Desde 2014, a pequena República das Ilhas Marshall decidiu lançar-se em perseguição das potências nucleares, acusadas de não respeitarem suas obrigações jurídicas de desarmamento.
Reside aí uma luta que poderia dar um forte incentivo à batalha para eliminação dos arsenais nucleares: uma bomba jurídica…

Quando a República das Ilhas Marshall decide partir em cruzada contra as armas nucleares, ela sabe do que está falando. Foi nesse arquipélago situado bem no meio do oceano Pacífico que, em 1º de Julho de 1946, os Estados Unidos realizaram um teste nuclear menos de um ano após os bombardeios atômicos das cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki (ocorridos, respectivamente, em 6 e 9 de Agosto de 1945). Foi o primeiro de uma larga série: 66 outros testes o seguiriam, feitos no ar, em navios-barcaça ou subterrâneos, e nos lamentavelmente famosos atóis de Bikini e Enewetak. A enxurrada só terminou em 22 de Julho de 1958. A energia total que foi consumida nesse período é equivalente a explosão de 1,7 bombas de Hiroshima detonadas diariamente por 12 anos!

Em 24 de Abril de 2014, as Ilhas Marshall decidiram reagir e depositar, por meio da palavra do ministro Tony de Brum, uma bomba – jurídica, nesse caso – perante a Corte Internacional de Justiça, em Haia. Fundada pelas Nações Unidas em Junho de 1945, sendo a mais alta jurisdição mundial, é a única com poder para intermediar disputas entre países. E a República das Ilhas Marshall, Estado minúsculo de 181 quilômetros quadrados e menos de 60.000 habitantes, sem exército, vai então representar o papel de Davi em face do gigante Golias, que são os Estados nucleares (Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido, China, Índia, Paquistão, Israel e, provavelmente, Coreia do Norte), que dispõem de forças militares e diplomáticas sem equivalente. Ela já recorreu a novos indiciamentos (recursos preliminares, até o momento). “Uma nação jamais deveria sofrer como nós sofremos’, declarou o ministro Tony de Brum referente a essa primeira apelação. É com base nos horrores vividos que as Ilhas Marshall exercem sua legitimidade em iniciar este processo longo e incerto, visto que o mundo já acumulou 15.850 armas nucleares: “Nós nos engajaremos a lutar para que mais nenhuma pessoa na Terra experiencie essas atrocidades”.

Para ler sobre a progressão dos acontecimentos, recomendo-lhes que os acompanhem no Le Monde Diplomatique, que veio a publicar meu artigo sobre esse projeto tão pouco conhecido na França.

 

Traduzido por Jaqueline Villagra Costa

Sobre o autor

Jean-Marie Collin é consultor em questões de defesa. Sua especialidade engloba a proliferação e dissuasão nuclear, tecnologias militares, transferência de armamentos e assuntos ambientais. Ele publicou inúmeros artigos para as Think tanks européias e americanas. Após ter escrito “La Bombe, l’Univers opaque du nucléaire” (Autrement, 2009) (“A Bomba, o opaco Universo nuclear”), publicou “Arrêtez la Bombe!” (Le Cherche Midi, 2013) (“Pare a Bomba!”). Ele é o diretor francês da organização Parlamentares pela Não-proliferação Nuclear e Desarmamento (PNND). http://alternatives-economiques.fr/blogs/collin/