Bagdá, 15 ago (Prensa Latina) O acordo entre os xiitas Nouri Al-Maliki e Haidar Al-Abadi reduziu tensões no espectro político do Iraque, onde a ofensiva islâmica sunita e o crescente envolvimento militar estrangeiro mantêm aberto hoje outro flanco de preocupação.

Al-Maliki anunciou em uma aparição televisiva seu apoio a Al-Abadi, membro de sua própria coalizão Aliança Nacional (AN) e designado premiê pelo presidente Fouad Masum, com o qual encerrou uma semana de atritos entre setores xiitas e ameaças de desestabilização.

“Hoje anuncio para vocês … (que) para facilitar o progresso do processo político e a formação do novo governo retiro minha candidatura a favor do irmão doutor Haidar Al-Abadi”, expressou Al-Maliki diante das câmeras, acompanhado de seu sucessor.

Fontes da AN confirmaram, também, que o chefe de governo que se retirará e líder da coalizão Estado de Direito (Al-Dawa) retirou a denúncia apresentada à Corte Suprema Federal contra o presidente Masum por alegada violação da Constituição.

O já ex-presidente se reuniu ontem à noite com Al-Abadi depois da pressão de círculos políticos internos e inclusive de alguns governos estrangeiros que Bagdá considera amigos, além de um pronunciamento feito pelo Grande Ayatolah Ali Al-Sistani, máxima autoridade do Islã xiita iraquiano.

Este encontro teve como mediadores o vice-presidente xiita Khodair Al-Khuzai e o chefe da AN, Ibrahim al-Jaafari, bem como o líder do partido Al-Dawa, Khalaf Abdul Samad, mas são ignorados detalhes do que Maliki receberá em troca de renunciar ao cargo.

Os oito anos de governo do premiê renunciante, que assumiu em 2006 com o apoio das tropas de ocupação de Estados Unidos, foram encerrados com um país submerso no caos e na violência pela ofensiva do Estado Islâmico (EI), intensificada nos últimos dois meses.

De fato, Al-Sistani justificou o pedido de que Al-Maliki renunciasse com o argumento de que o Iraque precisa de uma figura política conciliadora capaz de fazer convergir em um projeto nacional que inclua todos os grupos étnicos e religiosos.

Os extremistas sunitas do DAESH, acrônimo árabe do EI, criticaram o governo de Bagdá por aplicar políticas sectárias e discriminatórias dessa comunidade muçulmana para favorecer os xiitas, enquanto que os curdos também apontam contradições por causa do controle do petróleo.

Segundo o chefe do bloco Al-Mowatin na província de Karbala, Zuhair Abu Dagga, a formação do novo gabinete pela Al-Abadi é “o verdadeiro começo para solucionar todas as crises sofridas pelo país”.

Enquanto isso, a aviação estadunidense intensificou os bombardeios contra os combatentes do DAESH na Montanha de Sinjar, onde estavam sitiados membros da minoria religiosa Yazidi, ao mesmo tempo em que estendeu as incursões a Erbil, a capital do Curdistão, com o pretexto de proteger seus funcionários militares.