Quarta colocada no primeiro turno não declarará seu voto para não ‘desequilibrar balança’ do partido. Para Luciana, aproximação de Marina Silva com tucano era previsível: ‘É segunda via do PSDB’

por Redação RBA

 

São Paulo – A candidata do Psol à Presidência da República, Luciana Genro, explicou hoje (8) à RBA o conteúdo da nota publicada pelo partido em que não recomenda voto em Aécio Neves (PSDB) ao mesmo tempo em que afirma que Dilma Rousseff (PT) não representa os ideias da sigla. “O Psol está se mantendo neutro a partir da negação de Aécio”, disse Luciana, que obteve 1,612 milhão de votos – 1,55% dos votos válidos – no primeiro turno. “A gente está liberando os militantes entre o voto nulo, branco e voto na Dilma.”

Ao contrário de algumas lideranças do Psol, como o deputado estadual Marcelo Freixo, do Rio de Janeiro, a ex-presidenciável não pretende revelar quais teclas apertará no dia 26. “Não vou votar no Aécio, claro, mas não quero revelar meu voto pra não romper o equilíbrio e mexer com sensibilidades dentro do partido”, explica. “Como fui candidata do Psol à Presidência da República e, de alguma maneira, simbolizo o partido, se me posiciono, posso pender essa balança.”

Para Luciana, o resultado das eleições legislativas foram desfavoráveis para os movimentos sociais. Mas ela discorda que houve uma grande deterioração do cenário parlamentar. “Está um pouco pior, claro, mas já era ruim”, avalia, apostando na mobilização social para avançar em pautas defendidas pelo Psol, como criminalização da homofobia ou taxação das grandes fortunas.

“Como deputada federal, em oito anos, vi que a correlação de forças na Câmara muda conforme a pressão popular. Precisamos avançar na articulação com a sociedade.” Na entrevista, Luciana comemorou os resultados obtidos pelo Psol, que passará a contar com cinco parlamentares na Câmara e outros 12 nas assembleias legislativas estaduais. E disse que ficaria “surpresa” se Dilma fizesse alguma sinalização aos movimentos sociais no segundo turno ou num eventual segundo mandato.

O Psol não recomenda o voto em Aécio. Recomenda em Dilma?

A gente está liberando os militantes entre o voto nulo, branco e voto na Dilma. A gente veta para os militantes, porque os eleitores são livres pra fazer o que quiserem, o voto no Aécio. Aécio é retrocesso ao neoliberalismo puro, à privataria tucana. Ao mesmo tempo, Dilma também não nos representa. As propostas que defendi durante a campanha, como a taxação de grandes fortunas, auditoria da dívida e os direitos da população LGBT, Dilma e PT estão de costas para essas bandeiras. Não seria coerente de nossa parte alinhar o partido com a Dilma. Mas a gente compreende que haja militantes que queiram fazer o voto no menos pior. Por isso, liberamos essa possibilidade.

Em quem você vai votar no segundo turno?

Não vou abrir meu voto, porque fui candidata do Psol à Presidência da República e de alguma maneira simbolizo o partido. Não vou votar no Aécio, claro, mas não vou revelar meu voto pra não romper o equilíbrio e mexer com sensibilidades dentro do partido. Se me posiciono, posso pender essa balança. Não acho grave o voto na Dilma. Se não, teria defendido o voto nulo. O voto na Dilma está dentro do que o Psol aceita dentro de suas resoluções.

Acho que não é recomendável que as lideranças do Psol declarem seus votos. Foi aprovado na executiva uma recomendação aos dirigentes e às figuras públicas do Psol para que não apareçam em programas de TV. Temos figuras simbólicas do partido que, ao aparecerem, podem passar a ideia de que o Psol está apoiando um candidato, quando o partido está se mantendo neutro a partir da negação de Aécio.

Você espera que Dilma faça acenos para os movimentos sociais no segundo turno ou num eventual segundo mandato?

Não tenho nenhuma expectativa de que o PT vá manifestar apoio às nossas bandeiras depois de 12 anos governando de costas pra ela. Ainda mais agora, após ter sido capturado por setores reacionários. Não tenho nenhuma expectativa, mas ficaria feliz em ser surpreendida…

Como você recebeu os resultados eleitorais para o Congresso?

A situação parlamentar continua ruim. Não há uma piora tão significativa. Está um pouco pior, claro, mas já era ruim. Os avanços que propomos só vão se realizar com pressão externa. Como deputada federal, em oito anos, vi que a correlação da Câmara muda conforme a pressão popular. Precisamos avançar na articulação com a sociedade. Na questão da homofobia, já temos apoio da maioria.

À medida que o movimento LGBT ganhe mais corpo e organização, e faça mais pressão sobre o Congresso, esse é um tema que tem possibilidade de avançar. Mais que outros, como a regulamentação da maconha e a descriminalização do aborto. A taxação das grandes fortunas, por exemplo, se houvesse plebiscito, certamente venceria, porque é um assunto que atinge apenas 0,01% da população.

Daí tem um problema, porque não existe um movimento social organizado que encampe essa bandeira e pressione o Congresso. O Psol quer ser parte da organização da indignação do povo brasileiro. A indignação de junho de 2013 voltou a um estado de latência, é verdade, mas continua presente. É preciso organizá-la.

Como você enxerga a aproximação de Marina Silva com Aécio Neves?

Do ponto de vista do programa econômico que ela defendeu, era bastante previsível esse flerte com Aécio Neves. Durante a campanha, cheguei a defini-la como a “segunda via do PSDB”, porque seu programa econômico estava bem afinado com os tucanos, inclusive com economistas tucanos. É claro que seu eventual apoio a Aécio está em contradição com sua trajetória política, ligada aos movimentos sociais e ao PT, e principalmente em contradição com a nova política que ela diz defender. A aliança com Aécio desmascara qualquer possibilidade de que Marina esteja construindo uma nova política na medida em que está se vinculando ao que há de mais velho na política, que é o PSDB.