu “branco”, na África, apenas para sugar mais sangue e bombeá-lo para a ‘matriz’, ao Norte.

O Pacto Colonial que a França assinou/impôs, aos países africanos, após cada um deles obter a sua “independência” foi uma consagração para a França nos meios políticos, comerciais e de defesa junto aos “novos” países africanos, mas extremamente danoso aos povos africanos. Originalmente, nas duas zonas monetárias do Franco, o câmbio foi atrelado a 100 CFAs para cada franco francês, a antiga moeda da França. Depois que a França se juntou à zona do Euro, na Comunidade Europeia, passou-se a uma taxa fixa de 6,65957 francos franceses para um Euro, e a taxa de CFA ao euro foi fixada em 665.957 CFAs para cada euro, mantendo a proporção de 100 para 1. Estes tratados monetárias cruéis ainda estão em vigor e em plena operação entre a “boa e velha” França e “seu” território Africano estendido.

Não pode permitir que um ladrão seja beneficiado com o sistema de vigilância da sua casa.

Este pacto colonial que a França tem mantido nas “suas antigas colônias” domina inteiramente o controle sobre as economias dos Estados africano. Toma posse das suas reservas em moeda estrangeira; controla as matérias-primas estratégicas do país, ao mesmo tempo que estaciona tropas francesas na região, com o direito de livre passagem.

Neste negócio venenoso, o país de Napoleão exigiu que todo o equipamento militar em serviço nestes Estados africanos sejam comprados da França, para manter a funcionar o seu parque industrial militar. A polícia e o exército daqueles países africanos de língua francesa devem ser treinados e comandados sob o sistema administrativo da França. E por falar em negócios, as empresas francesas, por meio destes tratados, estão autorizados a manter o monopólio em áreas estratégicas, tais como água, electricidade, portos, transportes, energia, agricultura, produtos do comércio, mineração, etc … Dá pra acreditar?

Muitos povos africanos têm-se levantado contra este sistema monetário criminoso imposto pela França. Quando o presidente Laurent Gbagbo, da Costa do Marfim chegou ao poder por meio de um processo eleitoral democrático, em 2000, ele era o único líder Africano que se opusera à diktat econômica francesa em solo africano. No admira por isso que em 2002, ocorreu o golpe de Estado orquestrado pelo ex-presidente francês, Jacques Chirac, mas que não conseguiu derrubá-lo.

O presidente Gbagbo criticou este sistema monetário injusto e estava a trabalhar no processo para remover a Costa do Marfim deste grupo, o EUMOA, e criar uma moeda independente do país. O economista marfinense Nocolas Agbouhou no seu livro Le Franc CFA ET L’EURO CONTRE L’Afrique (O franco CFA e Euro contra a África), critica fortemente este sistema monetário que escraviza a França.

O ex-presidente da Assembleia Nacional da Costa do Marfim, o ex-ministro das Finanças e economista do governo do presidente Gbagbo, professor Mamadou Koulibaly classificou o sistema francês, liderado pelo franco CFA, como organização criminosa “financeiramente repressiva, injusta e moralmente indefensável”. O professor Koulibaly lamentou que os africanos francófonos tenham sido reduzidos a “contribuintes para a França. Significa dizer que eles foram reduzidos a escravos da França”. Uma coisa a mais para lembrar acerca deste negócio monetária tóxico, criado pelo Ali Baba (França), é que 65% das divisas que os 14 Estados da zona do CFA são obrigados a depositar, anualmente, no Tesouro francês servem para alimentar a economia europeia. Mas os africanos destes países não têm nacionalidade francesa e nem acesso aos bens e serviços públicos disponibilizados aos outros contribuintes franceses. É a mesma a relação que sempre mantiveram com os escravos, que trabalhavam duro para enriquecer os seus “mestres”.

É inaceitável ver mais de 80% das nossas reservas de divisas sejam depositados nas ‘contas’ de operações controladas pelo Tesouro francês. Por que as pessoas africanas não podem ter as suas próprias políticas monetárias para desenvolver nossas nações?

Recentemente o presidente da Guiné Equatorial elevou a voz contra esta escravidão praticada no sistema monetário africano da França. Onde estavam esses “líderes” africanos, que agora estão a acordar, quando o presidente Gbagbo disse a eles para reunir força e trabalho, em conjunto, para se livrar desse pacto diabólico com a França? Este pacto monetário maldito da França contra os “países africanos francófonos” vai acabar. A revolução para acabar com isso já começou na Cote d’Ivoire (Costa do Marfim) e que vai se espalhar por todo o continente africano.

Como dizemos na Costa do Marfim: “O tempo é outro nome de Deus”.

Por Nimba Mhaat Monnemuh d’Eburnie é articulista e empresário na Costa do Marfim.

(1) – Nota do Tradutor:  ’Amerikkka’ – referência do autor à Ku Klux Klan (KKK), organização criminosa, terrorista e racista existente nos EUA.