A situação em Israel e na Palestina é muito simples, disse Noam Chomsky durante um encontro
com Tomas Hirsch, porta-voz do Partido Humanista para a América Latina. Segundo Chomsky, o
verdadeiro problema está em Washington. Israel não poderia fazer o que eles estão fazendo a não
ser que fossem apoiados pelos EUA e tem sido assim há mais de 35 anos. O governo israelense
passou 400.000 Judeus ortodoxos à Cisjordânia. Os colonos vão por razões econômicas, mas
também converge com o nacionalismo e uma vez que estão lá, eles têm uma elevada taxa de
natalidade. Isso vem sendo cuidadosamente realizado e com prudência.

Hirsch perguntou para Chomsky “Você acha que os EUA vai mudar sua política com Israel?”
Já aconteceu antes com a África do Sul, disse Chomsky. Muitas pessoas criam analogias entre a
África do Sul e Israel que não fazem sentido, mas há uma analogia que é pertinente. Nós sabemos,
por documentos secretos, que em 1960 o Ministro Sul Africano das Relações Exteriores teve uma
discussão interessante com o embaixador americano, na qual explicava que a África do Sul não
estava preocupada com a pressão internacional e a votação da ONU contra o sistema apartheid
na África do Sul, enquanto eles tivessem o apoio dos EUA. O embaixador americano concordou
e isto funcionou por 40 anos até que os Estados Unidos mudou sua posição por volta de 1990.
Washington mudou principalmente por dois motivos: primeiro, a comunidade de negócios aqui e na
África do Sul perceberam que sairiam melhor se eles ficassem livres do apartheid, mas mantendo
o mesmo sistema social econômico, e o segundo motivo, que poucas pessoas gostam de falar, foi
Cuba. Cuba desempenhou um grande papel em liberar a África do Sul do apartheid.

No caso de Israel e da Palestina, perguntou Hirsch, deveriam ser um ou dois paises? Este não é o
problema, Chomsky respondeu: isto não importa, porque você descreve um meio para chegar lá em
etapas. Você poderia começar por fazer dois estados e, em seguida, construir relações comerciais,
relações culturais, e então se tornará evidente para todos que um estado é mais interessante. Mas
não para por aí: um estado não é o fim da história. Uma solução não-estado para os refugiados é a
única esperança que eles têm, para eliminar as fronteiras. Isto não estará muito longe do Império
Otomano, que estava tão corrompido que não tinha mais energia para intervir na vida das pessoas.
Você pode ir do Cairo para Bagdá a Istambul, atravessar a fronteira para Beirute e Jerusalém.
Os gregos podiam fazer seus negócios, suas coisas e os armênios também. Essa foi uma situação
interessante, deixando de lado a violência e a corrupção.

Hirsch levou a conversa para a América do Sul e fez uma grande explanação passando pela Bolívia,
Venezuela, Equador, Argentina e, claro, pelo Chile com o movimento estudantil, o protesto sobre o
projeto hidrelétrico na Patagônia e a destruição das políticas sociais e econômicas de Pinochet que
ainda estão em vigor. O Chile ainda tem, por exemplo, uma das educações mais caras do mundo por
PIB. O Estado chileno contabiliza um bilhão de dólares de empréstimos estudantis. Noam concluiu
o debate declarando que, no momento, a América do Sul é o lugar mais empolgante no mundo.