por Bruno Lima Rocha | em 14 Abr 2016

Edgar Roquette-Pinto, um dos pioneiros da radiodifusão no Brasil, dizia: “o rádio é o jornal de quem não sabe ler e a escola de quem não foi à escola”. Estava certo em 1922 e ainda está. A mídia sonora, assim como o audiovisual de baixo custo, implicam na possibilidade de massificação tanto das mensagens como de todo o processo comunicativo. Através do rádio, com o suporte de plataformas de comunicação eletrônicas e redes sociais, as transmissões – hoje em frequência modulada, FM – podem colocar em sintonia todo um município, dando visibilidade para o que é tornado invisível ou pouco percebido no cotidiano das metrópoles.

Um exemplo do papel do rádio local, e em especial das emissoras com outorga de rádios comunitárias, é a cobertura municipal de acontecimentos e realizações. Como se costuma dizer: “até para xingar é preciso saber o nome da pessoa”. Como população, estamos expostos para a cobertura de mídia massiva, ainda comandada pela TV aberta e o rádio de informação, serviços e entretenimento (com as transmissões de futebol profissional como a programação mais importante). Nesta fórmula, os anunciantes são a parte mais importante e o público receptor – ouvintes ou telespectadores –, o produto a ser vendido para quem for pagar pela inserção publicitária. Assim, os proprietários dos veículos, tornam sob o controle privado o que era para ser uma concessão pública, usurpando o interesse coletivo.

Emissoras comunitárias com o devido suporte e apoio podem produzir um jornalismo de qualidade, resgatando a identidade dos locais, e fazendo a ponte entre as mazelas e carências dos municípios e a política nacional. Sem esta ponte, a população fica refém dos produtores de comunicação, sempre voltados para garantir uma audiência cada vez maior – e ao mesmo tempo mais disputada. Para atingir o “bastantão”, o produto comunicacional deve variar o menos possível, e em se tratando de jornalismo, incomodar apenas quando os interesses dos proprietários das emissoras ou seus aliados estratégicos – como os grandes anunciantes – se verem atingidos.

Uma estrutura de jornalismo com controle coletivo, onde a reportagem tenha princípios ideológicos explícitos, mas que aceite e trabalhe com o contraditório e não tenha medo de expor os problemas reais, sem hipotecar a verdade dos fatos pelos acórdãos políticos é uma necessidade para radicalizarmos a democracia e aumentar o poder do povo diante do inimigo dominador. Para tal, a participação em rádios comunitárias é essencial.

Bruno Lima Rocha – Professor de ciência política, relações internacionais e jornalista (estrategiaeanaliseblog.wordpress.com)

Fonte: Jornalismo B

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