A divergência de opiniões causou a demissão de três
reverendos da cúpula da Catedral de Saint Paul. A Corporação da Cidade de Londres inicia a ação de despejo que pode levar meses.

A descrição favorita da imprensa sobre o movimento
Occupy” é “anticapitalista”, algo que nem sequer começa a descrever atos similares que
estão ocorrendo em vários locais ao redor do mundo. O limite moral da sociedade não
está perdido, mas vivo, bem e presente nos movimentos “Occupy”.

A recente divulgação de que os executivos das 100 maiores empresas britânicas, que
integram o índice FTSE, receberam em média aumento de 49%, cerca de 2,7 milhões
de libras, enquanto o resto da população recebeu 1-2% ou está sem emprego nenhum
e os ex-primeiros ministros como Thatcher e Blair reivindicam somas exorbitantes
do bolso público sem dar nada de útil em troca, só faz aumentar os motivos do
movimento “occupy”. A ridicularização escancarada da imprensa sobre as barracas
vazias e as preocupações com “saúde e segurança” apenas fortaleceram a decisão dos
manifestantes.

A Corporação da Cidade de Londres está realizando despejos dos acampamentos,
enquanto a Catedral de Saint Paul não chega a um consenso. Nos últimos dias, o pedido
de demissão de três reverendos, em resposta às críticas de vários grupos cristãos,
sacudiu o centro do marco histórico de Londres (e o papel da própria religião). Foi
mais ou menos assim: não seria responsabilidade da Igreja seguir o exemplo de Cristo e
expulsar os comerciantes ao invés de pessoas? Parece que Saint Paul foi um fabricante
de tendas. Alguns grupos cristãos se ofereceram para formar uma roda de oração ao
redor do campo caso a polícia. E têm ocorrido várias reuniões multiconfessionais
(várias religiões e ateus) na escadaria e momentos de meditação.

Será uma pena se as trapaças políticas e ameaças legais da Catedral e da Corporação
de Londres desviarem a proposta da ocupação de despertar a consciência sobre a
desigualdade do crescimento social e a concentração inescrupulosa do setor financeiro.
Entretanto, a ocupação em si e o fato de ser um fenômeno global parece manter o
tema aos olhos do público e, nos últimos dias, tem surgido alguns artigos sérios nos
principais meios de comunicação, repetindo as preocupações do movimento “Occupy”,
como o artigo de Polly Toynbee do The Guardian. Algumas críticas da imprensa beiram
o surreal, chamando os manifestantes de mendigos desempregados e condenando-os por
abandonarem suas tendas pela manhã para irem ao trabalho. Outras criticam o protesto
por não ser suficientemente violento.

O Daily Show ressaltou um ponto interessante. Algumas pessoas do acampamento
(naturalmente nem todas), estão na beira da excentricidade social. Talvez 1% da
população seja ativa, 1% que vive no topo é o alvo de protestos. O problema é que
os outros 98%, a parte mais “normal”, ainda estão em casa grudados na televisão,
muitos dos quais solidários ao movimento, mas ocupadíssimos até mesmo para visitar o
acampamento, ou até mesmo protestar de uma forma diferente, mais apropriada ao seu
estilo. O sistema nos mantém ocupado e, sendo assim, não temos tempo e energia para
tentar mudá-lo, mesmo que as evidências nos mostrem que ele não funciona.

Um dos efeitos colaterais inusitados, se não inesperados, da ocupação de Londres
é a investigação da estrutura do poder antidemocrático da Cidade de Londres,
completamente dominada pelas grandes corporações graças às leis anacrônicas e
questionáveis, conforme descritas por George Mombiot. Coincidentemente (?) também
veio à tona que o Príncipe Charles exerce um certo poder de veto sobre a legislação que
pode afetar os interesses financeiros:The Guardian. As investigações da corrupção e os
negócios escusos de evasão fiscal de ministros e governos (o grupo “UK Uncut” está
ameaçando entrar com uma ação contra a Goldman Sachs a esse respeito) são avisos de
que as falcatruas estão se desvelando e nós devemos nos preparar para mais escândalos
como os 76 bilhões de libras gastos em um sistema da New Trident (armas nucleares),
ao mesmo tempo em que se privatiza e se raciona o Serviço de Saúde.

Entretanto, o que mais se espera é que o ambiente dos acampamentos seja alegre,
otimista, criativo, espiritual, não violento e, embora alguns expressem sua raiva, a
maioria passa o seu tempo criando a base de uma sociedade nova e positiva.