BRASILIA CONGRESSO NACIONAL

Congresso Nacional – Junho/2013

Muita gente anda se perguntando o que aconteceu com as chamadas Jornadas de Junho no Brasil depois do resultado do primeiro turno das eleições gerais de outubro. Nas chamadas Jornadas, milhões de pessoas foram às ruas em 2013 protestando por uma diversidade de direitos. Transporte, Saúde, Educação, Justiça, todos direitos precariamente garantidos no Brasil, com muito mais vigência no papel do que no vida real das pessoas comuns, os 99%. Aí vieram as eleiçoes em 05/10/2014 e os analistas tentam relacionar os dois fatos. De nossa parte, também tentaremos fazer uma outra análise, focando o processo e a história humana, “trágica e desconcertante mas sempre avançando(1)”, por mais que às vezes isso pareça invisível.

 

Mesmo sendo recente, muitas características das Jornadas são forçadamente esquecidas, procura-se ocultar o novo que sempre luta pra superar o velho. E o velho que degrada ou descarta o novo. Relembramos alguns aspectos, que destacamos em outro artigo (2).

 

1- As Jornadas de Junho tiveram um caráter anti-institucional, sem líderes e representantes. Foram marcadamente impulsionadas por jovens (a maioria abaixo dos 29 anos, o que se considera juventude nestas longitudes). A forma horizontal, descentralizada, não violenta, de se organizar e se manifestar pela primeira vez tomou um corpo massivo, chegou às multidões.

 

2- As Jornadas de Junho, expressam uma nova sensibilidade mundial, que começou a se manifestar com força no final de 2010 e vem percorrendo países e regiões em todo o planeta.

 

3- As JJ não são uma manifestação anti-governo, são contra a ordem estabelecida, o status quo, a forma como os 1% organiza o sistema em cada país ou região. Não é contra um ditador, mas contra a ditadura, não é contra um governante, mas contra a forma de governar. É algo mais profundo que capta as contradições do sistema.

 

4- Neste sentido, as bandeiras mais comuns são a negação da violência por meio da não violência ativa e a Democracia Real (ou simplesmente mais democracia). Se num país se vive sob ditadura, as sensibilidade procura democracia. Se, por outro lado, num outro país já há democracia Formal, a expressão é por Democracia Real.

 

Afinal, como tudo isso se relaciona com as eleições gerais de 05/10?

 

Analisando rapidamente as eleições, o resultado geral repetiu o resultado das eleições gerais anteriores, de 2010. Os três candidatos mais votados somaram mais de 95% dos votos. Duas mulheres se apresentaram nas duas eleições, Dilma (PT) e Marina(PSB) e o segundo colocado é a cara “nova” de um partido velho (PSDB) que governou o Brasil recentemente, de 95 a 2002. A candidatura mais à esquerda e mais conectada com as Jornadas dobrou o número de votos (PSOL) (3).

 

O fato é que as Jornadas, como dissemos, não procuravam representantes. Por que pensar que mudariam as eleições?  Os candidatos que tiveram o grosso da mídia e do dinheiro pra campanha nunca defenderam uma outra forma de governo, não defenderam a Democracia Direta, são candidaturas do sistema (ainda que tenham profundas diferenças na atenção básica à população). Assim, a principal bandeira da Democracia Direta só foi defendida por pouquíssimos candidatos a deputados, a destacar a candidatura humanista(4), que com espaço e recursos quase nulos também ficou com o mesmo número de votos da eleição anterior.

 

Vale lembrar a experiência recente do Egito, que sacudiu a ditadura vigente, deu espaço a uma mudança de ordem social que ia para pior e finalmente elegeu um general neste momento. Ou a Espanha que a princípio elegeu os mais conservadores e recentemente gerou uma alternativa (Podemos) que vem crescendo, ainda que não seja impossível prever, em ambos os casos, o que virá depois. Parece que o tempo das personalidade fortes está chegando ao fim.

 

O certo é que há um clamor por mudança social na forma de participação efetiva das populações e também nos costumes (comd estaque para a não discriminação) além, é claro, da necessidade constante de uma melhor situação econômica.

 

No Brasil, as forças conservadores aparentemente ganharam espaço por elegerem mais representantes especialmente no Legislativo. No entanto, isso mesmo é um sintoma do que aconteceu em Junho. Os conservadores vão percebendo que a população quer outra coisa e jogam com o medo de mudanças conquistando uma vitória efêmera.

 

Mas o processo humano não é uma soma de “instantes em tempo real”, é algo mais profundo e já está em marcha nos corações e mentes, que vão muito além do institucional, vertical, falso e inacessível. Este terminará como um corpo sem alma, envelhecendo rapidamente enquanto o novo amadurece para tomar fora o lugar que ocupa no interior da gente.

Notas:

1- palavras de Silo na  conferência realizada em 4 de janeiro de 1998, no Estádio Obras Sanitárias, Buenos Aires, Argentina (conheça suas Obras Completas disponíveis aqui)

2- Veja neste artigo

3- As siglas dos partidos políticos: PT é o Partido dos Trabalhadores; PSB, Partido Socialista Brasileiro; PSDB, Partido da Social Democracia Brasileira e PSOL, Partido Socialismo e Liberdade

4- os Humanistas lançaram candidato a deputado estadual em São Paulo, por filiação democratica no PSOL