a recente expansão do governo Netanyahu não afetou o
nível contínuo e crescente das relações comerciais entre Turquia e Israel, sugerindo
que o relacionamento bilateral agora atenderá os interesses estratégicos nacionais dos
ex-aliados. Será que Israel e Turquia reconhecerão os potenciais benefícios que ambos
poderão colher se removerem os obstáculos que impedem a reaproximação, sabendo
que neste momento, a colaboração total é essencial para manter a estabilidade regional
que afeta diretamente a questão de segurança nacional de ambos os países?

Talvez neste momento o problema mais crítico, e que está associado a outros
desdobramentos significativos, é a instabilidade que ocorre na Síria, no qual a Turquia
adotou uma posição mais intransigente contra a contínua carnificina adotada pelo
regime de Assad. O primeiro-ministro Erdogan deixou claro que Bashar Assad
e seus ministros devem se retirar do governo para dar um fim à crise. A Turquia
divide a fronteira de 800 quilômetros (510 milhas) de extensão com a Síria e está
profundamente envolvida em prover assistência humanitária aos sírios, oferecendo
abrigo aos refugiados e acolhendo o Conselho Nacional Sírio, a principal oposição do
regime de Assad. Por sua vez, Israel evitou uma conflagração potencialmente maior ao
monitorar com cuidado e silêncio a situação e não tomando nenhuma ação provocativa,
mantendo a calma, dando espaço necessário para que a Turquia atuasse como principal
intermediário de oposição a Assad, dando poder de decisão à Liga Árabe. A nova
ordem política emergente na Síria causará um efeito tremendo tanto em Israel quanto
na Turquia. Pelo fato de serem vizinhos da Síria, ambos têm interesses nacionais
comuns nas negociações com a Síria pós-Assad de maneira que garantirão a estabilidade
regional e fortalecerão interesses de segurança e estratégia de longo prazo.

Além disso, o tumulto regional geral resultante da Primavera Árabe mudou
dramaticamente as relações de poder do estado atual. Tem havido uma diminuição
no relacionamento bilateral entre Israel e Egito, que tem sido o pilar da estabilidade
regional desde a assinatura dos Acordos de Camp David em 1979. Ao mesmo tempo,
a posição da Turquia na região aumentou consideravelmente, em parte devido à
popularidade do primeiro-ministro Erdogan, sua posição na Síria e sua postura no
conflito Israel-Palestina. A forte posição da Turquia na Síria, em particular, mitigou a
impressão de que a Turquia favorece e apóia os islâmicos e demonstrou que é capaz de
tomar uma postura mais equilibrada, o que aliviou algumas das preocupações anteriores
de Israel. Como resultado, a Turquia surgiu como um interlocutor atraente e modelo
para o mundo árabe ao mesmo tempo em que aprofunda o isolamento de Israel. A
instabilidade regional continuada exige que ambos os países busquem uma parceria
renovada e estratégica de conduzir a natureza imprevisível dos conflitos da região.

A posição fixa de Israel contra o programa nuclear iraniano aumentou dramaticamente a tensão na região enquanto as grandes potências mundiais continuam a trabalhar por
uma solução pacífica para as ambições nucleares do Irã. Entretanto, enquanto durar
o conflito entre Israel e Irã, a Turquia, que também está preocupada com o programa
nuclear do Irã, pode desempenhar um papel importante para aliviar as tensões. Embora
a tensão entre Ancara e Teerã tenha aumentado por causa do governo Assad, a Turquia
ainda mantém relações com o Irã, exerce alguma influência e poderia exercer maior
pressão sobre Teerã e mostrar mais flexibilidade com as negociações entre Irã e o P5+1
em Bagdá, que serão retomadas no dia 23 de maio. A Turquia tem oferecido forte
resistência na implementação de sanções ao Irã, postura contrária à política linha-dura
de Israel. Mas, como a Turquia teme um provável ataque de Israel sobre as instalações
nucleares do Irã e certamente procuraria evitá-lo, tanto Israel quanto Turquia possuem
interesses mútuos em estabelecer um diálogo construtivo para reduzir a tensão regional
sobre o programa nuclear iraniano, beneficiando ambos os países.

Entretanto, os conflitos existentes entre Turquia e Israel permanecem críticas e que
podem ser amenizadas desde que eles deixem suas emoções de lado e se concentrem em
um contexto maior para mudar os tempos rapidamente com danos imprevisíveis. Por
bons motivos, a Turquia adota uma forte oposição contra o programa de assentamento
israelense, especialmente em face da recente decisão tomada pelo governo Netanyahu
de legalizar retroativamente três postos avançados da Cisjordânia. A Turquia continua a
criticar as políticas israelenses sobre a Cisjordânia e o bloqueio à Faixa de Gaza. Além
disso, a Turquia se opôs à participação de Israel na próxima Cúpula da OTAN a ser
realizada no dia 20 de maio em Chicago e no Grupo de Diálogo do Mediterrâneo, já que
as autoridades israelenses não se desculparam publicamente pelo ataque à Flotilha Gaza,
em que oito cidadãos turcos (e um turco americano) foram assassinados sob o comando
israelense.

Por um lado, enquanto Israel evitou fazer ou dizer qualquer coisa para provocar Israel
nos últimos meses contra a Turquia, ainda existe um resíduo de ressentimento contra
o governo de Erdogan por atacar Israel sempre surge uma oportunidade. Israel tem sua
parcela de culpa, mas também busca colocar um fim sobre o triste episódio de Marmara
para retomar sua aliança com o país que exerce maior influência, é um aliado próximo
dos Estados Unidos, membro poderoso da OTAN e vizinho dos mais sinistros inimigos
de Israel: Síria, Líbano e Irã. Existe um discernimento cada vez maior de que ambos os
lados desejam preservar a perspectiva de restaurarem o relacionamento que existia antes
do rompimento diplomático. Com isso, os Estados Unidos têm pressionado ambos os
lados a reconciliarem suas diferenças, uma vez que a estabilidade da região depende da
cooperação total das duas nações mais poderosas da região.

Certamente o que poderia encorajar ainda mais a reaproximação entre os dois países,
mesmo com o rompimento diplomático, trocas militares e o índice turístico de Israel
para a Turquia ter alcançado o nível mais baixo já registrado até agora, é que as
relações comerciais entre os dois alcançaram os níveis mais altos em 2011-2012. Além
disso, existe um tremendo nível de colaboração técnica, especificamente no campo
da bioquímica, e é bem verdade que os negociantes turcos ainda vêem Israel como
um local de comércio e na maioria das vezes, como um local para aprender com os
especialistas israelenses. Com certeza, tudo indica que ambos os países desejam manter
relações comerciais viáveis, para promover uma base sólida em que possam também
reconstruir relações diplomáticas fortes .

Outro acontecimento significativo é a recente decisão do primeiro ministro Netanyahu
de expandir seu governo de coalizão, que agora comanda 94 dos 120 membros do Knesset, fortalecendo o controle de poder a um nível sem precedentes. Essa mudança
faz com que Netanyahu tenha uma grande margem de segurança para enfrentar os
desafios de pequenos partidos em qualquer área em que haja divergência de opinião. O
segundo aniversário, do Ataque à Flotilha de Gaza ocorrido no dia 31 de maio de 2010 e
que efetivamente rompeu as relações entre Israel e Turquia, é de particular importância.
Há um ano, ambos os lados tiveram êxito em chegar a um acordo, em que Israel pediria
desculpas pelo incidente, compensar as vítimas e permitiria que a Turquia enviasse
alimentos e materiais para o consumo dos civis da Faixa de Gaza.

Houve uma forte oposição no gabinete sobre a possível retratação e pedido de
desculpas. A ameaça do ministro de Relações Exteriores Avigdor Lieberman de se
retirar da coalização foi o suficiente para que Netanyahu retrocedesse e não assinasse
o acordo. Agora que Netanyahu comanda a maioria do Knesset, ele pode reavivar
o acordo anterior e pedir desculpas que Ancara tem exigido sem temer a saída de
Lieberman. A Turquia repetiu várias vezes que assim que o pedido de desculpa formal
for feito, o governo de Ancara retomará a relação diplomática total, inclusive com a
troca de embaixadores. Agora que Netanyahu está fortalecido, ele poderá efetuar essa
concessão, especialmente depois de seu consentimento ao teor original do documento
que continha o pedido formal de desculpas. Não existe um momento melhor do que
este.

Em vez de relembrar a tragédia, que ocorreu em águas internacionais, em seu segundo
aniversário Israel deveria reconsiderar sua posição ao atender as exigências da Turquia
e colocar o caso Marmara de lado, o que iria por um fim ao estranhamento entre os
dois ex-aliados. Os dois governos se beneficiam enormemente desta reaproximação
necessária. Israel se beneficiará muito com o fim do isolamento do mundo islâmico
e a Turquia, da mesma forma, reafirmará sua recente posição de decisão como poder
regional.

A morte de uma pessoa em qualquer tempo, em qualquer lugar e sob qualquer
circunstância é lamentável. Por que não expressar desculpas pelas vidas que foram
perdidas e seguir adiante? Isso não deve ser visto como sinal de fraqueza, mas como
força de convicção. Não seria uma vitória para a Turquia, mas uma vitória sobre o
espírito humano que transcende a hora e une os países. A hora é agora.